INÁCIO E HENRIQUE, OS IRMÃOS SIAMESES


Fernando Henrique Cardoso, apesar da fama de esquerdista, nunca foi exemplo de um socialista. Seu partido atual, o PSDB, fundado como dissidência, oportunista, do PMDB, no final do governo Sarney, em 1988, também nunca teve nada de “social-democrata” e a prática concreta de seus membros faria corar até o pseudo-trabalhista Tony Blair.

Intelectual deslumbrado, mais próximo do que os críticos burgueses chamavam, na década de 1970, de “esquerda festiva” e sociólogo de gabinete (cujas elocubrações cerebrinas viam “dependência econômica” onde há domínio, submissão e exploração de nações como o Brasil pelo imperialismo yankee e multinacional), não foi grande novidade que o governo de Dom Fernando se notabilizasse pelo caráter socialmente reacionário. E implantasse os retrocessos que Collor não teve tempo de impor, como as privatizações generalizadas de empresas estatais e as Reformas Administrativa e Previdenciária.

Apesar de ser sempre apresentado pela mídia como o “anti-Lula”, ou seja, culto, refinado, freqüentador de salões da alta sociedade e distante do povo (enquanto o Inácio seria o arquétipo do operário, formado na “escola da vida” e solidário com as multidões miseráveis), Fernando Henrique possui com o Inácio, entretanto, uma identidade bem maior do que a orientação econômica e social concreta de seus governos (em que Lula se fez o continuador do “neo-liberalismo” henriquiano, prosseguindo com o monetarismo conservador e aprofundado a Reforma Previdenciária e a política anti-povo).

No verbete “Partido dos Trabalhadores (PT) à página 4470 da “Grande Enciclopédia Larousse Cultural” (editora Nova Cultural Ltda., 1999) é possível ler-se o seguinte trecho: entre 1977 e 1979, houve uma tentativa de formação de um partido de esquerda idealizado por trabalhadores, intelectuais como Francisco Welfort, José Álvaro Moisés, Paul Singer, Fernando Henrique Cardoso. O projeto não foi adiante devido a divergências político-ideológicas. Nas reuniões com os sindicalistas – entre eles, Jacó Bittar, Luiz Inácio Lula da Silva e José Ibrahim -, surgiram duas correntes. A primeira adepta da atuação parlamentar, e a outra, voltada para atuação nos movimentos sociais. Assim, um grupo decidiu filiar-se ao PMDB, ao passo que o outro partiu para a formação do Partido dos Trabalhadores”.

O PT não é, portanto, como se crê, um projeto exclusivo e genuíno de sindicalistas, estudantes e padres vermelhos independente dos políticos tradicionais, forjado a partir das lutas sindicais desde 1978. Mas faz parte de um projeto maior, no qual o Inácio e o Henrique se encontravam lado a lado como dois irmãos siameses.

Visto da perspectiva histórica de hoje, em que ambos defendem na prática os mesmos interesses anti-povo de grandes multinacionais, banqueiros e patriciado político corrupto tradicional (os Sarneys e Robertos Jefersons de todo dia), disputando entre si apenas quem será o melhor capacho do imperialismo a sentar as augustas bundas no Palácio da Alvorada (de outra natureza não é a contenda entre Lula e Alckmin), as “divergências” entre os antigos grupos se revelam apenas discrepâncias táticas, mas não diferenças ideológicas.

Muito estranho, aliás, o tal projeto de “partido de esquerda”, pensado em pleno 1977 (ano em que o ditador Geisel fechava o Congresso para editar o pacote de abril e criar casuísmos como o senador “biônico”, eleito indiretamente), quando sequer se cogitava da restauração do pluripartidarismo. E em que, há apenas dois anos, o jornalista Vladimir Heroz, diretor da TV Cultura, era preso e assassinado pela ditadura pelo simples fato de ser comunista.

Mas as ligações comuns de Luís Inácio e Dom Fernando com organizações imperialistas americanas (o Iadesil, financiado pela CIA onde o “semi-analfabeto” Lula fez sua pós-graduação política e o Diálogo Interamericano, organizado e apoiado pelos partidos Republicano e Democrata, do qual Fernando Henrique é um dos membros no Brasil) nos dão a pista da verdade. Desde os anos 1970, ambos os figurões políticos compõem a mesma “equipe” e comungam da mesma missão de carrascos do povo brasileiro, sob a benção de seus padrinhos fascistas (as elites nacionais de capachos e os grandes grupos transnacionais), devidamente instruídos e preparados pelos militares golpistas para perpetuar na “democracia formal” o Brasil da fome e da sangria de recursos em favor das metrópoles neo-coloniais.

