Depois de sofrer, rir e chorar como uma criança (bem longe dos olhos da mãe e da filha), depois de sentir pulsar dentro de si a vida, apesar do amontoado de reveses e contrariedades, só me restou, já meio bêbado, neste meio de noite, mais um pobre e pedante poema, que dedico à Isadora (nascida hoje às oito para o meio-dia, peleando pela vida):
Lua Nova de Setembro
à milha filha Isadora Freitas Passos
Quando o poeta tem uma filha o que fazer?
Quando os trejeitos literários fogem todos,
Quando os meneios revolucionários,
Os berros encorpados do discurso
Se tornam inúteis, frágeis como o vento,
Que há de fazer este poeta embriagado
Se já é inútil para a luta anárquica?
Não balbucia, mas chora como criança,
Se as luzes orgulhosas de rebelde
Questionador de tudo e todos se dissolvem
No ouvir incerto de um choro de criança?
Que há de fazer o poeta, o da caneta,
Que resta ao vingador, o do fuzil –
Que sempre foi caneta, mas quer ser
Espada aguda de aço inquebrantável?
Onde é possível resgatar a irreverência
Do debochado boêmio,
O inconformismo
Do cético de toda fé espontânea?
Quando se quebra contra toda armadura
De “eruditismos libertários”,
De orgulhos
Cheios de si do improviso desbocado,
Quando a certeza gaiata esvai-se, inútil,
E ao poeta resta tão-somente
O próprio choro, criança desmamada
A chorar, sem sentido, nem justificativas,
Perante a emoção pura e original do pranto
Nos lábios sem conforto de quem vê
Pela primeira vez a crua luz do mundo?
Em que instância misteriosa o plenilúnio
Dará ao bardo, de novo seu sentido,
Se uma lua “nova”, linda e intensa,
Toldou-lhe toda compreensão,
Arremessou-lhe
Ao doce e inescrutável absurdo
Da vida sem regras, exigências ou pendores
Gritando, forte e autônoma ao seu ouvido?
Gravataí, 1.º de setembro de 2008
Ubirajara Passos