O golpe de estado dos jegues furibundos


Eu me encontrava percorrendo com a Isadora, a pé, numa caminhada de cinco quilômetros, a Estrada da Corcunda, na zona rural de Gravataí, ontem à tarde,  lá pelas quatro horas e quinze minutos, ainda em seu trecho inicial suburbano, quando uma das mais queridas e velhas amigas – colega aposentada (casualmente a mais ferrada financeiramente, eis que ocupava o cargo de auxiliar de serviços gerais na ativa e tem seu contracheque esburacado por todos os cantos pelos mais diversos empréstimos consignados) que nos áureos tempos de nossa militância junto à gestão Magali Bitencourt no Sindjus-RS me acompanhou na marcha à Brasília contra a reforma previdenciária do Luís Inácio, em novembro de 2004 – me enviou pelo whats app esta mensagem: “Acabou de dar na TV que os bolsominios invadiram o Planalto  e o supremo”. Respondi, por áudio, que era uma tentativa concreta de golpe e que para frustrá-la era necessário descer a marreta e  botar todo mundo na cadeia.

E, tendo já lido de manhã notícia, na versão digital do jornal gaúcho O Sul, sobre o cercamento da Praça dos Três Poderes, por ordem do ministro Flávio Dino, para evitar a tal manifestação, e ouvido do vizinho ermitão (daqueles de longa e branca barba, pátio que se assemelha a uma barricada e uma tropa de gatos no chalé de madeira em que habita), ao iniciar a caminhada, de que estava se dando a “quebradeira” em Brasília (que supus fosse mera figura de linguagem), prosseguimos tranquilamente a caminhada até atingir a Igreja Nossa Senhora do Carmo (típica capela construída toda em pedra de alicerce à vista), de onde retornamos por volta das seis horas da tarde.

Durante todo o trajeto ouvira o pipocar da campainha do whats app, mas não me preocupara, curtindo o passeio com a minha filha e sua cadela Patrícia. Mas já tendo passado pelo supermercado Jadan, resolvi conferir as mensagens e dei com uma dúzia delas, dos mais diversos companheiros,  no grupo de militância sindical “Luta e Indignação” (que criei com os membros da nossa frustrada chapa às eleições do Sindjus neste ano) dando conta, em detalhes, da baderna dos “terroristas  bolsonaristas radicais” (como agora os designa, num misto da linguagem da ditadura de 1964 com a intenção de agradar ao novo governo federal, a Rede Globo de Televisão) no Palácio do Planalto, sede do STF e Congresso Nacional. Ainda me encontrando a cerca de um quilômetro, a pé, de casa, mal comentei as mensagens e ainda consegui ouvir na Rádio Pampa, em sua versão on line, a :transmissão em que Lula, da prefeitura de Araraquara, no Estado de São Paulo, lia o decreto de intervenção no Distrito Federal, justificando-o, a seguir, em discurso.

bozo atrás das grades

Já na troca de mensagens iniciais com a companheira Gilmara (a colega aposentada a que me refiro), ela havia me lembrado que, quando de nossa marcha pelo Sindjus, com outras tantas entidades sindicais e movimentos populares por muito menos (um estudante que, junto com outros, havia invadido o laguinho em frente ao Congresso, havia jogado uma pedra na vidraça deste) havíamos sido corridos a cacetete pela polícia montada da Esplanada. E, a medida em lia as manifestações dos companheiros, me dava conta da bundamolice da polícia de Brasília em relação à horda fascista, chegando a conduzi-la pela mão até os prédios para, em plena conivência safada, invadi-los e  depredá-los numa fúria própria de fanáticos religiosos de seita sertaneja.

À noite, já chegado em casa, tive o prazer de assistir ao recolhimento de uns quantos ao xadrez, e posteriormente, ao Presídio do Distrito Federal, tendo ido dormir já de madrugada, a me inteirar dos detalhes da circense (mas nem por isto pouco séria) tentativa de golpe  da extrema direita brasileira, tendo agora de manhã publicado a reflexão que segue, em meu perfil no facebook, que pretende resumir meu ponto de vista a respeito do episódio:

“Foi necessário que os jumentos enfurecidos destruíssem documentos históricos e obras de arte de inestimável valor cultural, além de vandalizar mobília, rasgar documentos oficiais (inclusive o original da Constituição de 1988 e os quadros da galderia dos ex-presidentes da república) e quebrar aparato eletrônico da sede dos três poderes da república.

Mas finalmente os bolsonazistas golpistas estão sendo conduzidos ao lugar que lhes é devido e já deviam se encontrar desde que o primeiro caminhão a serviço da patronagem escravista iniciou a obstrução da primeira rodovia nacional após a eleição de 30 de outubro: A CADEIA!

A ameaça, tosca e furibunda como as atitudes de seu grande líder “mítico”, entretanto, só cessará quando a Penitenciária da Papuda tiver o privilégio de receber um ilustre hóspede, para fazer companhia a seus pupilos, condenado à pena máxima pelo genocídio em que 700 mil brasileiros foram imolados, sem a menor necessidade, nos braços do Corona: JAIR MESSIAS BOLSONARO, a versão radicalizada, ao sul do Equador, em todos os aspectos (inclusive os burlescos) do fascismo yankee trumpista, que nestes dias repete as antigas elites cubanas lambe-cu das botas estado-unidenses, fazendo cena de vítima do “comunismo”, escondido em Orlando na Flórida.

