Nunca tive a menor simpatia pelo PT, não por tê-lo como radical, mas justamente pela excessiva moderação de seu pretenso esquerdismo. O que se pode constatar facilmente desde as primeiras postagens deste blog, no início de 2006. Inúmeras foram as crônicas e comentários ferinos desferidos ao longo de seu governo. No entanto, diante da possibilidade de eleição do ilustre Capitão “do Mato” Jair Bolsonaro para a presidência da República, não há outra hipótese, racional e humana, possível que o voto em Haddad!
Como diria o velho Brizola, desta vez teremos de engolir não um sapo barbudo, mas um banhado inteiro de batráquios, incluídas as rãs e pererecas de todo tipo.
A eleição de 28 de outubro não se constitui em uma mera disputa entre dois candidatos mais ou menos radicalizados, em polos opostos, mas num verdadeiro plebiscito, cujo resultado favorável ao candidato do PSL acabará por implicar na própria extinção do regime democrático e das mínimas garantias ainda vigentes, como a liberdade de expressão, os direitos de reunião e de ir e vir.
Não fosse suficiente a assumida, e entusiasticamente assumida, nostalgia do militar da reserva, cuja carreira se deu justamente entre 1973 e 1987, pela Ditadura Militar instaurada em 1964 (ao ponto de defender a tortura e tê-la por insuficiente, os milicos deveriam ter matado uns 30 mil), as recentes declarações de seu candidato a Vice-Presidente (um general explicitamente favorável à “intervenção militar”, ou seja, o golpe de Estado puro e simples), não deixam a menor dúvida quanto à natureza de seu futuro governo, quando, da forma mais descarada possível, prega a substituição da Constituição cidadã de 1988 por uma carta outorgada por notáveis e um “auto-golpe” em 2019 na hipótese do “clima de baderna” torná-lo necessário. O que é mais do que suficiente para não levarmos na conta de mera bravata as suas intenções autoritárias.
Caso eleito, certamente o golpe virá e virá com toda a fúria e retaliação correspondente à sua pregação tresloucada, anti-comunista, homofóbica, machista, e racista, que, infelizmente, não é mera retórica.
Sua monstruosa postura é mais asquerosa que seus ídolos torturadores, pois não tendo cometido com as próprias mãos os atos admirados, possui um tesão sádico frustrado por fazê-lo que só se satisfará com a imolação de multidões, como os milhões de judeus levados à câmara de gás por Hitler.
É a própria encarnação de tudo o quanto há de mais repulsivo e aterrorizante no Brasil em nossos dias. E a sua tirania não se restringirá, tragicamente, à imposição política incoercível e inquestionável dos mais tresloucados rumos à sociedade brasileira. Mas fatalmente descambará para o morticínio, não só da bandidagem que pretende combater à bala, como na morte concreta de qualquer opositor ou membro de um dos grupos considerados desagradáveis e fora da ordem por seu conservadorismo arcaico e furibundo. Bastará o cidadão ser um militante sindical, ter nascido na condição de negro, gay, ou ser um índio ocupando área de terras ardentemente cobiçada por um grileiro ou minerador ilegal qualquer, por exemplo, para integrar a lista de candidatos ao extermínio pela força do Estado, ou mesmo dos próprios fiscais de esquina colaboradores do neo-fascismo redivivo.