Ubirajara Passos

LULA, O “ERUDITCHIO”


Há umas duas décadas veio à luz, a partir de investigações arqueológicas, que a doutrina expressada por Cristo não se constituía numa visão original por ele elaborada, mas já se encontrava, em boa parte de seu ideário, explicitada nos manuscritos essênios (seita judaica dissidente) encontrados no mar morto, datados de cerca de 100 a.C. Outras investigações, como as do padre Holger Kerstein (autor do livro “Jesus Viveu na Índia”) atestam as ligações entre o cristianismo e as idelogias religiosas do hinduísmo e do budismo.

Pois, como todo messias legítimo, o Luiz Inácio não escapa à regra. Esta semana, pesquisando por casualidade sua biografia na Internet, dei com o trecho abaixo, no respectivo verbete da insuspeitável “Wikipédia” (a enciclopédia livre da Internet):

” É pouco divulgado – mas atestado por algumas fontes tais como o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro do Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio – o fato de que Lula, desde o início da década de 1970, viajou ao Estados Unidos, onde freqüentou curso de qualificação sindical no Instituto Interamericano de Sindicalismo Livre, organização politicamente conservadora e anti-comunista vinculada à central americana AFL-CIO”. (pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Inácio_Lula_da_Silva)

Aprofundando a pesquisa, esbarrei no site da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), igualmente insuspeita de qualquer parcialidade ultra-esquerdista ou direitista escabelada e paranóica, com o artigo do jornalista brasileiro Fritz Utzeri, publicado em 8/7/2005, sob o título Réquiem pelo Governo do PT, onde consta o seguinte trecho:

“O sindicalista Lula – ao contrário do que parece – não se absteve de estudar. Há relatos – nunca desmentidos – de sua preparação em cursos de AFL CIO, as centrais sindicais norte-americanas, quintessência do peleguismo e do antiesquerdismo em geral, e na Johns Hopkins University, em Baltimore, Estados Unidos (em 1972 ou 73), onde teria feito um curso de liderança sindical, desenhado sob medida para parecer de esquerda, apenas para parecer, mas servir ao sistema dominante. Merece um doutorado honoris causa – ou seria horroris causa? Além disso, já como diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, cursou o Instituto Interamericano para o Sindicalismo Livre (Iadesil), sustentado pela CIA, e passou a adotar sua própria “agenda”, livrando-se do próprio irmão, o Frei Chico, quadro do Partido Comunista”. (www.abi.org.br/colunistas.asp?id=333)

Logo, a aparente contradição entre o discurso socialista do PT na oposição e o governo mais anti-povo da História do Brasil (que, frise-se sempre, pretende, sob a desculpa da flexibilização e desburocratização das relações de trabalho, aprovar reforma que redundará na extinção de direitos básicos incontestáveis como férias e 13º salário, o que equivale à revogação da lei áurea) não é produto de um descaminho do PT, que ao longo do tempo foi deixando de ser vermelho para tornar-se cor-de-rosa. Nem, muito menos, uma traição a ideais professados.

O Inácio, e com ele imagine-se que geração inteira de sindicalistas “consentidos”, na pior fase repressiva do regime militar, foi treinado especialmente pelas forças mais torpes do imperialismo americano para cumprir sua missão. Assim como enviava professores de tortura ao Brasil e preparava, com fartos recursos financeiros inclusive, a propaganda golpista no Brasil pré-64, a CIA, diretamente ou através de órgãos como o referido instituto, simplesmente preparou o futuro líder messiânico para a farsa capaz de afastar da possibilidade de êxito as forças socialistas e de esquerda legítimas e não comprometidas, lideradas por homens como Leonel Brizola e Luís Carlos Prestes.

E, igualmente, quando não fosse mais possível manter no poder os partidos de ideologia burguesa aberta e clássica, como o PSDB de Fernando Henrique, possibilitar a continuidade do domínio imperialista no Brasil através de uma esquerda de mentirinha, muito bem incensada pela mídia (Rede Globo e assemelhados) nos anos posteriores à “redemocratização”.

O drama atual do país não é, portanto, produto do acaso e de acidentes históricos, mas está umbilicalmente ligado a um esquema prévio, pensado e executado nas cúpulas do poder alienígena do capitalismo yankee. Rejeitar Lula, conseqüentemente, não é apenas rejeitar um nefasto governo fascista que destrói a vida de milhões de brasileiros diariamente, transformando-a num sofrimento cada vez mais irremediável, sob a pretensa bandeira do “socialismo”. É se opor vigorosamente aos desmandos do “irmão do norte”, cuja sanha de exploração do Brasil não admite a menor independência em relação a seus interesses e planos.

