Ação judicial da coligação de Bolsonaro visando anular os votos de 40% das urnas e declará-lo eleito é o coroamento de manifestações aparentemente ingênuas, tresloucadas e inócuas. Urge ao povo ocupar as ruas ou o golpe se tornará uma cruel realidade.


Diante da representação apresentada ao TSE hoje alegando sérios problemas em 40% das urnas utilizadas no segundo turno das eleições presidenciais (ver notícia clicando no link aqui), cujo caráter tecnológico pretensamente antiquado comprometeria a fidedigna expressão da vontade do eleitorado, se torna explícito que o golpismo verbal dos bolsonaristas pós-30 de outubro não é mera reina furibunda sem maiores consequências. Nem o profundo silêncio de seu mito mentecapto.

O golpe está a caminho. Estruturado juridicamente e não apenas alicerçado nas manifestações do que parece, aos olhos ingênuos da maioria, um rebanho demente de fanáticos folclóricos e tresloucados.

Começaram trancando rodovias. Não houve a devida reação legal das autoridades responsáveis.

A seguir foram para a frente dos quartéis bradar e desfilar Brasil afora. O caráter histérico e estrambótico dos protestos bolsonazistas que pregavam de forma escancarada (em flagrante delito de crimes qualificados no próprio Código Penal) o rompimento da ordem jurídica constitucional e democrático não sofreu sequer a reprimenda de de um mero boletim de ocorrência e a reação da maioria dos militantes populares foi de riso e desconsideração diante do que se considerava apenas um bando de fascistas inconsequentes, cuja manifestações hidrofóbas se dissipariam no cansaço do tempo sem maiores repercussões.

A maior parte das organizações partidárias de esquerda e organizações da classe trabalhadora, tranquilizadas pela ideia de que não há clima institucional para qualquer golpe, mantiveram-se silentes, crentes que qualquer reação pública à altura das ações golpistas poderia dar pretexto a um clima de exasperação almejado pelas provocações bolsonaristas e o melhor remédio contra elas seria a indiferença.

Somente alguns poucos movimentos e organizações sindicais e partidárias populares, cientes de que não se trata de mero “mi-mi-mi” de perdedores inconformados e inofensivos, saíram às ruas para protestar contra a incitação expressa ao golpe militar manifestada (e exigir a revogação das reformas trabalhista e previdenciária que foram o principal objetivo da derrubada de Dilma, a prisão de Lula e o apoio à eleição de Bolsonaro), como as mil pessoas que marcharam na Borges de Medeiros, na tardinha de quinta-feira passada em Porto Alegre.

E agora, hoje, depois de semanas de silêncio do líder mentecapto, e muito barulho de seus adeptos, temos o coroamento do que se julgava um mero desabafo tresloucado de perdedores surtados. A contestação à eleição de Lula, e à retomada do processos democrático no Brasil, toma as cores concretas e perigosas de uma representação jurídica perante o Tribunal Superior Eleitoral, visando, com argumentos técnicos duvidosos, anular o resultado de 40% das urnas utilizados e reconhecer a pretensa vitória da candidatura do nazista genocida Jair Bolsonaro à Presidência da República.

Ainda que seja rechaçada pelo TSE e pela suprema corte de justiça do país, a ação e seus argumentos servirão de pretexto não só para os protestos aparentemente inócuos, que já incluíram a tentativa malograda de uma greve geral de patrões, mas para eventuais ações de força concretas do aparato militar, que estariam sendo tramadas a boca pequena nas casernas, segundo membro do Tribunal de Contas da União, conforme áudio vazado nesta semana, e recebido sem a devida importância.

Se não houver a devida ação necessária do judiciário, com a prisão e processamento de todos envolvidos nas manifestações pró-golpe, na forma legal, estará se incrementado de forma perigosa, e talvez inevitável, o desfecho de uma quartelada, eventualmente apoiada por setores do grande capital, que começa a inquietar-se no setor da especulação financeira e acionária, assustado com meras declarações do presidente eleito a respeito da prioridade das necessidades sociais do povo brasileiro frente à austeridade tacanha da “responsabilidade fiscal”.

Mas não podemos esperar pela mera reação institucional das autoridades. Mais do que nunca se faz necessário que a massa trabalhadora, a que sustenta os privilégios inomináveis dos patrões das altas cúpulas, e faz andar o Brasil, ocupe as ruas para evitar o golpe e dar sustentação ao novo governo (inclusive exigir deste o mínimo de compromisso com as multidões que tiveram retirados na marra seus direitos trabalhistas e previdenciários pelo processo golpista inaugurado em 2016).

Ou poderemos assistir até o fim do ano, calados e estupefatos, a inviabilização da posse de Lula ou uma solução de compromisso e “pacificação” similar a que tentou manietar Jango em setembro de 1961, quando o Movimento da Legalidade tornou inviável o golpe contra sua posse, instaurando um parlamentarismo falcatrua e de ocasião, somente derrotado por um plebiscito popular, em janeiro de 1963. Que não evitou, um ano e dois meses depois, a deposição do último governo efetivamente comprometido com as reformas necessárias à garantia da dignidade popular e a defesa do Brasil contra a espoliação internacional, por um golpe (admirado pelo capitão Jair) que, instalando a mais cruenta ditadura fascista e anti-nacional, nos legou o Brasil da miséria e violência generalizada que ainda hoje vivemos.

Ubirajara Passos

Toby e os prisioneiros


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Esta foto emblemática foi feitas às cegas (o reflexo do sol sobre a tela da câmera digital precária não permitia visualizar nada), às 15 h 33 min de um velho domingo, em 6 de fevereiro de 2011, na subida à direita após a esquina da rua Ibirapuitã com a Av. Dorival de Oliveira em Gravataí, quando retornávamos (eu e seu protagonista) da casa que herdei de meu pai (morto em novembro de 2010), e que venderia em fevereiro de 2013.

Filho do Dodó (o cachorro mais antigo da família, que aparece junto ao Bernardinho em retrato na matéria Bernardinho (o contestador galã de quatro patas) e eu”, identificado na legenda como “Totó”, doado quando nos mudávamos da casa da Rua Barbosa Filho, no outro lado da quadra onde foi tirada a foto, para a Rua Maringá, na Vila Natal), este ilustre exemplar da malandragem quadrúpede excedeu em muito à irreverência do parceiro canino de seu pai, bem como à rebeldia indômita deste, que (tendo sido sequestrado e mantido preso por uns vizinhos da pá virada, quando morávamos na Rua Jorge Amado, em frente à Ferragem Gaúcha, na Vila Santa Cruz, só foi libertado após nos mudarmos, em fevereiro de 2009) não se deixava prender por cercado nem cancela de qualquer altura ou espécie, além de possuir a mania de trazer suas eventuais namoradas cadelas para  casa, umas delas a Rosquinha, de cuja ninhada nasceu a Branquinha, mãe falecida do nosso cachorro mais velho, atualmente, o Maique.