Vários deputados democratas americanos já se manifestaram, desde ontem, nas redes sociais, defendendo sua extradição ao Brasil, diante do episódio do “Capitólio Tupiniquim” perpetrado no domingo. Mas é preciso que os que mais sofreram com as consequências de seu tresloucado e arbitrário governo, os trabalhadores brasileiros, garantam nas ruas que isto se torne uma realidade, bem como o afastamento de toda e qualquer nova tentativa cretina de golpe, assim como a revogação das reformas trabalhista (realizada na gestão do golpista Temer) e previdenciária (executada no governo Bolsonaro).

Hoje às 17 h, na esquina democrática em Porto Alegre, e às 18 h, no MASP, em São Paulo, ocorrem atos públicos pela exemplar investigação e prisão dos golpistas: ÀS RUAS, CAMARADAS!”.

Ubirajara Passos

Aos militantes que se acotovelam em frente aos quartéis, agora embalados por uma representação judicial maliciosa e falaz no TSE:


Saibam que Bolsonaro não poderia nem ter sido candidato. Deveria estar preso, inclusive, em razão dos 700 mil brasileiros mortos em consequência de sua política sanitária anti-isolamento, anti-máscara e anti-vacina.

Tentou roubar a eleição mandando a polícia federal reter virtuais eleitores do adversário em pleno pleito e mesmo assim perdeu.

Não existe fraude, não existe manipulação. Por escassa margem, é bem verdade, o setor mentalmente saudável da população brasileira o impediu de se reeleger no dia 30 de outubro e esta vontade está legitimamente expressa nas urnas.

O fascismo doentio, anti-prazer e anti-vida foi derrotado e não tem mais volta.

Admitam a verdade e voltem para casa a fim de lamentar, com oceanos de lágrimas, a desgraça do "mito" assassino. 

Seu calvário nem iniciou ainda e o sangue de cada brasileiro desnecessariamente falecido nos braços do Covid só será devidamente honrado quando este monstro for condenado a pagar seus crimes na masmorra pelo resto de sua ignóbil vida!

Ubirajara Passos

Ação judicial da coligação de Bolsonaro visando anular os votos de 40% das urnas e declará-lo eleito é o coroamento de manifestações aparentemente ingênuas, tresloucadas e inócuas. Urge ao povo ocupar as ruas ou o golpe se tornará uma cruel realidade.


Diante da representação apresentada ao TSE hoje alegando sérios problemas em 40% das urnas utilizadas no segundo turno das eleições presidenciais (ver notícia clicando no link aqui), cujo caráter tecnológico pretensamente antiquado comprometeria a fidedigna expressão da vontade do eleitorado, se torna explícito que o golpismo verbal dos bolsonaristas pós-30 de outubro não é mera reina furibunda sem maiores consequências. Nem o profundo silêncio de seu mito mentecapto.

O golpe está a caminho. Estruturado juridicamente e não apenas alicerçado nas manifestações do que parece, aos olhos ingênuos da maioria, um rebanho demente de fanáticos folclóricos e tresloucados.

Começaram trancando rodovias. Não houve a devida reação legal das autoridades responsáveis.

A seguir foram para a frente dos quartéis bradar e desfilar Brasil afora. O caráter histérico e estrambótico dos protestos bolsonazistas que pregavam de forma escancarada (em flagrante delito de crimes qualificados no próprio Código Penal) o rompimento da ordem jurídica constitucional e democrático não sofreu sequer a reprimenda de de um mero boletim de ocorrência e a reação da maioria dos militantes populares foi de riso e desconsideração diante do que se considerava apenas um bando de fascistas inconsequentes, cuja manifestações hidrofóbas se dissipariam no cansaço do tempo sem maiores repercussões.

A maior parte das organizações partidárias de esquerda e organizações da classe trabalhadora, tranquilizadas pela ideia de que não há clima institucional para qualquer golpe, mantiveram-se silentes, crentes que qualquer reação pública à altura das ações golpistas poderia dar pretexto a um clima de exasperação almejado pelas provocações bolsonaristas e o melhor remédio contra elas seria a indiferença.

Somente alguns poucos movimentos e organizações sindicais e partidárias populares, cientes de que não se trata de mero “mi-mi-mi” de perdedores inconformados e inofensivos, saíram às ruas para protestar contra a incitação expressa ao golpe militar manifestada (e exigir a revogação das reformas trabalhista e previdenciária que foram o principal objetivo da derrubada de Dilma, a prisão de Lula e o apoio à eleição de Bolsonaro), como as mil pessoas que marcharam na Borges de Medeiros, na tardinha de quinta-feira passada em Porto Alegre.

E agora, hoje, depois de semanas de silêncio do líder mentecapto, e muito barulho de seus adeptos, temos o coroamento do que se julgava um mero desabafo tresloucado de perdedores surtados. A contestação à eleição de Lula, e à retomada do processos democrático no Brasil, toma as cores concretas e perigosas de uma representação jurídica perante o Tribunal Superior Eleitoral, visando, com argumentos técnicos duvidosos, anular o resultado de 40% das urnas utilizados e reconhecer a pretensa vitória da candidatura do nazista genocida Jair Bolsonaro à Presidência da República.