Ubirajara Passos

O EVANGELHO SECRETO DE LUÍS INÁCIO – II


Assim como até os 30 anos, segundo o Evangelho, pouco se sabe da vida de Cristo (com exceção de um debate com os escribas do templo aos 12 anos), praticamente nada se conhece do pensamento e comportamento político do Messias Luís Inácio até sua entrada no sindicalismo, aos 23 anos (em 1968, ano do AI-5 e do início da ditadura Médici).

Mas há uns dois anos, por ocasião do quadragésimo aniversário do golpe de 1964, veio à tona um episódio que talvez justifique os pendores fascistas do PT e a proximidade do Inácio da orientação econômica e social de velhos figurões do regime militar, como Delfim Netto, Sarney e Antônio Malvadeza.

Em depoimento para um especial da TV Senado sobre o infausto golpe que derrubou Jango para tornar o Brasil definitivamente uma colônia do interesse multinacional, o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony (homem sério, acima de qualquer sectarismo partidário) mencionava que havia sido divulgado há pouco, sem qualquer contestação, a participação do Inácio, aos 19 anos, jovem operário, na famosa “Marcha com Deus pela Família e a Liberdade”. Ato este realizado pelas matronas patriarcais pequeno-burguesas, representantes da pior histeria fascista e da peste emocional, e promovido por ilustres golpistas entreguistas como Ademar de Barros, com o objetivo de derrubar o governo João Goulart e impedir as reformas de base (entre elas a reforma agrária e universitária) que possibilitariam o surgimento de um Brasil decente.

Assim, o fato do Luís Inácio ter construído sua “Igreja Partidária” como pretensa força revolucionária socialista e, depois de eleito, ter adotado em seu governo a cartilha do pior capitalismo, aprofundando as reformas de FHC e mantendo a privatização de empresas pública nacionais, como a Cia Siderúrgica e a Vale do Rio Doce, e pretendendo derrogar direitos trabalhistas (como 13º salário e férias), deixa de ser uma casualidade. Seus antecedentes juvenis o aproximam do fascismo brasileiro e das elites (tão bem contempladas no atual governo) e nos revelam que a ojeriza de Lula à CLT e a toda obra de emancipação econômica de Getúlio Vargas não é um simples ranço “marxista”, mas vem de suas velhas simpatias políticas.

Agora faz sentido a ênfase do PT, desde o princípio dos anos noventa, no discurso purista da ética e da honestidade, tão próximo do golpismo, afiliado aos yankees, da velha UDN (que também era anti-getulista, por motivos óbvios). Os apóstolos de Lula que, em cada prefeitura e governo de estado conquistado reduzem o povo à disciplina de moleques da escola primária, sob a fantasia do “bem-estar” social, que ninguém viu, não estavam a serviço do “fascismo vermelho” (o totalitarismo stalinista que pretende regular cada ínfimo escaninho da vida dos “cidadãos”), mas eram apenas a face secreta da ideologia de 1964. Entretanto, como Cristo, Lulinha possui mistérios bem mais pesados e não imaginados em sua biografia… Só que ao contrário do “filho de Deus”, estes estão bem documentados, o que é assunto para o próximo post, onde conheceremos os títulos de especialização “científica” e universitária do Inácio, o erudtchio.

Ubirajara Passos

O EVANGELHO SECRETO DE LUÍS INÁCIO – I


Lula, o Cristo pós-moderno, como todo Messias que se preza tinha que ter um traidor. Outra hipótese não explicaria como tão pura e abnegada criatura seria capaz de comprar deputados pequeno-burgueses direitosos para aprovar projetos de interesse da direita e da grande burguesia (a “nacional”, se é que ainda existe alguma empresa de porte de capital exclusivamente brasileiro, e a imperialista), usando o dinheiro do povo.

Somente um “Judas”, digno de sua astúcia e providencial propensão à infidelidade, poderia cometer tal ato, sem conhecimento do “profeta da fome zero”, para levar o Brasil à “redenção” da Reforma Previdenciária e outras tantas.

O Luizinho, no início de sua “vida pública” aprendeu com seus amigos padres vermelhos (estranhos e híbridos seres capazes de professar o “socialismo” em uma organização destinada a manter o povo oprimido pelo auto-flagelo emocional e intelectual) o dístico fundamental dos salvadores políticos: “que o teu olho esquerdo não saiba o que faz a tua mão direita”. E, maneta que era (ainda que o dedo lhe faltasse justamente na canhota), tratou de logo assenhorar-se, na fundação de sua Igreja Ideológica, de um acólito que lhe fizesse o “serviço inconfessável”.