Me seguia por todo lado, como o faziam os outros dois, e se divertia tremendamente quando cruzávamos, todo dia, a esquina das ruas Nestor de Moura Jardim e Alfredo Emílio Allen, já próximos do Foro, e era “saudado” aos latidos  mais histéricos por uma trupe de uns seis cachorrinhos alvoroçados com a sua presença.

De bela e chamativa estampa, e “charme” irresistível, o rabo a balançar constantemente, numa vivacidade incrível, chegou ao ponto de um dia entrar comigo em plena Padaria (a Miolo do Pão, na Rua Otávio Schemes, próximo da Avenida Dorival de Oliveira), e, ao invés de ser corrido como se esperaria, foi abraçado, acarinhado e apreciado por praticamente todas as gatinhas que atendiam no balcão, entusiasmadas com o “alegre, fofo e lindo cãozinho!”  Pena que nenhuma delas lembrou-se de solicitar ao seu acompanhante humano o número do celular do bicho…

Mas, voltando-se ao assunto desta crônica, a foto que a encabeça, nela O nosso cachorro travesso da época, o Toby, parece gozar esplendidamente seus parceiros de espécie, abichornados atrás das grades do portão! “ (publicação minha no Facebook em 10 de agosto de 2017).

E, literalmente, ilustra, de forma perfeita e acabada, o paradoxo em  que se encontra a humanidade inteira nos seus últimos seis mil anos de existência sobre a face do Planeta Terra.

Encarcerada na pior das prisões, aquela que conta com a participação voluntária e inamovível do próprio prisioneiro, a enorme maioria da espécie se aferra ao sofrimento e desprazer de suas vidas limitadas e oprimidas, como se fossem a própria essência da vida, mirando, de olhos murchos, desconfiados (muito raramente invejosos), e mesmo enraivecidos, os que conseguem escapar à prisão da redução à coisa em nome do prazer alheio abastardado, e usufruir da força vital de expansão e busca do prazer e conforto biológico e mental genuíno de que nos dotou a própria natureza.

E, mesmo se instados, com toda a argumentação racional possível, a romper as grades da cadeia e passar para o lado de cá (o da liberdade, da alegria e busca do movimento, do bem estar digno e vital), as forças internas que os mantém no cárcere são tão intensas que a única reação possível, diante do choque da vitalidade simples e autônoma (exposto como chicoteada à sua face abobalhada), destes corpos vivos transformados em verdadeiros autômatos (ferramentas de carne e osso, apegadas ao trabalho compulsório e às regras limitadoras, sufocantes e geradoras de sofrimento) é a rejeição e, pior ainda, a fiscalização, delação, perseguição e condenação daqueles que tiveram a capacidade e a coragem de romper a biopatia generalizada que envolve nosso mundo desde que meia dúzia de arrogantes metidos a valente impuseram-se, pela força de suas imprecações perante a grande massa, como pretensos amos e senhores da sociedade, organizando , empesteando  e deformando a vida de todos os demais em prol de seus apetites!

Não há tratado, palestra, documentário ou descrição de qualquer natureza capaz de descrever, com a minúcia implícita e viva da fotografia, os matizes da peste emocional, a ossificação dos corpos e emoções que nos habitam desde que o velho patriarcalismo (o domínio do senhor macho “pai” de todos, com poder de vida e morte,  sobre todos os aspectos da vida de seus “familiares”, escravos de mesa e cama, do campo, comprados, capturados ou gerados de seu próprio corpo) nos impôs a disciplina inquestionável e obrigatória, regrando nosso comportamento, e nossos próprios pensamentos e emoções, segundo suas necessidades e perversos apetites.

Aí nasceram todos os tabus e proibições, muitos deles transformados em leis divinas, portanto irrefutáveis e imperativas, pela própria ideologia dominante do Ocidente (o cristianismo), a qualificar e punir como crime imperdoáveis o simples exercício da liberdade, a busca do gozo, do prazer e do bem estar de corpos e mentes na satisfação das mais comezinhas necessidades biológicas e mentais próprias da condição de ser vivo, como o paladar, o sexo, o descanso e o repouso necessários, a liberdade de pensamento e atitude individual etc., enquadrados nos 7 pecados capitais.

E desta teia de imposições, proibições e punições se construíram todas as sociedades posteriores, em que as classes dominantes vem exercendo o velho papel do patriarca, em prol de seus privilégios (que são a versão sádica e impositiva dos “prazeres perversos” proibidos aos peões relegados à vida de sofrimento), contando para tanto com a colaboração da maioria infectada de sua ideologia, que se alimenta da própria raiva em que se transforma a força vital básica ao tentar se expressar num organismo coberto por camadas de rígida couraça imobilizante.

Os cães visivelmente contrafeitos que estão atrás da grade observando o Toby, com ar estupefato, frustrado, até mesmo curioso por achar o caminho da fuga, ou ameaçador, poderiam unir-se e derrubá-la, mas as correntes que os mantêm acomodados são tão fortes, tão bem enterradas no profundo de seus seres, que continuam prisioneiros e se lhes fosse dada a oportunidade da fuga, pela abertura do portão que os retém, permaneceriam no seu interior, ou, em saindo, ao invés de gozar da liberdade, simplesmente saltariam sobre o cachorrinho livre e alegre e o trucidariam a mordidas e patadas, por não suportar a visão da liberdade!

Ubirajara Passos

Julgamento do habeas corpus de Lula assanha a direita e escancara o caráter ditatorial do regime vigente


As declarações do comandante do Exército, General Eduardo Villas Boas, publicadas mo twiter ás vésperas do julgamento do habeas corpus de Lula no Supremo Tribunal Federal, por mais que o Ministro da Defesa tente amenizá-las e (em flagrante contradição com o seu teor) negar a sua natureza intervencionista, não deixam dúvidas.

A afirmação (“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”), ao partir do comandante supremo de uma das três forças armadas, responsável pela integridade do território nacional e manutenção da ordem constitucional, pelo uso da força (cujo monopólio estatal é a garantia do poder político), é bastante grave. E passa muito longe do simples exercício da opinião por qualquer cidadão comum brasileiro, ainda mais quando repercute com apoios explícitos de generais da ativa (o general Paulo Chagas comentou explicitamente: “Caro Comandante, Amigo e líder receba a minha respeitosa e emocionada continência. Tenho a espada ao lado, a sela equipada, o cavalo trabalhado e aguardo suas ordens!!”).