Ainda que seja rechaçada pelo TSE e pela suprema corte de justiça do país, a ação e seus argumentos servirão de pretexto não só para os protestos aparentemente inócuos, que já incluíram a tentativa malograda de uma greve geral de patrões, mas para eventuais ações de força concretas do aparato militar, que estariam sendo tramadas a boca pequena nas casernas, segundo membro do Tribunal de Contas da União, conforme áudio vazado nesta semana, e recebido sem a devida importância.

Se não houver a devida ação necessária do judiciário, com a prisão e processamento de todos envolvidos nas manifestações pró-golpe, na forma legal, estará se incrementado de forma perigosa, e talvez inevitável, o desfecho de uma quartelada, eventualmente apoiada por setores do grande capital, que começa a inquietar-se no setor da especulação financeira e acionária, assustado com meras declarações do presidente eleito a respeito da prioridade das necessidades sociais do povo brasileiro frente à austeridade tacanha da “responsabilidade fiscal”.

Mas não podemos esperar pela mera reação institucional das autoridades. Mais do que nunca se faz necessário que a massa trabalhadora, a que sustenta os privilégios inomináveis dos patrões das altas cúpulas, e faz andar o Brasil, ocupe as ruas para evitar o golpe e dar sustentação ao novo governo (inclusive exigir deste o mínimo de compromisso com as multidões que tiveram retirados na marra seus direitos trabalhistas e previdenciários pelo processo golpista inaugurado em 2016).

Ou poderemos assistir até o fim do ano, calados e estupefatos, a inviabilização da posse de Lula ou uma solução de compromisso e “pacificação” similar a que tentou manietar Jango em setembro de 1961, quando o Movimento da Legalidade tornou inviável o golpe contra sua posse, instaurando um parlamentarismo falcatrua e de ocasião, somente derrotado por um plebiscito popular, em janeiro de 1963. Que não evitou, um ano e dois meses depois, a deposição do último governo efetivamente comprometido com as reformas necessárias à garantia da dignidade popular e a defesa do Brasil contra a espoliação internacional, por um golpe (admirado pelo capitão Jair) que, instalando a mais cruenta ditadura fascista e anti-nacional, nos legou o Brasil da miséria e violência generalizada que ainda hoje vivemos.

Ubirajara Passos

A noite acabou, mas os primeiros raios do sol apenas estão surgindo e é preciso a luta redobrada para que a aurora se complete


Na manhã da última segunda-feira de outubro, há quatro anos, eu trazia a este blog o medo e o nojo profundo que me invadiam diante da vitória do fascismo golpista, incentivada e premeditada pela corja dominante do escravagismo assalariado daqui e d’além-mar, mas terminava a crônica noticiando a minha incorrigível e temerária teimosia em prosseguir batendo na dominação e resistindo, porque simplesmente não sabia viver de outro modo. Citava então o “primeiro poema” que a Isadora, com seus 10 aninhos, havia parido na primeira madrugada do ano, na hora de deitar, me afirmando: “São os nossos sonhos que fazem o sol nascer. Se a gente não dorme, o dia não vem. E as nuvens são os nossos pesadelos.”


Ontem à noite, no auge do entusiasmo dos seus 14 anos, esta mesma menina, divertiu-se, no momento da virada, comemorando a apertada vitória da dignidade humana e da liberdade a enviar vídeos satíricos do tyk tok, esculhambando o nazista defenestrado do Palácio do Planalto, para suas amiguinhas.


E agora pela manhã, passada a euforia da vitória absolutamente necessária para a retomada de um mínimo de normalidade, chego à conclusão que não há outro caminho para nós, defensores da vida e da justiça aos que a forjam todo santo dia no suor de um trabalho inglório, do camelô fudido ao funcionário público definitivamente proletarizado (condição na qual me incluo), que não redobrar a heroica resistência destes últimos quatro anos e tomar as ruas não apenas para dar uma corrida vigorosa nas tentativas tresloucadas de reação fascista que começam a se articular numa nova onda de protestos e ocupação de rodovias por camioneiros direitosos  Brasil afora (pedindo intervenção militar em 72 horas), mas para fazer valer o empenho muito além do resgate simbólico da dignidade.


O novo governo só se sustentará, e se sustentando garantirá o seguimento da democracia e o afastamento definitivo da ameaça do totalitarismo truculento, se tiver a seu lado, organizado e militante, o povo na rua, mas este próprio povo não possuirá condições de manter o ânimo se a retomada da luta pela revogação concreta da escravidão abolida em 1888 pela princesa regente da Casa de Bragança restringir-se às declarações formais e ao papel. É urgente e necessário que a mais nefasta obra dos golpistas de 2016, a que realmente justificava a deposição de Dilma, a prisão de Lula e a eleição do ridículo, mas perigosíssimo, capitão do mato histérico seja desfeita e integralmente revogada: a reforma trabalhista e previdenciária.


Chegamos a um momento de enfrentamento em que a maioria parlamentar fascista forjada a nível federal pelo uso da máquina pública pelo Coiso (que ontem, novamente, tentou usá-la no seu desespero, transformando a polícia rodoviária federal em jagunçada a serviço de seus planos continuístas) e o histerismo coordenado de seus adeptos nas ruas necessariamente nos forçarão à reação concreta, pela retomada das marchas de milhões sedentos de dignidade iniciada em 2013, para simplesmente impedir que a noite engula a frágil alvorada que hoje se anuncia. Mas para a peonada ralada deste país de pouco valerá o enfrentamento se este resultar na simples manutenção da ordem democrática, jurídica e formalmente.