Ninguém seria mais adequado para semelhante papel (o que se revelou fartamente quando da multiplicação dos pães mensaleiros) que um Genoíno Judas, aquele mesmo que, membro da guerrilha do PC do B no Araguaia, um belo dia ouviu o chamado do “Espírito Santo” e saiu a passear pelo mato, descuidado. Até descobrir que o “chamado” era o canto do curió. Não o passarinho, mas o bronco coronel fascista do Pará. E Genoíno ficou tão deslumbrado que logo foi entregando a posição e o nome de todos seus companheiros guerrilheiros, até do próprio irmão de sangue…

A unir o Cristo “Vermelho” (o Inácio) e seu apóstolo Judas Genuíno, havia a relação em comum com as forças organizadas do fascismo nacional e a histeria imperialista e anti-comunista yankee. Mas isto é outro capítulo do “Evangelho”…

Ubirajara Passos

QUEM É DOM LUÍS INÁCIO?


Pretenso “pai dos pobres” e, em verdade, mãe dos ricos, o líder do Partido dos “Trabalhadores” (quais mesmo, afinal?) já foi tido como um “genuíno” sindicalista – defensor exclusivo da classe trabalhadora, forjado na luta quotidiana e sem qualquer intelectualismo elitista (o que dava status à sua condição de semi-analfabeto ). Como um clone de Lech Walesa (quando este ainda era a esperança “cristã” da Polônia e, ainda não tendo chegado ao poder, não havia feito o mesmo que o Inácio fez com o Brasil). Como um líder socialista radical. Ou um campeão da ética, da moralidade e da honra (uma espécie de Carlos Lacerda do povão).

Hoje, a camaleônica figura de nove dedos encarna , entretanto, às vésperas da eleição em que pode reeleger-se Presidente da República, o seu mais espetacular papel! Lula é o Cristo da pós-modernidade! Como Jesus, sua missão é redimir o povo oprimido através do sacrifício do próprio corpo. Só que ao invés de padecer na cruz, seu calvário é o Palácio da Alvorada e o Aero-Lula. Neles o pobre do Inácio, entre engulhos e fascinação, pode embuchar-se a farta do mais fino caviar e dos mais caros vinhos, e tratar com “gente importante” como George Bush, alcançando em si o sonho de todo sertanejo comedor de farofa, que – através do homem de Garanhuns – atinge o cume da salvação e do paraíso.

E, para que ninguém pense que o Luizinho é um Messias arrogante, em cada bolsa-família consumido pela família de uma mãe prostituída e miserável todos podem “comungar” de sua grandeza e se tornar um membro do “corpo sagrado ” do Inácio. Só lhe falta o chicote para corrigir hereges que se preocupam “com o que comer e o que vestir”!

No próximo post narraremos o Evangelho Secreto do Luís Inácio, encontrado nas margens do “Lago Morto” e escrito pelo Judas do Araguaia.

Hasta la vista.

Ubirajara Passos

GRUPO 30 DE NOVEMBRO – 5


Passei a semana inteira sem postar, no intuito de possibilitar que o Panfleto do Grupo 30 de Novembro fosse acessado pelo maior número de trabalhadores da justiça gaúcha possível. Segue-se agora a 2ª parte do panfleto

ONDE É MESMO QUE VOCÊ VÊ ISTO TODO DIA?

♦ Dar tarefas sem sentido ou que jamais serão utilizadas, ou, mesmo, irão para o lixo
♦ Dar tarefas através de terceiros ou colocar em sua mesa sem avisar
♦ Controlar o tempo de idas ao banheiro
♦Repetir a mesma ordem para realizar uma tarefa simples centenas de vezes até desestabilizar emocionalmente o trabalhador ou dar ordens confusas e contraditórias
♦Desmoralizar publicamente, afirmando que tudo está errado ou elogiar, mas afirmar que seu trabalho é desnecessário à empresa ou instituição
♦ Não cumprimentar e impedir os colegas de almoçarem, cumprimentarem ou conversarem com a vítima, mesmo que a conversa esteja relacionada à tarefa. Querer saber o que estavam conversando ou ameaçar quando há colegas próximos conversando
♦ Exigir que faça horários fora da jornada
♦ Mandar executar tarefas acima ou abaixo do conhecimento do trabalhador
♦ Espalhar entre os colegas que o trabalhador está com problemas nervosos
♦Divulgar boatos sobre sua moral
♦Controlar as idas a médicos, questionar acerca do falado em outro espaço, impedir que procurem médicos fora da empresa
♦Desaparecer com os atestados, exigir o Código Internacional de Doenças (CID) no atestado, como forma de controle
♦Colocar um colega controlando o outro colega, disseminando a vigilância e desconfiança
♦ Usar frases do tipo; “Ela faz confusão com tudo… É muito encrenqueira! É histérica! É mal casada! Não dormiu bem… é falta de ferro. Vamos ver que brigou com o marido!”