As dezenas de ataques de seus psicopáticos seguidores a militantes de esquerda, homossexuais ou simples simpatizantes de Haddad, ocorridos antes e após o primeiro turno, nos comprovam que o extermínio não somente virá, como já está entre nós e, mais do que uma política de Estado, será a prática sanguinária e costumeira, típica dos regimes fascistas, dos milhares de capitães do mato fanatizados pela pregação intolerante do senhor Jair Messias. Cuja cretinice sádica é tão grande que ainda tem coragem de tripudiar sobre as vítimas de seu programa de extermínio, como mestre Moa do Katendê, dizendo-se irresponsável pelos trágicos crimes de seus “incontroláveis” asseclas – bandidos na pior acepção palavra, muito pior do que o mais cruel e cínico chefão do crime organizado, cuja tara furibunda foi despertada por sua pregação maniqueísta e intolerante
O mais inacreditável, entretanto, é que a maioria de brasileiros que se inclina a enterrar, com seu voto, no próximo dia 28 de outubro, os últimos resquícios de liberdade na “democracia” violada pelo golpe de 2016, grande parte dos quais composta por trabalhadores e membros dos grupos ameaçados, parece não desconhecer nada disto e deixar-se levar pelo ódio e frustração legado pelas mazelas da Era Petista, além do tradicional conservadorismo moralista, profundamente impressionados pela velha e surrada arenga anti-corrupção que os algozes de Dilma alimentaram fartamente com a Operação Lava-Jato.
Não conseguem enxergar nada além de violência e corrupção, como se uma e outra não fossem o simples resultado crônico de um Estado organizado para manter os privilégios de uma minoria daqui e d’além-mar, gerados no sacrifício de milhões trabalhadores, no país de maior concentração de renda e injustiça social do mundo.
Parecem não compreender que, apesar de repetidas (mesmo com as reprimendas do “mito”) incessantes vezes, as declarações inconvenientes do General Mourão e de Paulo Guedes, candidato a vice-presidente e guru econômico de Bolsonaro, são pura realidade e espelham suas intenções concretas: a extinção dos direitos a décimo terceiro salário e férias, a ressuscitação do CPMF e uma alíquota única de 20% no imposto de renda, que onera ainda mais os assalariados e alivia a tributação no bolso mais ricos.
Isto sem falar no que está assumido claramente no programa de governo e nas últimas manifestações do candidato, como a tal “carteira de trabalho verde e amarela” que, aparentemente optativa, como o FGTS, se fará obrigatória, e permitirá aos empregadores o exercício pleno e livre da exploração, sem qualquer garantia legal de direito ou proteção para a peonada. Assim como o fim da unicidade sindical, quebrando a representatividade dos sindicatos, as privatizações generalizadas de empresas estatais e principalmente a intenção explícita de “acabar com os ativismos”. Expressão ambígua e vaga que esconde, sob um lençol curto e transparente, o que está reservado para todos aqueles que, em nome de sua dignidade e condição humana, pretenderem reivindicar e militar por seus direitos sociais, trabalhistas, econômicos e culturais: a repressão pura e simples, sob todas formas possíveis e imagináveis do velho tacão militarista e escravocrata, da censura à tortura e ao cru justiçamento sumário, que certamente não será praticado apenas para os “bandidos” comuns, mas a todos aqueles que se opuserem aos desmandos do novo poder.
Este avalanche de ataques aos trabalhadores e aos interesses nacionais não tem outro objetivo, apesar dos pretextos meramente preconceituosos, moralistas e anti-comunistas, que a defesa e aprofundamento da sanha de lucro e privilégio da burguesia internacional e seus lacaios brasileiros. Para que os grandes grupos econômicos que infelicitam a vida de meia humanidade em prol do sádico prazer da minoria proprietária possam esfolar o gado humano e as riquezas naturais do Brasil até o tutano dos ossos, garantindo a reforma previdenciária “a moda de Bolsonaro” e o retrocesso a um verdadeiro escravismo nas relações de trabalho, além da entrega descarada do patrimônio nacional, é que o capitão recebeu sua missão totalitária e genocida. Assim o golpe de 2016 não terá sido em vão e os nossos amos poderão gozar tranquilos.
O processo principiou e a única forma de detê-lo, ao menos de impedir que ele se faça sob o disfarce legal das eleições “democráticas” (pois ninguém se iluda que, derrotado, o golpismo fascista tentará impedir a posse de seu oponente, e, frustrado tal intento, depô-lo posteriormente), por mais amargo que possa parecer o remédio a todos que, como eu, têm sérias restrições ao mero assistencialismo do “socialismo petista”, é o voto em Fernando Haddad, sem qualquer dúvida ou o menor vacilo!
Ubirajara Passos
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