E fatalmente a reação ao golpe há de dar um passo além, sob pena de esvair-se, forçando a completude da obra iniciada na teimosia resistência de anos atrás. Para a grande massa da peonada brasileira não será suficiente a purificação dos ares com o banimento do fedor nauseabundo do totalitarismo histérico. É preciso garantir a revogação, no mínimo, de toda a barbaridade cometida contra a classe trabalhadora e a efetiva valorização do salário mínimo, para que este retome, em alguns anos, o pico real recebido no governo de Juscelino Kubitcheck em 1959, que atualizado para hoje é superior ao próprio salário mínimo necessário apurado pelo Dieese, de mais de R$ 6.000,00, pelo protagonismo político mobilizado da massa que sustenta, esquálida e cansada, com seu trabalho, este país.


Passamos por um pesadelo cruel e assassino e não poderemos admitir que (além da justiça necessária, com a condenação de seu líder à prisão perpétua por crime contra a humanidade, na Corte Internacional de Justiça) o sangue de cada trabalhador morto nos braços do Covid-19 em razão do genocídio planejado pela ala mais bandida e tresloucada da voraz burguesia escravagista do Brasil tenha sido em vão. É preciso conquistar, muito além das benesses assistencialistas do passado, a  concreta dignidade para o povo brasileiro, ou a luta, que se mostra ainda mais feroz e encarniçada, não terá valido a pena.

Ubirajara Passos

É responsável pelo morticínio todo líder político que não esteja engajado de fato no afastamento de Jair Bolsonaro


Diante do descontrole absoluto do Coronavírus, é preciso que se diga aos líderes dos partidos da esquerda hegemônica no Brasil : antes de qualquer eleição, precisamos afastar Bolsonaro da Presidência da República. Quantos outros 300 mil brasileiros terão de morrer até que a esquerda eleja o Presidente da República e este comece a governar, daqui há dois anos?

Vivemos um processo de morticínio nunca visto na história deste país, que o transformou numa séria ameaça sanitária ao resto da humanidade e a única forma de estancá-lo é o afastamento dos sócios da morte do Palácio do Planalto. Ele não ocorrerá, entretanto, se as lideranças políticas da oposição não tomarem a seu cargo o burburinho necessário para vencer o ranço proposital dos responsáveis pela deflagração concreta do impedimento no Congresso.

Neste momento, são responsáveis pelo holocausto desnecessário e inútil dos brasileiros tanto a Presidência da República quanto uma oposição de esquerda que tem os olhos voltados tão somente para a eleição de 2022 e admite um mar de defuntos se acumulando aos nossos pés, que para alguns se constitui até em pretenso trunfo para a vitória.

Para levarmos o povo brasileiro à condição de uma vida digna do sacrifício com que cria diariamente, com o suor de seu trabalho, as riquezas nacionais rapinadas pelo grande capital forâneo, é preciso que este povo esteja primeiramente vivo e, a continuar o senhor Jair Messias no poder, é certo que no mínimo um milhão de brasileiros terá ido residir nos cemitérios até o final, rotineiro e sem sobressaltos no mundo da fantasia política jurídico-institucional, termine.

Ubirajara Passos

Do pretenso racismo do hino rio grandense (ou, por que o combate à opressão deve incluir a interpretação desassombrada dos textos…)


Não pretendo discutir a legitimidade da postura dos vereadores negros do Psol de Porto Alegre em se manterem sentados durante a execução do Hino oficial do Rio Grande do Sul no ato de sua posse, cuja atitude se tornou polêmica a partir da reprimenda de uma vereadora nitidamente fascista.

Mas é preciso, em meio ao festival de questionamentos e elucubrações de natureza política, histórica e sociológica suscitados, em cujo emaranhado polarizado até as raias do desconhecimento histórico e do revisionismo tacanho (há quem pretenda extirpar mais uma estrofe do hino, além da que já o foi em plena vigência da ditadura militar, por haver nela referência a “tiranos”) não intento mergulhar, que se traga alguma sanidade e lógica ao debate, evitando assassinar o português em prol do folclore político e ideológico desusado.

Que se questione conteúdos subliminarmente preconceituosos é muito louvável e absolutamente necessário. Mas, para tanto, é necessário não assassinar a lógica linguística básica e se forçar o sentido de um texto pela construção externa a sua própria estrutura. E, muito menos, ao contextualizá-lo no ambiente histórico e geográfico em que foi parido, induzir sua caracterização a partir de critérios arbitrários e toscos.

Salta aos olhos de qualquer um que examine o conteúdo do hino rio grandense, tachado de racista, com um mínimo de isenção ideológica (isenção esta não entendida como a falsa neutralidade da razão frente ao privilégio e ao preconceito gritante, mas como atitude desarmada da mente pronta a examinar os fatos concretos a partir de si, sem nenhum julgamento prévio – pré-conceito – a  realidade empírica), que os seus pretensamente ofensivos versos (“mas não basta pra ser livre/ser forte, aguerrido e bravo/povo que não tem VIRTUDE/ acaba por ser ESCRAVO”) não se referem a um segmento determinado da sociedade gaúcha ou brasileira existente na época de sua confecção, mas ao conjunto do povo rio grandense que, na visão política idealizada do poeta, posterior aos fatos que retrata (a revolução farroupilha) se encontrava submetido, dominado, escravizado (metaforicamente falando) aos interesses da corte imperial, que lhe seriam contrapostos e prejudiciais. Se troque, numa descontextualização mais próxima de nosso ambiente, o sul da América Latina, Bento Gonçalves por Leonel Brizola ou Fidel Castro e teremos um libelo anti-imperialista e anticapitalista dos brasileiros ou latino-americanos frente ao domínio do grande capital yankee, europeu ou transnacional do século 20 ou 21.