As atitudes listadas acima são quotidianas para a maioria dos servidores e se repetem, ano após ano, pelo Estado a fora, tomadas por magistrados, escrivães, chefes em geral, ou até mesmo oficiais escreventes ou quaisquer colegas de mesmo cargo entre si. E por serem tão freqüentes (é difícil encontrar um funcionário que ainda não tenha passado ou pelo menos presenciado qualquer uma delas) acabamos por achá-las “normais”. Ou, no máximo, nos conformamos com o racicínio de que elas fazem do parte do sistema, de que o mundo do trabalho necessita mesmo de disciplina e, por mais aburdos que tais atos possam ser, são exercidos para o perfeito andamento do serviço.

O que a grande maioria não sabe, ou não se dá conta, é que são típicos casos de assédio moral (todos os itens da lista acima foram fielmente reproduzidos do site www.assediomoral.org) contra o qual já existe legislação específica em todo o Brasil, tendo sido recentemente aprovado projeto-de-lei a respeito pela Assembléia Legislativa gaúcha.

O absurdo é que tais atos de opressão e humilhação são tão comuns em nosso ambiente de trabalho que sequer nos damos por conta de seu caráter profundamente opressivo e inaceitável, que atinge o âmago de nossa dignidade não apenas como trabalhadores, mas como seres humanos.

E enquanto aceitarmos esta realidade passivamente, continuaremos a engrossar as filas dos deprimidos, hipertensivos, portadores de tendinite e outros cuja maior doença é o próprio trabalho.

radicalizar é preciso!

Diante das práticas “administrativas” adotados pelo Tribunal, cujo caráter repressivo e dessintonizado das necessidades de servidores e população vem sendo incrementado nos últimos anos (vide o Projeto de Quebra da Estabilidade) só nos resta dois caminhos. Ou nos conformamos com a situação de moleques de internato e o tratamento de cão viralata, ou reagimos à altura dos ataques que o patrão nos desfere.

E o primeiro passo para tanto é se conscientizar da própria opressão.

O segundo é alertar os companheiros próximos e nos organizar, com convicção e coragem como categoria! Não adianta esperar que a direção do sindicato lute, só e sem nosso respaldo, nas instâncias oficiais. É necessário que o Sindjus esteja presente nas veias de cada servidor. E, sobretudo, é necessário que nos ergamos das nossas cadeiras e tomemos as ruas e praças para gritar QUE SOMOS GENTE, de carne e osso, e com DIREITO À DIGNIDADE!

Porto Alegre, setembro de 2006

GRUPO 30 DE NOVEMBRO

GRUPO 30 DE NOVEMBRO – 4


Antes da prometida malhação do Luís Inácio, aí está a malhação do patrão (o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul), a que não posso me furtar como Coordenador Regional da Grande Porto Alegre do Sindjus-RS e membro do Grupo 30 de Novembro, cujo novo panfleto (1ª parte) transcrevo a seguir:

 

OH, INSENSATEZ

GASTOS COM CCs PERMITIRIAM NOMEAR MAIS 2.114 ESCREVENTES

Ao contrário da canção de Tom e Vinicius, de mesmo título, a realidade não é nada estimulante. Conforme tabela divulgada no “Lutar é Preciso” da 1ª quinzena de agosto (pág. 6) a folha de pagamento dos CCs do Judiciário gaúcho atinge, mensalmente, o valor total de R$ 4.787.056,86.

Dinheiro, pra que dinheiro? Esta inocente cifra (qualquer quantia de milhões de reais é coisa banal nos orçamentos públicos), oculta, entretanto, uma perversidade inacreditável. Com ela (considerado o salário básico de um Oficial Escrevente de entrância intermediária: R$ 2.264,52) seria possível nomear (se não estivesse destinada a pagar o luxo de assessorias desnecessárias) 2.114 novos escreventes, sem gastar um centavo a mais do orçamento!

E isto quando a própria administração do TJ admite, na imprensa, faltar cerca de 1.700 servidores para atender à atual demanda de serviço.

É claro que tais vagas não se compõem somente de escreventes (há muitos cargos não providos de Escrivão, Oficial Ajudante, Oficial de Justiça, etc. neste total), mas, como o salário do “rato de cartório” está na faixa média das remunerações do Judiciário, pode-se afirmar, com toda segurança, que a grana gasta com os CCs apadrinhados permitiria nomear todos os servidores necessários e ainda sobraria dinheiro!