Fica bem claro no conteúdo da mensagem a intenção de “vigilância” do Exército sobre o resultado do julgamento, que, se favorável a Lula, estaria consagrando a “impunidade” na “opinião” do general, bem como a velha e absurda presunção dos militares brasileiros em julgaram-se árbitros da ordem constitucional, acima de tudo e de todos, com poderes para alterar à força os rumos políticos do país, como se o artigo primeiro da Constituição da República possuísse um parágrafo único, secreto (como os decretos de falcatrua e arbítrio da pretérita ditadura admirada pelo Jairzinho Capitão do Mato e seus miquinhos amestrados dos MBLs da vida), que excetuasse a soberania popular, fonte originária e suprema do Estado, na ordem legal formal, em prol dos “pais maiores tutelares da nação, de uniforme camuflado e espada na cintura”, consagrando um poder que ninguém nem nada lhes atribuiu.

A conclusão lógica direta é que parece haver sim a intenção (nada velada) de intimidar a Suprema Corte de Justiça para garantir a prisão e o afastamento do jogo eleitoral justamente do candidato a Presidente da República mais cotado pelas pesquisas!

Não nutro a menor simpatia pelo Inácio, já publiquei neste blog as maiores críticas ao seu governo e à Dilma,  desde 2006, mas a verdade pura e simples é que cada dia fica mais claro que o golpe paraguaio que a depôs, num impeachment falcatrua, não foi nenhuma brincadeirinha e que a quadrilha de usurpadores (que governa contra a vontade da grande maioria, tal é a rejeição popular do Michelzinho, e sem prestar contas a  ninguém, sequer se preocupando em disfarçar sua natureza explicitamente corrupta) NÃO PERMITIRÁ QUE LULA, NEM QUALQUER CANDIDATO CONTRÁRIO ÀS REFORMAS ESCRAVISTAS PARA CUJA CONSECUÇÃO FOI DADO O GOLPE (com a revogação da CLT, já feita, e a extinção prática da aposentadoria pretendida) SE ELEJAM E DESFAÇAM A SACANAGEM SOCIAL PERPETRADA PELA ATUAL DITADURA, SERVIL AOS INTERESSES ESCRAVISTAS CADA VEZ MAIS ÁVIDOS DO GRANDE CAPITAL INTERNACIONAL!

Se ainda vivemos num ambiente de relativa liberdade de expressão e militância (apesar das execuções cada vez mais explícitas, como no recente caso da vereadora carioca do PSOL, Marielli Franco), no momento em que se tornar inviável a manutenção do programa ditatorial neo-liberal de Michelzinho e seus comparsas sem o uso explícito da força e o fechamento concreto do regime político, ninguém tenha dúvidas, agora, de que a “intervenção militar” (leia-se o GOLPE) não se limitará à ação acanhada (mas mesmo assim, violenta e abstrusa) nas favelas cariocas, em nome da crise da segurança pública.  E os tanques estarão na rua, secundados pelos fanáticos da nova extrema direita, prontos para esmagar a ação e a própria opinião de quem quer que tenha o desplante de exigir um mínimo de dignidade para  a sofrida massa de trabalhadores brasileiros, definitivamente alijada de quaisquer direitos legais com a verdadeira revogação da lei áurea praticada na reforma escravista das leis trabalhistas no ano passado.

Neste cenário, as eleições de outubro, ainda que se realizem, são mera formalidade, cujo resultado ninguém poderá garantir venha ser respeitado, caso contrarie a minoria apaniguada do país, ou os próprios interesses financeiras da quadrilha governante, depois do golpe parlamentar de 2016, cujo caráter ditatorial torna-se cada vez mais explícito.

O impasse é tal que somente a Revolução popular e libertária, forjada na vontade e na consciência dos que sustentam, com enorme sacrifício e nenhuma recompensa, os privilégios da  classe dominante e seus lacaios políticos, poderá nos conduzir a outro caminho que não o da perpetuação, mediante o arbítrio mais ominoso, deste sacrifício por outras tantas décadas quanto aquelas decorridas desde o golpe de 1964.

Ubirajara Passos

 

 

 

 

Agourento 2014, tende piedade de nós! dez 31


Conforme a nossa vida vai avançando, a morte vai se tornando mais e mais nossa parceira.

Não apenas pelo fato de nos aproximarmos crescentemente dela, enquanto decrescem os anos que nos restam, numa equação em que pouco importa o valor inicial do termo (o número de anos da vida), variável a cada instante – conforme nossas decisões e atitudes – e em que a razão da progressão pode aumentar ou diminuir a vontade, mas cujo termo final é uma constante absoluta, fria e terrível, por mais complexas que sejam as expressões intermediárias entre o início e o final, que é sempre igual a zero.

Mas, pela simples consequência matemática e biológica dos fatos, é verdade estabelecida que é possível medir intuitivamente o quanto estamos “ficando velhos” pela proporção de parentes, amigos ou conhecidos que vemos partir a cada ano, que naturalmente vai aumentando até que chega o dia em que nos vemos quase que completamente solitários no mundo, em que já não resta muita gente, além de nós próprios, que se lembre mesmo daquela célebre atriz de Hollywood, gostosíssima, de olhos eloquentes e nariz estranho (e, por isto mesmo, chamativo e sensual).

A oito meses de completar meu primeiro meio século (que espero realizar, apesar do trago e da mania de me desgastar lutando contra este nosso mundinho opressivo e infelicitante, o sonho do meu avô – e de 99,99% da espécie humana – de atingir pelo menos cem anos), não estou exatamente no caso extremo, mas, assim como todo mundo que conheço, nunca vi um ano tão absurdo, com tantas mortes de celebridades, ou mesmo de pessoas próximas, no espaço de um único giro da Terra ao redor do Sol.

Algumas, previsíveis, são daquelas que apenas confirmam que estamos, inapelavelmente, nos aproximando da velhice e que (contra a maldita convicção de nossa mente, que é desementida a cada manhã, sem muito resultado, pelo espelho) aqueles personagens quotidianos que nos pareciam eternos já estão necessariamente no momento de partir.