E é notório que a “virtude” a que se refere o texto se identifica, no contexto político interno que o informa, menos à pretensa RETIDÃO MORAL dos “puros” e soberbos “homens de bem” (senhores brancos de propriedades fundiárias, pecuárias e humanas – fazendeiros privilegiados que lideravam o movimento), contraposta a uma suposta devassidão criminosa e anti-ética da ralé (o “povinho”, que na forma de escravo negro ou peão avulso, sem terra, gaudério mestiço de índio e descendentes brancos de europeus ibéricos, sustentava os privilégios dos estancieiros no suplício da faina exercida debaixo do tacão e sem condições dignas de sobrevivência), que tende a justificar historicamente as diversas formas de dominação social desde a Pré-História ao nosso capitalismo pós-moderno virtualizado, do que às qualidades necessárias à manutenção da liberdade deste povo ou nação frente ao avanço de seu opressor, no caso específico os interesses da elite hegemônica representados no governo central do período regencial frente aos da marginalizada elite regional dos estancieiros farrapos. Se transportarmos a ideia para nossos dias, de pretensa igualdade política formal (em que teoricamente a maioria trabalhadora escorchada e dominada detém o mesmo privilégio político de escolher seus representantes no aparato estatal que os antigos eleitores possuidores de renda e propriedades privilegiados que os habilitavam a votar, no regime monárquico), a VIRTUDE a que se refere o hino seria antes a consciência, a capacidade de defender os próprios interesses e necessidades frente ao domínio espúrio e contraposto de outrem, que nós próprios, revolucionários socialistas, libertários e anti-imperialistas defendemos com unhas e dentes.

Não é porque os líderes do movimento eram fazendeiros (estancieiros) proprietários de escravos, que não pretendiam abolir a escravatura, nem porque a liderança militar final compactuou com o inimigo para o genocídio absurdo dos lanceiros negros, que se deve forçar a interpretação dos versos do “Chiquinho da Vovó”, até onde se sabe escritos posteriormente ao fim da Guerra dos Farrapos.

A injúria sub-reptícia da estrofe “maldita” existiria concretamente e teria toda a lógica, além das simples regras linguísticas, se estivéssemos tratando de um hino feito por ou na intenção de líderes dos Estados Confederados da América, cujo grande motivo de sua rebelião era a necessidade de manutenção do Instituto ignóbil da escravidão ameaçado pelo governo central americano sediado em Washington. Na boca destes revoltosos sulistas dos “States”, com certeza, a intenção dos versos de um poema laudatório adotado como hino estadual pelos positivistas republicanos gaúchos ciosos da autonomia regional (no seio dos quais foi parido Getúlio, cujo governo legou aos modernos escravos assalariados brasileiros os direitos trabalhistas básicos, revogados pelo fascismo racista e anti-povo dos nossos dias) seria sim arrogante, racista e condenável, mas não no caso concreto!

Ubirajara Passos

 

O rascunho da Carta-Testamento


Há exatos 66 anos, na manhã de 24 de agosto de 1954, encurralado pelo golpismo servil de milicos e lacaios políticos defensores do imperialismo yankee (a mesma turma, cujas novas gerações no século XXI, após depor Dilma Rousseff, tratou de revogar o que restava dos direitos trabalhistas e previdenciários promulgados por seu odiado desafeto), Getúlio Vargas desferia, deitado de pijama após uma longa madrugada de infrutífera reunião com o Ministério, um tiro no coração, inviabilizando o golpe que, destituindo-o, inauguraria dez anos antes, a ditadura que deformou o Brasil definitivamente, nas mãos dos ídolos militares do Jairzinho Capitão do Mato.

Junto ao seu leito de morte se encontrava a Carta-Testamento, em versão datilográfica por ele assinada (uma das cópias autografada, inclusive,na presença de Tancredo Neves, seu Ministro da Justiça, que recebeu a caneta-tinteiro de presente na ocasião, pouco antes da última reunião do Ministério às 3 horas da madrugada).

bilhete do suicídio 1

Seis dias antes, porém, seu ajudante de ordens, o Major Fitipaldi, encontrara sob a mesa de Getúlio, no gabinete presidencial um “bilhete” escrito a lápis, que entregou à Alzirinha (filha mais próxima, e secretária, de Getúlio), a qual interpelou seu pai com a peça em punho, lhe sendo tomado por ele, dizendo: “Não é nada disto que tu estás pensando”.