O fim do martírio
– O que significaria o fim do drama diário de todo nós, o fim das enormes pilhas de processos se acumulando sobre as mesas, das horas extras impagas infindas a que muitos companheiros se submetem, na tentativa de dar algum atendimento digno ao público.

Estariam resolvidas as centenas de casos de servidores deprimidos, neuróticos, acometidos de Lesão por Esforço Repetitivo e outras mazelas que transformam a Justiça Estadual numa fábrica de loucos e inválidos!

Os chefetes autoritários e os apóstolos da Qualidade Total não precisariam mais se preocupar em sofisticar seus métodos de pressão, tortura psicológica e assédio moral, na busca de uma produtividade inalcançável (pois o acúmulo de serviço é resultado da falta de funcionários e não da “vagabundagem” dos servidores).

Um judiciário para o povo
– E, sobretudo, a população teria a plena e rápida tramitação de suas demandas judiciais (sem os atrasos e contratempos que entulham os balcões diariamente) além de um atendimento realmente “de qualidade”, feito por funcionários bem humorados e atenciosos e não por sofridas carrancas estressadas.

Entretanto, ao que parece, a prioridade da Administração do Tribunal é outra!

A propósito: ainda que algumas atividades dos CCs possam ser necessárias, nada impede que sejam realizadas por funcionários de carreira, mediante o pagamento de FGs, cujo custo seria bem inferior!

GRUPO 30 DE NOVEMBRO

UM POEMA DE AMOR ENGAJADO


Ainda curtindo a fossa de um encontro mal acontecido, segue-se uma reflexão filosófica sobre os desencontros da palavra tão surrada, existencialmente desconhecida, e tão confundida com sentimentos estranhos à sua essência: o amor. Muito ao contrário das suposições românticas e idealistas (de que já comunguei e que hoje, ainda, chamuscam-me as idéias) que nele vêem só paixão, sofisticada, pelo ser amado, justificável além do próprio universo físico – e muito além da visão meramente “material” que o define como simples “atração” física e “necessidade biológica” a ser satisfeita, dissimulados pela ideologia dos sentimentos -, o amor apaixonado entre um casal é a mais sublime realidade na face da terra. Aquele encanto mútuo e aquela intimidade que juntam os corpos (não só os “órgãos”, mas a própria mente, que vive no cérebro e nos nervos) num deleite pelo simples contato de cada centímetro de pele, pela suave pressão de cada músculo de um no outro e não apenas no contato explosivo de caralhos e bucetas.

Encanto este que nos impele a estar junto o máximo de tempo possível, de que deriva um prazer sem fim, ao contrário das uniões forçadas por crença, dinheiro ou mera necessidade de “descarga” do tesão. Afinal não há nada mais grandioso no universo, se examinado do ponto de vista distante da realidade concreta e imediata, do que o fato de dois seres vivos, de carne e osso, só poderem sentir o maior prazer imaginável no contato um com o outro, de uma criatura humana ser ela própria, sem intermediações, a fonte imediata do prazer de outra! Mas vamos ao poema, que não idolatra e idealiza o amor nos dias de hoje, mas problematiza a coisa:

PARÁBOLA DO AMOR INSTITUCIONALIZADO

E eles viram-se e se amaram.
Um só olhar e o arrebatamento
Dominou completamente suas almas.
Um mundo indescritível de fascínio,
Um êxtase hipnótico e total
Explodia no simples contemplar!

Uma adoração embevecida e muda
Paralisou-lhes todo o ser ante a beleza
E não pediam um ao outro, para amá-lo,
Simplesmente, algo além do que existir.

Os gozos profundos de alma e corpo,
As atitudes surpreendentes que despertam
As emoções mais refinadas, os prazeres
Mais enlevantes, os mais estranhos entusiasmos
Completariam, mas não eram necessários
Àquele amor incondicional e obcecante
Nascido no relance de um olhar.

E eles se olharam, no primeiro instante,
E o seu ser todo ardeu apaixonado…
Mas, no segundo instante, os compromissos,
As exigências “racionais” da sociedade
Crisparam-lhes a alma e afastaram-nos.

Saltou a seus olhos o infinito sofrimento,
As dores, as renúncias de si mesmo,
O rosário imenso de incômodos,
O torturante e insosso teatro
Necessários à sua “conquista”.

Quanta cobrança permanente
De glamour, de falsos entusiasmos,
Quanta desnecessária “competência”
Ou sobre-humanas performances,

Quanta fidelidade a espezinhar
O prazer básico de amar livremente…
Quanta exigência antepomos à simples paixão!