Foi o caso da Shirley Temple (a eterna garotinha prodígio), da Virgínia Lane (e a eterna beleza das pernas mais belas do Brasil), Marelene (a eterna Rainha do Rádio) e de Gabriel García Marquez (autor de livros eternos, como Cem Anos de Solidão e O Amor no Tempos do Cólera). Além do poeta Manoel de Barros, da atriz Lauren Bacall,  o escritor Rubem Alves; Max Nunes, Marcelo Alencar, Antônio Ermírio de Moraes, Adib Jatene e  Mãe Dinah (que não tinha a menor previsão a respeito de seu passamento).

Outras já, embora possíveis, nos surpreenderam e chocaram, como foi o caso de Ariano Suassuna e Hugo Carvana.

Mas quando se foram, sem mais nem menos, figuras como José Wilker,  Jair Rodrigues, Nelson Ned, João Ubaldo Ribeiro, Robin Willians, Eduardo Campos (que tinha minha idade – sendo a mais badalada morte do ano), começamos a nos preocupar seriamente e chegamos à conclusão que, ainda que as estatísticas possam apontar para um certo padrão de mortes anuais de famosos, dentro dos quais os falecimentos citados estariam incluídos, nunca se viu, um mês após o outro, tantas mortes relevantes em tão pouco tempo.

Quando morreu Nico Nicolaiewsky, no início de fevereiro, li  a dolorida entrevista de seu parceiro na vintenária comédia Tangos e Tragédias, Hique Gomez, e fiquei imaginado como seria a minha vida política, literária e pessoal sem a presença do meu irmão gêmeo de ideias, lutas, trago e atitudes, o companheiro Valdir Bergmann.  Mas jamais imaginei que ele viria a compor o mais doloroso e irremediável item das mortes imprevistas e absurdas deste ano apoliptico, morrendo de uma pancreatite aguda dois dias antes de completar seus jovens 57 anos.

Só que a coisa não parou por aí e já havíamos nos convencido de que 2014,  embora não tenha testemunhado a deflagração de nenhuma guerra mundial como seu irmão do século passado, era um ceifador cruel e inveterado de almas, quando velhos amigos de minha família, e meus, com presença importante em pontos capitais da minha biografia, como Juarez Vargas e o colega Adroaldo Rocha, morto tragicamente em acidente automobilístico, praticamente às vésperas das festas de final de ano, foram-se também.

Assim é que chegamos ao último dia de 2014 erguendo as mãos por ainda estarmos aqui  o esconjurando e nos ajoelhando e erguendo as mãos perante tão nefasta entidade para pedir: “Agourento 2014, tende piedade de nós!”

Ubirajara Passos

O Milenarismo Revolucionário no Almanaque do Pensamento


Há cerca de um ano publiquei extensa matéria neste blog, sobre a mudança de paradigma ideológico do quase secular Almanaque do Pensamento, nas previsões astrológicas gerais para o Mundo e o Brasil no ano de 2010. Referi mesmo o imenso entusiasmo que me tomou, e ao alemão Valdir, com as profecias de revirada revolucionária socialista e libertária gerais que haveriam de sacudir o planeta.

E, com exceção da revolta popular anarquista que tomou as ruas da Grécia, e entusiasmando o país e sacudindo as mentes sobressaltadas da burguesia imperialista européia, acabamos por nos decepcionar com os prognósticos, que ou não se realizaram ou ficaram aquém do esperado.

No nosso caso particular, e do Movimento Indignação, que lideramos, as mais vivas e pulsantes esperanças foram varridas por um vendaval de acomodação e conservadorismo e o resultado é que perdemos, desde abril de 2010 até o último janeiro três eleições sucessivas.

Primeiro, concorremos a direção executiva do Sindjus-RS (Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul), obtendo apenas 22% dos votos. Depois, apoiamos a candidatura de nossa companheira Simone Nejar à deputada estadual na Assembléia Legislativa gaúcha, que lançamos como a candidata dos servidores, vinculada aos sofrimentos, necessidades e objetivos maiores deles. E a derrota foi mais ridícula ainda. Apenas 527 votos, que não reproduziram nem os concedidos à nossa chapa na eleição sindical.

Por fim, nos incorporamos fortemente à campanha do desembargador gaúcho Rui Portanova, porta-voz aguerrido e combativo dos direitos humanos, especialmente dos segmentos, ainda hoje, discriminados e dominados, sob o pretexto da cor da pele, do gênero e da orientação sexual (negors, mulheres e homossexuais), pela sua indicação como Ministro do Supremo Tribunal Federal. E o que vimos, no início deste 2011, a sucessora desprezar  fascismo petista, Dona Dilma, a Renegadora de Coturno, desprezar o perfil e a luta do magistrado, em favor da conveniente identificação do escolhido com a Presidência da República.

O Almanaque do Pensamento de 2011, entretanto, embora de forma mais comedida, continua na mesma linha do ano anterior, embora procure explicar a timidez da realidade em relação às expectativas criadas, especialmente no horóscopo para o Mundo:

“Depois do dia 5 de abril, Neutno sai do signo de Aquário para entrarf em seu próprio signo, o de Peixes, onde ficará até 30 de março de 2025.

Durante esses quatorze anos, mesmo com Urano gerando uma atividade mundial violenta até 2017, como já avisamos em 2010, Netuno revelará ideologias que já considerávamos definitivamente inexistentes. Ele reanimará opiniões e convicções religiosas, políticas ou sociais que se deparaão com líderes fanáticos e adeptos combativos para propô-las e, quando possível, impô-las.

Por enquanto trata-se dos germes de uma revolução subterrânea em que o mundo tomará consciência da grandiosidade dos fatos vindouros dos quais não tomou conhecimento nos anos anteriores.

Mas não devemos nos enganar, pois a fonte e a semente de grandes movimentos sempre acontecem na surdina. Quando eles vêm à tona é preciso combatê-los, aceitá-los ou resolvê-los na medida do possível.”

Muitos leitores dirão que se trata de mera desculpa para a folha ocorrida no número anterior do periódico anual. Mas a verdade pura e simples é que a continuidade da agitação da Grécia, ainda no final de 2010, e as recentes revoltas populares de massa na Tunísia e Egito (que não chegaram aos pés de uma revolução socialista, mas representaram um forte questionamento laico das pessoas comuns nunca visto no teocrático Oriente Médio), parecem confirmar as teses do dito Almanaque.

Muito próximo do campo de atividade política do meu grupo sindical, vimos, inclusive, nos últimos tempos, a manifestação de um juiz batendo fortemente na necessidade de democratização na escolha da cúpula do Poder Judiciário Brasil como algo premente até para evitar o uso indevido das estruturas do poder em favor de privilegiados ligados à alta administração e a distorção das decisões nos tribunais em decorrência dos interesses sócio-econômicos das elites – texto que publicamos no blog do Movimento Indignação e representa um brado inimaginável até pouco tempo atrás, quando éramos, eu Valdir, Simone Nejar e outros companheiros punidos por manifestar nosso pensamento político interno, combater o nepotismo e a defender a decência do Judiciário do Extremo Sul do Brasil.