Dias depois após o suicídio, as cinco folhas de bloco oficial da Presidência da República, manuscritas e assinadas de próprio punho por Getúlio Vargas foram encontradas entre as coisas do grande líder morto, sendo divulgadas publicamente pela filha predileta somente 34 anos depois, em 1978.

bilhete do suicídio 2

Embora tenho sido referido como “a verdadeira carta”, contraposta ao que seria uma falsificação dos correligionários do PTB (o texto integral e definitivo da Carta-Testamento, que não foi redigido por Maciel Filho, conforme seu depoimento, mas simplesmente datilografado a partir do manuscrito de Getúlio), pela extrema-direita intrigueira (inclusive numa matéria de Isto-É Independente, que pretendia apresentá-la, em 2004, “com exclusividade”, como texto inédito, 26 anos depois de ter vindo à luz), o “bilhete” nada mais é do que um rascunho, um esboço prévio, da Carta-Testamento, que limitava seu histórico aos dias da crise deflagrada pelo “atentado” sofrido pelo histérico insuflador de golpes  do pós-guerra, o ironicamente ex-comunista Carlos Lacerda.

bilhete do suicídio 3

O texto, porém, traz, sob a influência do impasse insolúvel,   a mesma tensão emocional e o resumo da denúncia dos interesses imperialistas e anti-povo que eram a real motivação da tentativa de derrubada do governo trabalhista. E trazia, no final a esperada profecia de reação que, infelizmente, a lavagem cerebral profunda produzida no imaginário nacional a partir da ditadura instaurada em 1964, impediu de se realizar até os nossos dias, onde o povo brasileiro assiste à própria morte, cordado e contente, como gado conduzido ao matadouro em euforia de cigarrinho de crak:

bilhete do suicídio 4

“Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte.

Levo pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro, e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.

A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos, numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.

Acrescente-se a fraqueza de amigos que não me defenderam nas posições que ocupavam, a felonia de hipócritas e traidores a que beneficiei com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente, na opinião pública do País, contra a minha pessoa.

Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranqüilo no chão da Pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para com mais fúria perseguirem-me e humilharem-me. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não de crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes. Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue dum inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.

Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua amizade.

A resposta do povo virá mais tarde…

(a) Getúlio Vargas”

bilhete do suicídio 5

Enquanto bocejamos, a morte escorre sob nossos pés – É URGENTE AFASTAR O VÍRUS BOLSONARO DO PLANALTO!


morte bolsonaro

O equivalente a uma cidade de porte médio inteira (100 mil pessoas) desapareceu do solo do  Brasil, desde março, por conta da política de “omissão” do governo federal e continuamos a viver como se nada estivesse acontecendo, enquanto a mídia dá destaque à canalhice de prefeitos paus mandados do empresariado local. Em Itajaí, o ilustre alcaide quer, agora, literalmente “enrabar” o povo (sem cuspe e com ozônio) para não ter de tomar as medidas sérias de combate ao Covid-19 (isolamento social).

A questão é que a grande massa de infectados e mortos está justamente na classe trabalhadora, não somente entre os que trabalham no contato direto (área da saúde) ou nas atividades essenciais à sobrevivência de todos (como no abastecimento, correios, fornecimento de água e luz), mas um grande contingente se encontra no comércio e indústria, e mesmo na precariedade da economia informal, forçado a abraçar o “Corona”  em razão da sádica sede de lucro dos patrões.

E este povão miserável, de cara amassada, roupas desbotada e sapatos gastos, pouco importa para o topo sofisticado de nossa sociedade, que pode tranquilamente fazer suas caminhadas e exercícios diários nos equipamentos domésticos de ginástica, tomar seu vinho de milhares de reais a garrafa e acompanhar na tela de N polegadas o show da desgraça alheia na banalidade estatística dos boletins.

Enquanto não morrer um figurão da alta sociedade ou da classe política (coisa praticamente impossível, pois os donos do país e seus lacaios de luxo não precisam botar a cara nas ruas na mesma condição da escravaria assalariada), continuará a anestesia midiática que nos envolve.

Na raiz de tudo, se encontra um governo, o único no mundo, que caga e anda para a ralé majoritária, se recusando a utilizar os recursos (arrecadados ou mantidos nas contas dos detentores do grande capital) gerados pelo trabalho suado, sem retorno e à custa da própria vida, da peonada, para salvar as centenas milhares de vidas brasileiras, pisoteadas como formigas pela desfaçatez genocida, que logo se tornarão milhões.

Não há outra saída que a rebelião da grande massa “descartável” que agora já não padece somente a morte em vida de mourejar como gado para o conforto e o luxo sádico dos nossos amos, mas literalmente caminha para a própria extinção física, para gáudio dos feitores de escravo do imperialismo econômico internacional e suas respectivas sinhazinhas e sinhozinhos.

É urgente tomarmos as ruas, não na marcha rumo ao morticínio sem sentido nos locais de trabalho, mas para, no mínimo, derrubar o grande responsável pela tragédia no segundo país mais infectado do mundo e impedir sua absurda continuidade.

Como primeiro passo, cabe engrossar a petição da Frente de Servidores Pró-Impeachment e pela Vida do Judiciário Brasileiro, clicando aqui, assinando e a espalhando pelo máximo de contatos possíveis.

Ubirajara Passos

A verdade precisa ser dita: por trás de Bolsonaro e dos governadores e prefeitos que afrouxaram o isolamento social, incrementando o morticínio, está o interesse indiferente e assassino do grande capital!


dinheiro assassino

Diante do espanto e lamento manifestados com a “promoção” da Região Metropolitana de Porto Alegre, litoral norte gaúcho e região de Palmeira das Missões, no norte do Rio Grande do Sul, à bandeira vermelha (classificação de alto risco de contágio) no sistema de “controle do distanciamento social” adotado pelo Governador Eduardo Leite para combate do coronavírus no Estado, é preciso que se diga algumas verdades que atingem o cerne político e social da crise sanitária no Brasil, que embora incrementada pela irresponsabilidade genocida e tresvairada do Jairzinho Capitão do Mato, teve sua condução piorada pelo relaxamento precipitado das regras de isolamento pelos governos dos estados Brasil afora.