Que volúpia tamanha e doentia
Domina-nos para que convertamos
O mais legítimo e puro dos prazeres
Num descomunal vórtice de dor?

Gravataí, 7 de novembro de 1999

Ubirajara Passos

UM POEMA SOLITÁRIO


Quando a penumbra toma nossa alma e a melancolia nos envolve no seu gozo mórbido, só a cólera endoidecida é capaz de nos curar. Por incrível que pareça, o mundo atual padece mais de falta de cólera e intolerância (coléra com a miséria e opressão, a desumanização e coisificação a que somos expostos todo dia e intolerância com os interesses e atitudes dos “donos” da sociedade que nos impõem seu domínio) do que seu eventual excesso. Assim, para lenitivo dos leitores que, como eu, se encontram imersos no cinza do cansaço e do desconsolo, vão a seguir alguns poeminhas instigantes:

Solidão:

Maldita companheira, muda e indesejada,
Que nos insufla com tua presença
Os mais tristonhos, ruminantes pensamentos,

Tu, que és avó do mundo, que lá estavas
Quando um peido quântico criou tudo,
Por que insistes, tão pequeno sou,
Em preocupar-se comigo e acompanhar-me?

Esta tua cara imóvel e tediosa
Faz mal ao meu espírito boêmio
E azeda o vinho que sorvo contigo.

Te some, velha deusa encarquilhada!
Se a tua visita eventual é inspiradora,
A permanência em minha casa é insuportável

Vai ir morar aonde sejas útil:
Nos cemitérios que, eu sei, te entediam,
Na vastidão do deserto do Sahara,
Ou com os safados que oprimem o povo!

Gravataí, 26 de agosto de 2006

Ubirajara Passos

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PEQUENO BESTIALÓGICO METAFÓRICO POPULAR

Fui-me à puta que pariu,
O Diabo que o carregue é meu irmão,
Tomar no cu vai tu.

Lamber sabão talvez seja o remédio –
Que tomar banho é coisa muito chata,
Plantar batatas ou ir à merda dá trabalho
E pentear macaco, além de temeroso,
É coisa antiga do tempo da onça

Caduca
Que
miava ao longo do caminho
Lá onde o Judas perdeu botas rotas
E foi se fuder sem nenhum auxílio externo!

Gravataí, 15 de outubro de 2005

Ubirajara Passos

OBRIGAÇÃO DE SER FELIZ


Quero agradecer aos comentários postados ontem pelo meu irmão de fé e cachaça, o Nego Dantas do Sindjus-RS, da periferia porto-alegrense e dos incríveis butecos do Mercado Público (quem não conhece o mercado, gaúcho ou não, não sabe o que está perdendo). Muito me emocionaram e me convenceram que o companheiro Jorge Dantas tem bom potencial pra escrever. Basta seguir a sua receita para a vida: dizer as coisas com emoção e tesão, da forma como vêm das entranhas, grávidas de vida e disposição de luta. Escrevo apenas o que a vida me ensinou. Antes eu precisava de mil sistemas e teorias para justificar a existência humana. Hoje sei que a maior ventura é apenas viver, buscar e gozar de prazer e liberdade e, sobretudo, não permitir que nos usem e escravizem impunemente. Em homenagem a tão ilustre admirador segue mais um “sermão na Igreja de Satanás:

Da Obrigação de ser Feliz

Mais infausta ainda que a “infelicidade” objetiva é a felicidade obrigatória e pré-concebida do breviário revolucionário organizado (os partidos e grupos políticos “socialistas” institucionalizados – com autorização, ou alvará de funcionamento – da democracia burguesa ocidental ou do fascismo de esquerda remanescente).

Enquanto o infeliz (no sentido banal e aceito do termo) pode viver seu tormento, e identificar-se como tal, exclusivamente pela noção subjetiva de sua situação (derivada, muitas vezes, dos ideais de felicidade introjetados dos catecismos religiosos, doutrinário-filosóficos, e das prescrições implícitas da moda ou mídia burguesas), o indivíduo submetido aos reclamos iluminados e intelectualóides dos modernos profetas redentores (os ideólogos do bem-estar e conforto produzido em série) estará tanto mais afastado do prazer genuíno e benfazejo, quanto mais se esforçar em atender-lhes as exigências e padrões impostos.