Marco Longari/01.02.2011/AFP

Aliás, falando em Brasil, o Almaque do Pensamento de 2011 não foca tanto a questão revolução, mas em um pequeno trecho lança um questionamento um tanto surpreendente, polêmico e enigmático, após outro de caráter mais ameno, mas igualmente revelador:

“Ao passar para a casa IX, Saturno vai focalizar a educação superior e os assuntos judiciários: será que finalmente teremos uma reforma judiciária em nosso país? (…)

Urano fará conjunção com Plutão, regente do Meio-do-céu e representante do poder executivo no mapa do Brasil, ainda em março: será possível haver um golpe de Estado em nosso país no ano que vem? Tudo é possível sob a batuta de Urano, o revolucionário, que costuma romper, cortar, eliminar sumariamente o que encontra pela frente.”

Fantasia, mera especulação ou resultado da intuição da mudança profunda de mentalidade que pode estar se processando no seio das massas trabalhadores do planeta, as previsões parecem continuar a refletir muito da realidade potencial que teremos pela frente. Nos resta a esperança de que em nosso país ela não se consubstancie na institucionalização formal do fascismo “cor-de-rosa” (que o vermelho desbotou há muito tempo) vigente.

Ubirajara Passos

50 dias de silêncio


Segundo a Bíblia, Cristo, no início de sua carreira, passou quarenta dias no deserto, reinando consigo mesmo e batendo boca com o Capeta.

Ninguém sabe ao certo, até hoje, se o duelo verbal entre o profeta hippie e o bajulador chifrudo foi o resultado mental da privação de água e do calor desértico, ou se o piá divino havia se recolhido aos sertões da Palestina justamente para fumar sossegado aquela ervinha diferente.

O fato é que a besta idéia resultou num dos mais equívocos e irônicos embates de personalidades da História imaginária. Um subordinado do “Todo Poderoso” que oferece reinos ao seu próprio procurador humano plenipotenciário, como se este precisasse do puxa-saco para conquistá-los, em troca da sua adoração é, no mínimo, imbecil ou irremediavelmente vaidoso. O que destoa, por completo, da idéia do diabo malandro e  perspicaz que aprendemos.

Isto sem falar, é claro, na contradição entre um temido capeta perigoso e violento e os laivos gays de uma proposta do tipo: “por que não te atiras deste precipício para que aqueles anjos loiros e sarados venham te amparar nos braços”?

Mas o pior de tudo, mesmo, é o tal Deus vivo encarnado em homem se deixar levar na conversa inábil do tinhoso petulante e hesitar a ponto de quase cair no infernal golpe do bilhete!

Seja como for, duvido muito que o divino exílio tenha tido os percalços por que passei nestes cinqüenta dias sem escrever um ó neste meu site. Chegado aos quarenta e quatro (conjunto de algarismos etários que duplica a infelicidade desta ambígua fase da vida que atende pelo pouco casual nome de “meia idade”), em 30 de agosto, fui,  de um sobressalto a outro, me encolhendo e tornando  a me jogar, pretensamente audaz, ao seu enfrentamento.

A verdade é que a pindaíba crônica se viu agravada, neste dias, pela necessidade  de realizar uma festa decente de 1.º aniversário (completado em 1.º de setembro e comemorado no sábado seguinte, dia 5) à coisinha mais linda do  mundo, a minha filha Isadora. E quaduplicada não só pela ameaça de corte da URV do meu salário (bem como de todos os funcionários da justiça do Rio Grande do Sul), mas também pelas conseqüências salariais da suspensão a que fui condenado em razão das retaliações políticas que me move o patrão judiciário há mais de um ano – que resultou, com o desconto de metade do salário bruto, somado aos normais do contracheque, em nenhum centavo sequer para um gole de cachaça.

Neste meio tempo fui do entusiasmo de sindicalista ameaçado de perder direitos salariais garantidos à perplexidade e o medo covarde de funcionário acossado, sem recursos com que sobreviver e sustentar família senão aqueles que a solidariedade paterna, de parentes da minha mulher e de companheiros de luta e beberagem permitiu-me. Fica aqui a minha gratidão e homenagem a estas criaturas, que saberão quem são, sem necessitar nominá-las.

E, se escrevi e produzi alguma coisa intelectualmente, foi completamente absorvido pelos fatos, de modo que este blog viu-se relegado ao milionésimo plano frente ao seu irmão, o do Movimento Indignação, e aos discursos sindicais e providências materiais necessárias ao drible da secura salarial, que quase me faz delirar como a secura de água do Cristo no deserto.

E assim é que cheguei aqui, três horas da madrugada fria de uma primavera sulina que teima em se esconder e travestir de inverno, para simplesmente dar uma satisfação aos leitores, e, com a linguagem empolada de que volta e meia se reveste a minha dupla personalidade (já que o malandro, nestes tempos, correu em disparada) dizer que ainda estou vivo. E que, apesar de todo o temporal, e da sacanagem, me pego embevecido e terrivelmente feliz e fascinado com um simples sorriso franco, espontâneo, entusiasmado e gostoso da minha filhinha. Isadora, que a vida te seja mais doce e menos pesada do que tem sido comigo, mas, sobretudo, que não seja tediosa, nem tenha menos peripécias do que as que este teu pai louco quarentão tem experimentado.

Isadora no colo de seu avô octagenário, meu pai, Almiro dos Passos, ladeados por mim e minha mulher Janaina

Ubirajara Passos

DENÚNCIA DAS PERSEGUIÇÕES A BIRA E SIMONE NOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS


Reproduzo abaixo o texto da denúncia encaminhada, nesta semana, pelo Movimento Indignação, que lidero, à Organização Internacional do Trabalho – OIT (texto reproduzido na íntegra), Anistia Internacional (sediada em Londres), aos Repórteres sem Fronteira (sediados em Paris), à Conlutas (cental sindical classista e combativa), ao Movimento Sindical do Partido Democrático Trabalhista (PDT) do Rio Grande do Sul, aos deputados trabalhistas (PDT)  gaúchos Vieira da Cunha e Pompeo de Mattos e à Internacional Socialista:

Senhores Dirigentes da OIT:

O Movimento Indignação, fração de oposição do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Sindjus-RS, vem perante a Organização Internacional do Trabalho requerer providências por violação da liberdade sindical e do direito de organização praticada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, República Federativa do Brasil, consubstanciado na intimidação, mediante processos disciplinar ilegal e ilegítimo dos sindicalistas do setor público, abaixo nominados, em razão do exercício de suas atividades sindicais, que fere as convenções 87, 98 e 151 (especialmente), conforme narrado a seguir.