Com o comércio e indústria abertos – antes do tempo e por pura pressão empresarial – muita gente teve de ir às ruas forçado a trabalhar. Os demais se envolveram na sensação de normalidade (se as medidas foram relaxadas é porque o perigo estava passando…) e passaram a lotar as vias públicas.

Como sempre, um bom número passou a desprezar a capacidade de contágio do vírus e saiu por aí fantasiado de malandro do corona, com a máscara no queixo… Tais comportamentos do rebanho, naturalmente rebelde às limitações burocráticas impostas por um Estado que só sabe lhe cobrar impostos e cumulá-lo de regras, sem lhe garantir em troca a mínima condição de dignidade, eram bem previsíveis (ainda mais depois da minimização feita por seu ídolo – 2/3 de Gravataí, na Grande Porto Alegre, onde moro e trabalho, votaram no Bolsonaro) e lhe imputar a exclusividade do aumento do contágio é a mais desavergonhada cretinice.

A grande responsabilidade é das autoridades (governadores e prefeitos), que – cedendo ao clamor dos amos burgueses – afrouxaram as medidas de isolamento social adotadas inicialmente entre o final de março e início de maio.

Chega ao cinismo extremo a declaração de Leite que reputa à população a exclusividade da culpa.

No plano de fundo está a causa oculta de toda a desgraça: a recusa implícita e reiterada da presidência da República em por em prática o auxílio efetivo à economia, amparando pequenas e médias empresas e bancando o emprego e salário da peonada, mediante a taxação de grandes fortunas, lucros exorbitantes dos bancos e a remessa dos lucros das multinacionais às suas sedes no estrangeiro.

Para a elite que nos suga o produto do trabalho – e seus representantes políticos – pouco importa que morram alguns milhares ou milhões de trabalhadores, quando há outros tantos ao lado esperando para serem empregados. Para esta nobrezinha capitalista colonial infeliz, e seus lacaios políticos, o mote é: “Preservação da saúde e da vida que nada! Em nome do lucro, do luxo e do privilégio, a produção não pode parar!”

Temos de dar cabo ao mal, extirpando o seu núcleo, matar a cobra esmagando a cabeça. Assine e espalhe a petição para o máximo de contatos possíveis, clicando aqui!

Ubirajara Passos






Ou o Brasil acaba com o Messias, ou o Messias acaba com o Brasil!



saúva bolsonaro

Há exatos 132 anos o Brasil era o último país do mundo a abolir a escravatura. E o fazia num único e breve artigo (o segundo se limitava a revogar as disposições em contrário) que, ao invés de extinguir definitivamente o uso da maioria dos brasileiros como coisa ou animal de criação, sem direito a nada além do que mourejar debaixo da chibata de seus donos, deixava os “libertos” na condição de “desocupados” vagantes pelas estradas rurais rumo à periferia urbana, caso não se sujeitassem a, permanecendo no local do antigo cativeiro, continuar como servos do sinhozinho, que se negava a pagar salários e ainda estava puto com o Império por não ter lhe “indenizado” pela perda das rezes falantes.

Não foi aventada sequer a realização da mínima reforma agrária, para extinguir o latifúndio que vivia da mão de obra cativa e garantir a sobrevivência dos ex-escravos na terra em que trabalhavam, e nem qualquer esquema estatal que lhes garantisse qualquer emprego digno, nas cidades, da nova condição de  trabalhadores livres… para morrer de fome ou alugar seus braços na mais reles funções assemelhadas à antiga condição, como a de empregada doméstica, cozinheira ou faxineira da casa pequeno-burguesa. Proeminentes abolicionistas haviam tentado discutir a necessidade da reforma agrária, mas o Império, embora constitucional, era Império, regime monárquico que mal ou bem guardava os velhos ranços da monarquia feudal europeia, onde o rei era formalmente o “dono da nação”, abaixo do qual se sucedia uma hierarquia de sucessivos coproprietários nobres, até chegar ao nível dos despossuídos do direito à própria vida, que podia ser revogado numa simples gritaria do Sinhô.

Esta mesma reforma agrária, aliás, foi o pretexto, na tentativa tímida de desapropriação dos latifúndios localizados ao longo das rodovias e açudes federais, para derrubar o Presidente João Goulart e estabelecer a ditadura que começou a revogar os direitos trabalhistas formais adquiridos pela peonada na ditadura de Getúlio e entregou o Brasil definitivamente nas mãos do imperialismo econômico internacional, para gestar a miséria e a violência, que o NOVO SINHOZINHO, RETARDADO E BIRRENTO pretendia combater com o dístico “bandido bom é bandido morto”, que cada vez mais se faz aplicável a ele próprio.

Hoje o Brasil se notabiliza por ser o único país na face da Terra  cujo chefe máximo do Poder Executivo (que acumula as funções de Chefe de Estado) se recusa a tomar medidas racionais para combate ao Coronavírus e à precariedade econômica dele decorrente. Ao invés de incentivar e fiscalizar a única forma concreta de preservação da vida atualmente (o isolamento social) e prover os meios de garantia da sobrevivência econômica e do emprego do grosso da população, Bolsonaro reitera, dia após dia, suas invectivas contra as medidas adotadas espontaneamente por prefeitos e governadores.