Além de estar fatalmente condenado à desgraça, não terá qualquer oportunidade de alcançar o “paraíso” justamente por tê-lo congelado e normatizado dentro de si. Sua tão almejada ventura, na medida em que corresponder aos planos alheios, abstrusos e “objetivos” dos messias da “salvação” proletária, estará reduzida à frieza dos silogismos e “padrões” pré-determinados, que podem ter toda intimidade com critérios matemáticos e abstratos de excelência e insuficiência, à semelhança dos parâmetros de classificação de um cão ou gato de exposição, mas nada em comum possuem com a realidade e necessidades efetivas de seres feitos de carne e osso, com emoções e percepções próprias, cuja validade se justifique na sua íntima experiência e não em planos etéreos e cartilhas “deduzidas lógica e objetivamente”.

O ideal religioso, explicitamente autoritário e opressor, da salvação da alma justificava a submissão, e o conseqüente sofrimento, da maioria coisificada sob o argumento implacável do julgamento divino – que premiaria ou condenaria os indivíduos em uma pretensa vida futura, conforme estes se resignassem ou não à dominação e à “morte em vida” . Já o imaginário laico da “felicidade coletiva” (mesmo nos raros casos em que não está a serviço do domínio e da exploração velada, típica do fascismo “vermelho”) encobre o desejo de domínio absoluto sobre os mínimos detalhes da vida alheia sob o argumento do altruísmo de seus gurus.

Os “apóstolos” agnósticos da revolução autoritária (que hoje são, em sua maioria, inofensivos e devotados “socialistas democráticos” – e não “comunistas totalitários”) não pretendem manter as multidões oprimidas acorrentadas à uma existência inexoravelmente degradante, sob a desculpa da determinação extra-humana de deuses e princípios. Ao contrário, proclamam, aos brados histéricos e altissonantes, sua total devoção à “felicidade” humana! E, para que ela seja plena e infalivelmente assegurada, planejam, na solidão e aridez de seus gabinetes (modernos ermitões ateus), cada atitude e condição íntima do quotidiano de seus “beneficiários” para que estes não “se percam do reto caminho” rumo à realização programada.

Querem ardentemente um paraíso na Terra, e não num falso Além, mas um “paraíso” não “caótico” e “anárquico” (sujeito ao ao arbítrio das suscetibilidades individuais) que ponha em risco a perfeição de seu programa; um “paraíso” racional e “responsavelmente” determinado por suas brilhantes mentes, longe do qual não há qualquer possibilidade de “realização do ser humano”. Assim, como caudatários racionalistas do velho totalitarismo da sociedade de classes (“purificado” de irracionais e “preconceituosos” ideários monárquicos, religiosos e metafísicos) os nossos novos salvadores da humanidade “mensurarão” a “felicidade” de povos e grupos segundo índices “objetivos” de “desenvolvimento humano” – tais como o percentual de alfabetização, mortalidade infantil ou a “renda per capta” de determinada sociedade – e providenciarão para que seus “governados” se encaixem nas melhores estatísticas fixadas, pouco lhes importando o íntimo grau de satisfação e liberdade dos milhares e milhões de pessoas a eles submetidos.

Para nossos beneméritos novos “pais da humanidade” o acesso às mínimas condições materiais (como energia elétrica e água encanada) e culturais (o domínio do be-a-bá e da matemática), ou a “regalia” de possuir na residência um moderno aparelho de DVD, justificam a servidão humana, seja através da escravidão assalariada capitalista, ou – na melhor e mais remota das hipóteses – de um socialismo “coletivista” onde cada um, mesmo garantido o maior e mais justo bem-estar a todos, esteja submetido a interdições e prescrições de pensamento e comportamento. Esteja jungido a modos de sentir, raciocinar, gozar e agir pré-determinados e heterônomos – sem qualquer direito ao questionamento e originalidade na construção de sua biografia – sob a pretensa “necessidade” inapelável de regramento da vida (cerceamento e “fossilização” de todo movimento mental e emocional expontâneo) para a mais perfeita “harmonia” e “felicidade dos homens”.

Estas normas se apresentam como a encarnação mais perfeita e irrefutável da lógica, totalmente alheias a crenças e preconceitos irracionais. Mas sua pretensa raiz científica e especializada é justamente a face visível de seu estranhamento do raciocínio livre e isento de arbitrariedades derivadas da vontade de domínio.

Tal utopia de felicidade outorgada pretende validar o jugo de nossas vidas ao conhecimento de Psicologias, Sociologias, Economias, Éticas etc. gestadas segundo o ponto de vista totalitário e “não-envolvido” de seus “iniciados”, mas sem qualquer intimidade e participação efetiva de nossas emoções, percepções e pensamentos individuais. Sua transformação em realidade nos reserva a alegre e espetacular condição de autômatos infalivelmente programados.

Ubirajara Passos