Os sindicalistas Ubirajara Passos e Simone Janson Nejar, servidores concursados e representantes de local de trabalho, respectivamente, do Departamento de Informática do Tribunal de Justiça e da Contadoria da Comarca de Gravataí, setores do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, República Federativa do Brasil, estão sendo retaliados, e ameaçados de demissão de seus cargos públicos, em razão de terem denunciado, através do blog do Movimento Indignação (corrente de oposição interna do Sindjus-RS – Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, de que são militantes), cujo endereço é grupo30.canalblog.com, e do blog pessoal de Ubirajara Passos, upassos.wordpress.com, a prática ilegal de nepotismo no Tribunal de Justiça, bem como por se manifestarem contra o arrocho salarial e a falta de condições de trabalho sofridos pela categoria (em cujos quadros há mais de 1.800 cargos vagos não providos há anos).

A sindicalista Simone denunciou, não somente no referido blog (que é o site oficial do movimento Indignação, nele publicando artigos os sindicalistas Ubirajara Passos, Simone Janson Nejar e Valdir Antônio Bergmann), mas através de ação popular impetrada no Supremo Tribunal Federal, a lista de ocupantes de cargos em comissão parentes de juízes e desembargadores, cuja presença neles constitui infração à Súmula 13 da suprema corte brasileira, assunto este que vem sendo coberto pela imprensa local e nacional.

Como resultado, e a pretexto de utilizarem nos artigos por eles assinados, expressões injuriosas, caluniosas e difamatórias às autoridades públicas e ao Poder Judiciário, a administração do referido tribunal, através da 2.ª vic-presidência, e da Corregedoria-Geral de Justiça, abriu processos administrativos contra Simone e Ubirajara, suspendendo-os de seus cargos, “preventivamente”, e enquadrando-os no dispositivo da Lei Estadual 5256/1966, promulgada durante a ditadura militar, que permite a demissão de trabalhadores públicos em razão de “referência injuriosa, caluniosa ou difamatória à Justiça, autoridades públicas, ás partes e a seus advogados” (art. 757, VI, d) – artigo este eivado de completa inconstitucionalidade frente ao art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada por ocasião da restauração democrática em 5/10/1988, que garante a liberdade de expressão.

Apesar do pretexto legalista e autoritário do “crime de opinião”, que é mero expediente para demitir os sindicalistas, os processos objetivam realmente é intimidar e calar as vozes críticas dos membros do movimento sindical referido e dos militantes sindicais do poder judiciário do Rio Grande do Sul. Não por acaso foram iniciados logo após a denúncia, no blog do movimento, de contratação irregular de empresa de manutenção de ar condicionado em que consta como sócio o irmão do Presidente do Tribunal de Justiça, pelo Poder Judiciário. As manifestações “injuriosas” são expressões e frases de efeito dos artigos publicados pelos sindicalistas nas denúncias referidas.

No caso do sindicalista Ubirajara Passos, a sanha persecutória chega às raias da insanidade, da malícia e do pior preconceito sócio-cultural. Militante do Sindjus-RS há mais de 17 anos (desde 1991), Ubirajara Passos ocupou neste período os mais diversos cargos de dirigente sindical, como representante de local de trabalho, 3º e 4º Vice-Presidente do Sindjus-RS, membro do Conselho Deliberativo, do Conselho Geral e Coordenador do Núcleo Regional da Grande Porto Alegre, na referida entidade, possuindo  grande liderança e popularidade entre os servidores do judiciário, de há muito, tendo sempre se manifestado e atuado com a maior combatividade e radicalismo pelos direitos trabalhistas da categoria, sem quaisquer hipocrisias e de forma contundente.

Para disfarçar a perseguição política escancarada, entretanto, o Tribunal de Justiça embasou o processo administrativo a pretexto da publicação, no blog pessoal do sindicalista, de uma crônica satírica que expõe o ridículo de norma que determina à segurança do palácio-sede do poder a coibição de “encontros excessivos de namorados” (de suposta natureza sexual), se utilizando de palavras “chulas” (termos sexuais na linguagem popular). O referido blog, em que Ubirajara publica desde comentários políticos a poemas de sua autoria e ensaios antropológicos e políticos, possui em seu conteúdo toda a sua obra literária, na maior parte impublicada, mas a portaria que instaurou o processo visando sua demissão, qualifica seu conteúdo de “obsceno”, em clara imputação preconceituosa e moralista, de cunho patriarcal e conservador, e em evidente tentativa de desqualificação da liderança e do discurso político e sindical de seu autor.

Anexamos manifesto lançado pela corrente sindical referida, em apoio aos trabalhadores perseguidos e moção de repúdio do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio de Janeiro sobre o caso.

Porto Alegre, 28 de outubro de 2008

Valdir Antônio Bergmann

Mílton Antunes Dornelles

Ubirajara Passos

Simone Janson Nejar, pelo

Movimento Indignação (organização de oposição do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul/Sindjus-RS)

SINDJUSTIÇA-RJ APROVA MOÇÃO DE REPÚDIO À PERSEGUIÇÃO CONTRA BIRA E SIMONE


Apesar de todo o peleguismo nauseante do sindicalismo oficialesco deste país e da conivência surda da maioria da população brasileira com a hipocrisia moralista, e a sua irmã – a opressão bem-comportada, de modos finos, e filha da puta – nem tudo está perdido.

Prova disto é a moção que reproduzo abaixo, aprovada em uma Assembléia Geral da peonada do judiciário fluminense, em greve há mais de 45 dias, por mais de 2.000 trabalhadores presentes, e que nos foi entregue na última quarta-feira pelo diretor de imprensa do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Francisco Fassano, no aeroporto Salgado Filho, de onde seguiu conosco para degustar um bife com batatas, arroz, e feijão mexido, no Bar Naval (Mercado Público), no centro de Porto Alegre, antes de pegar o ônibus para Gramado, onde participou do Congresso das Associações Brasileiras de Oficiais de Justiça.