Há semanas, reclama aos brados, com seus seguidores, pelo retorno da peonada aos postos de trabalho e a abertura do comércio, sob o pretexto de garantir empregos (ao invés de coibir demissões e bancar a folha de pagamento de pequenos e médios empresários) e o “bem-estar da economia”  (na verdade os lucros exorbitantes dos “donos do Brasil”, encerrados em suas luxuosas mansões e resguardados a sete chaves da contaminação a que pretendem expor seus escravos assalariados).

E suas debochadas e furibundas bravatas, neste exato momento, já surtem fartamente os efeitos denunciados por quem se opõe a sua atitude, não se restringindo ao terreno das hipóteses. Ultrapassando as dez mil mortes e batendo, ontem, o recorde de 881 mortes em 24 horas, o Brasil já se classifica entre os seis maiores países afetados pela apocalíptica pandemia e, se mantiver o atual ritmo, decorrente do relaxamento das medidas de isolamento a que autoridades e boa parcela da população aderiram, em no máximo dois meses, terá ultrapassado um milhão de mortos, deixando para trás a nação mais afetada, os Estados Unidos da América.

Entretanto, apesar da crise instalada após a saída do Ministério da Justiça de seu ex-comparsa, Sérgio Moro, cujas denúncias de tentativa de interferência nas investigações da polícia federal seriam suficientes para o impeachment do Presidente da República, nada acontece de novo no solo do Brasil. Nem os representantes do poderio econômico das classes dominantes que poderiam dar início ao processo para afastar o algoz da nação (especificamente o Presidente da Câmara dos Deputados, casualmente eleito pelo sucessor do partido dissidente da antiga ditadura – o DEM, provindo do PFL, que fazia parte do PDS, antiga Arena, às vésperas da eleição indireta que deu fim formal ao regime militar), nem mesmo a oposição hegemônica de “esquerda” (afastada do governo da República no golpe parlamentar a la Paraguay de 2016), movem um único dedo para afastar o louco genocida e garantir a vida do povo brasileiro.

Sem que Rodrigo Maia cogite de instaurar o processo pelos crimes de responsabilidade e Lula se disponha a entender que já não haverá eleitores para garantir, evitando o confronto, a vitória de seu partido nas próximas eleições municipais, assistimos diariamente, isolados em nossas casas (os que ainda não foram coagidos pelos fofos patrões ao retorno ao trabalho ou se lançaram espontaneamente nas ruas, atendendo ao canto de sereia de seu misógino e sexualmente enrustido líder) a escalada do contágio e da mortandade, sem que nenhuma entidade formal ou grupo organizado tome efetivamente a liderança para derrubar os responsáveis  institucionais pela tragédia que está acabando fisicamente com o Brasil.

Não há partido, com exceção da chamada “extrema esquerda”, central sindical, ou qualquer outra força política e social de massas, que esteja efetivamente  conduzindo a última e única possibilidade efetiva que temos de continuar vivos, e não submetidos ao infausto sorteio das vítimas que comporão, no mínimo, o milhão de pessoas a serem eliminadas do chão brasileiro pela maior pandemia desde a Gripe Espanhola.

Tudo se passa diária e recorrentemente, de uma tal forma que, na hipnose resultante do cansaço pela repetição, acabamos por nos acostumar ao genocídio em andamento, como se fosse a mais comezinha das rotinas, sem esboçar a menor contrariedade ou simplesmente nos acomodando à inércia dos que poderiam e deveriam estar na vanguarda da reação ao morticínio patrocinado pelo Governo Federal.

Até quando nos submeteremos, abobalhados e incapazes, como o gado conduzido ao matadouro, sem ameaçar qualquer inconformidade e a mínima resistência à nossa própria extinção física, em nome dos lucros de meia dúzia de senhores que se julgam nossos donos (nos considerando uma ralé com menor importância do que seus cachorrinhos de estimação) e são tão arbitrários que não se dão conta de que logo poderá não haver escravos suficientes para produzir seu luxo injustificável e consumir suas mercadorias?

Quantos milhões de nós terão de deixar a existência em nome da sádica sede de luxo e privilégio de uns poucos a que pouco importam nossas vidas, pois têm condições de substituir, sem maior preocupação, os trabalhadores que sucumbirem, como se repõe peças de uma máquina, até o momento em que o contágio tiver crescido tanto que venha bater à própria porta de suas mansões?

Infelizmente, para os mais ponderados e “racionais” opositores da ideia revolucionária  (não a mera revolta a substituir governos, mas a transformação voluntária e consciente de toda a sociedade, eliminando a dominação  da grande massa dos trabalhadores responsáveis pela produção material diária da vida), a própria garantia física concreta de nossas vidas passa necessariamente, neste momento, no Brasil, pela organização espontânea, consciente e determinada dos milhões de peões de todo o tipo (de agricultores a professores universitários) por este país afora, de modo a garantir, no mínimo, o afastamento do facínora que nos governa, e a adoção das devidas providências sanitárias e econômicas para garantir que o Brasil continue existindo, e seja governado pelo povo e para os brasileiros! Dê o primeiro passo, acesse AQUI o link, assine e compartilha a petição da Frente de Servidores do Judiciário Brasileiro pela instauração do processo de impeachment do palhaço tétrico Jair Bolsonaro.

Ubirajara Passos