O companheiro Fassano, velho brizolista e malandro carioca, destes malandros que dispensam a mais inocente cervejinha (só bebe água e refrigerante há anos), mas não perde a malandragem, merece, aliás, um capítulo a parte neste “obsceno” (segundo o corregedor de justiça do Tribunal Gaúcho) blog, mas por enquanto vamos ficando com a moção de que foi emissário, que vai reproduzida abaixo:

 

mocao-sindjustica-rj

CENSURA INQUISITORIAL SE MATERIALIZA NA JUSTIÇA GAÚCHA


Por incrível que pareça, na República Fascista do Inácio, não se pode mais fazer qualquer manifestação dissonante dos padrões de “comportamento” mais moralistas (do pior falso moralismo) e caducos, sem que o braço da vigilância caia sobre nós e nos tente  banir da sociedade. O que é pior ainda quando a pretensa irreverência imoral vem acompanhada do combate político e sindical ferrenho, da crítica e da reivindicação mais legítima de condições humanas de trabalho a um patrão estatal dirigido por uma casta de privilegiados.

O fato, em resumo, é que, como retaliação à pauleira crítica e reivindicatória que eu e meus companheiros (especialmente a companheira Simone Nejar) do movimento Indignação temos desferido sobre a miséria salarial dos trabalhadores da justiça gaúcha (perdas inflacionárias de quase 70%) e a falta de condições de atendimento à população (mais de 1.800 cargos vagos e não providos, há anos) – contrastantes com a existência ilegal de dezenas de parentes de desembargados em cargos em comissão lautamente remunerados no Tribunal de Justiça – estou sendo processado, assim como a companheira citada (ela, por expor suas críticas e denúncias no blog do Indignação) administrativamente, sob o pretexto de ter escrito neste blog uma crônica “obscena” que constituiria “injúria, difamação e calúnia à Justiça e às autoridades públicas”, conforme artigo da Lei Estadual 5256 – casualmente promulgada em 1966, em plena vigência da ditadura militar gorila – e pela qual pretendem me aplicar nada mais que a pena de demissão do serviço público. O texto “censurado”, que é o pretexto para fazer-nos calar a boca e intimidar os sindicalizados da categoria, em plena campanha salarial, é a crônica satírica, “É Foda Estagiar no Tribunal”, escrita por mim há quase três meses, e que só foi vista, para me processar, após o blog do Indignação divulgar que a manutenção do ar condicionado do Foro Central da capital é, estranhamente, feita por empresa da qual o irmão do Presidente do Tribunal é sócio…

A represália política parece óbvia, agora o que mais salta aos nossos incrédulos olhos é a verdadeira censura moral e ideológica sobre as opiniões emitidas neste blog, que é tachado na portaria de instauração do processo administrativo de “obsceno”, num total desconhecimento do amplo conteúdo nele existente, que vai da política à antropologia e da poesia lírica ao conto pitoresco, passando sim pela gaiatice boêmia e pelo “erotismo”, mas jamais usando do “chulo” e do “vulgar”, que é a alusão sexual de mau gosto, machista e coisificante.

Reproduzo abaixo manifesto lançado pelo movimento Indignação, tanto em seu blog, quanto publicamente (está sendo distribuído em ato de desagravo, hoje, em Porto Alegre), e alerto aos leitores que não se preocupem, porque, apesar de estar com a cabeça a prêmio (ameaçado de demissão, com família pra criar e uma filha de menos de dois meses), não deixarei de lhes propiciar o prazer da crítica combativa e do humor sarcástico. Segue o manifesto:

MANIFESTO À SOCIEDADE, AOS PARTIDOS POLÍTICOS E AO MOVIMENTO SINDICAL

Queremos protestar contra a mordaça no servidor público, através da aplicação de leis que ferem o direito à liberdade de expressão, princípio consagrado na Constituição Federal.

Denunciamos, por este manifesto, à sociedade gaúcha e nacional, aos partidos políticos, ao movimento sindical, aos órgãos e entidades que defendem e lutam pela liberdade, a democracia e a decência, que o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul está retaliando os servidores concursados, e representantes sindicais, Simone Nejar e Ubirajara Passos, porque foram honestos e denunciaram o nepotismo que grassa no Judiciário gaúcho, no blog do movimento INDIGNAÇÃO (corrente sindical de oposição do Sindjus-RS), de que são militantes, em seus blogs particulares e através de uma ação popular no Supremo Tribunal Federal.

Ambos os servidores estão suspensos, respondendo a processos administrativos visando à sua demissão; enquanto, por outro lado, os parentes dos desembargadores continuam, todos, usufruindo as benesses de seus bem-pagos cargos em comissão. Vejam, senhores, que enquanto estes dois servidores, Simone Janson Nejar e Ubirajara Passos estão aqui, perseguidos pela administração de um Tribunal “de Justiça”, os parentes denunciados continuam lá dentro, como se não fosse com eles. Enquanto o Senado é obrigado a exonerar seus parentes; enquanto o Ministério Público e Assembléia Legislativa são obrigados a exonerar seus parentes, o Judiciário gaúcho silencia. Perguntamos publicamente, hoje, se a Súmula 13 e a Constituição não se aplicam ao Poder Judiciário Gaúcho.

É por isso, senhores, que estamos aqui, mostrando nossa cara, porque nada temos a esconder.Os companheiros Bira e Simone ingressaram no serviço público mediante concurso, cumprem seus horário e suas tarefas, e não merecem ser retaliados desta maneira pelo fato de terem denunciado irregularidades que são usuais dentro do Tribunal de Justiça. Todos sabem que a Casa está lotada de parentes, quando existem mais de 1800 cargos efetivos vagos, enquanto tantos jovens estudam para concursos neste país. Queremos denunciar que não recebemos reajuste há mais de quatro anos, enquanto os juízes garantiram para si o gordo subsídio de até 70% no ano que vem. Queremos denunciar o assédio moral que os companheiros sofrem unicamente por falarem a verdade.

E queremos, por fim, o apoio dos cidadãos, porque não é possível mais compactuar com tanta imoralidade e ilegalidade dentro do Poder Judiciário.

BASTA!

Porto Alegre, outubro de 2008

 

movimento
   INDIGNAÇÃO

“É FODA” ESTAGIAR NO TRIBUNAL


Por incrível que pareça, em pleno século XXI, o velho ranço beato e anti-prazer anda grassando justamente na sede do judiciário do Estado pretensamente mais politizado (e supostamente, liberal) do Brasil. O que só prova, no microcosmo das relações quotidianas (quase familiares) de trabalho, o que se encontra toldado na vitrine da política nacional: estamos em pleno regime fascista, do pior fascismo – aquele que se ampara na vigilância, nos mexericos e no dedo-durismo mesquinho do fiscal de esquina.

E, nesta modernosa reprodução da inquisição medieval, nem mesmo os princípios do liberalismo burguês (que admitem a maior liberdade de expressão e exercício da vida pessoal para a classe privilegiada) encontram qualquer eco! Em nome do velho sadismo da classe dominante – do tesão, filtrado por camadas ontológicas de repressão e “punição”, que se transforma em raiva hidrófoba e furibunda (coisa a que o mestre Reich dava o nome de “peste emocional”) – é preciso que toda a mínima manifestação de vida, de prazer e bom-humor seja devidamente pisoteada e extinta debaixo da chibata e da chinelada. O que, eventualmente, se estende aos próprios rebeldes da classe abastada que nos cavalga!

Antes que algum leitor tenha um “ataque de cu”, e rebente as hemorróidas com os próprios dedos, vou esclarecendo. Não se trata da famigerada ordem de serviço que, em flagrante desrespeito ao formalismo consitucional, decretou, ao arrepio de lei complementar vigente no Estado, a limitação do número de servidores que poderia comparecer à Assembléia Geral do Sindjus-RS no último dia primeiro, sob o argumento escravocrata e militarista de que esta estava se realizando “no horário do expediente” (quem sabe pertence, agora, ao patrão, o Tribunal, no caso, a prerrogativa de fixar quando seus escravos poderão reunir-se para tratar da ração e do número máximo de chicoteadas no tronco?).

A coisa é bem mais sútil, hilária, para não dizer ridícula, e beira ao puritanismo de “grupo de pais e mestres” de escola ginasial protestante yankee! Conforme ordem de serviço emanada da seriíssima e “impoluta” Secretaria das Comissões” do Tribunal de Justiça, através do “Of.-Circ. n° 12/2008-AdmTJ”, de 31 de julho passado, os estagiários (leia-se escravos sofisticados, ou simples mão-de-obra barata e sem direitos) contratados do palácio-sede devem ser advertidos, sob pena de DEMISSÃO, para não praticarem mais os crimes de lesa-pátria que reproduzo abaixo, conforme o original da exaustiva deliberação tomada em “reunião da Administração do Prédio” em razão de “alguns fatos relativos ao mau comportamento de estagiários, tais como:

 § Sanitários: problemas de depredação e pichação;

§ Terraço – fumódromo: subidas de estagiários ao 12º andar para encontros, apresentando comportamento contrário às regras de decoro;

§ Restaurante: grupo de estagiários que vem servindo-se do buffet de lanches e apresentando somente a comanda de bebida;. § Copa do 4º andar: usuários estão depredando o patrimônio da copa, com a retirada dos botões do microondas;

§ Copa do 4º e 9º andar: estagiários ficam brincando no elevador utilizado pela copa e restaurante; § Uso de crachá os estagiários não estão usando o crachá nas dependências do prédio.” 
 

Para a devida advertência e coibição de “faltas” tão hediondas e prejudicais à administração pública e aos interesses da população que paga os salários de nossos justos e denodados magistrados, assim como de seus servos de luxo, digo, estagiários, o ofício refere que “Dessa forma, a Administração do Prédio do TJ solicita colaboração das chefias para que cobre de seus estagiários que devem observar as normas de comportamento social condizentes ao Poder Judiciário, informando que a Equipe de Segurança vai intensificar o monitoramento, para identificação dos estagiários, com a conseqüente e imediata rescisão contratual”.

Mas, afora as reprimendas à indisciplina “infantil” (devem ser muito interessantes as “brincadeiras” praticadas pela piazada na faixa dos dezoito aos vinte e tantos anos nos elevadores da “copa” – fico a imaginar se a coisa envolve os tradicionais folguedos de “pegar”, “esconder”, “cabra-cega” ou a velha história de “brincar de médico”), o que mais salta aos olhos é esta história sobre o “Comportamento excessivo de namorados no terraço (fumódromo) já foi, inclusive, flagrado pela segurança”.

Ao que tudo indica, conforme a própria reprodução da determinação (não estou inventando nada), a pobre gurizada se fode com o salário miserável de aprendiz (que não chega a 2 dos salários “mínimos” de fome canina que nos propicia o nosso amo Luís Inácio) e com uma perseguição feroz da segurança local, especializada não em prevenir possíveis atentados de “subversivos comunistas”, gangues do crime organizado, os PCCs, ou outros congêneres, mas em escanear as mais ingênuas piadas e esquemas de “otimização” orçamentária do bolso da turma. Mas o mais imperdoável é que, talvez inspirada na sacanagem das altas rodas da nobreza provinciana de Porto Alegre (que inclui inúmeras castas, inclusive algumas tradicionais famílias “operadoras do direito”), ao fuder em plena sede do poder mais conservador e sisudo da República, comete o supremo pecado mortal, totalmente contrária ao “decoro” de suas excelências, de sentir prazer em pleno templo do castigo.

O troço é extremamente grave, afinal a piazada está fazendo a coisa de graça, bem longe dos olhos da principal cafetina da capital, a tia Carmen, honrosa senhora que tantos nobres e abnegados serviços tem prestado à alta cúpula do “patriciado político dos três poderes”. E, dizem as más línguas, não foi a transgressão simplória e ingênua de uma simples transa, mas um pecado bem mais grosso e cabeludo. Uma linda e gostosa estagiária (infelizmente bem longe dos gabinetes das chefias) se dedicava, quase nua, ágil e diligentemente, a boquetear um reles estagiário, quando foi pega em delito de felatio in varus por um balofo e invejoso guarda.

Pobres estagiários! Não podem dar um simples peido no corredor que tem um policial na cola, lhes bafejando a nuca, indignadíssimo com a falta de compostura (e, sobretudo, por não ter sido convidado para a orgia do 12º andar). E ainda tem de ouvir as aventuras sexuais de muita assessora de cargo em comissão, sem direito à menor punheta nos banheiros, ou à simples foda improvisada nos recantos do prédio!

Sinceramente, se, ao que se depreende das proporções da preocupação de nossos altos magistrados com a transa estagiária, o maior problema da Justiça gaúcha, nestes dias, além da meia-dúzia de servidores rebeldes (que não aceitam viver, ano após ano, sem qualquer reajustamento nos seus salários de peão mal remediado, e tem a petulância de exigir a recuperação da alta dos preços, que lhes confiscou as possibilidades da carteira em mais de 63% nos últimos anos), é a “foda no palácio”, bem que podiam garantir à juvenil equipe de escravos o “vale-motel”, para que, ao menos, possam fazer alguma coisa de útil com seus parcos salários

Ubirajara Passos