Aos militantes que se acotovelam em frente aos quartéis, agora embalados por uma representação judicial maliciosa e falaz no TSE:


Saibam que Bolsonaro não poderia nem ter sido candidato. Deveria estar preso, inclusive, em razão dos 700 mil brasileiros mortos em consequência de sua política sanitária anti-isolamento, anti-máscara e anti-vacina.

Tentou roubar a eleição mandando a polícia federal reter virtuais eleitores do adversário em pleno pleito e mesmo assim perdeu.

Não existe fraude, não existe manipulação. Por escassa margem, é bem verdade, o setor mentalmente saudável da população brasileira o impediu de se reeleger no dia 30 de outubro e esta vontade está legitimamente expressa nas urnas.

O fascismo doentio, anti-prazer e anti-vida foi derrotado e não tem mais volta.

Admitam a verdade e voltem para casa a fim de lamentar, com oceanos de lágrimas, a desgraça do "mito" assassino. 

Seu calvário nem iniciou ainda e o sangue de cada brasileiro desnecessariamente falecido nos braços do Covid só será devidamente honrado quando este monstro for condenado a pagar seus crimes na masmorra pelo resto de sua ignóbil vida!

Ubirajara Passos

A última e fatal oportunidade de salvar o Brasil é derrotar Bolsonaro nas urnas amanhã.


Escrevo às vésperas de uma eleição presidencial cujas últimas pesquisas apontam, em sua maioria, uma vitória extremamente apertada de Luís Inácio da Silva, o Lula, sobre o Jairzinho Capitão do Mato. Por menor que seja o alcance, hoje, desta publicação, se ela lograr definir ou alterar o voto de um único brasileiro poderá ter colaborado para a salvação de todos nós, membros da grande massa de escravos assalariados deste país, das garras infernais que envolveram o Brasil desde o fatídico 29 de outubro de 2018, cravando-se fundo em nossos corpos e mentes, até sangrar, e cuja continuidade, fatalmente há de espremer-nos até a última molécula de dignidade humana, numa tortura infinda, até cujo fim multiplicar-se-ão aos milhões as vítimas da morte em vida, transformadas definitivamente em gado enlanguescido a puxar, trôpego, o arado sob a truculência do látego cínico e orgulhosamente cruel de um governo fascista assumido e cretino.

Se há quatro anos a perspectiva da ditadura e da barbárie destroçante de todo traço de um mínimo de vida, liberdade e humanidade que ainda podíamos gozar nas condições precárias da dominação escravagista mal disfarçada sob a qual vivemos, ainda admitia a necessidade de justificar-se o voto no opositor petista de Bolsonaro no segundo turno (o professor Hadad), diante das minhas históricas críticas e contrariedades às práticas dos sucessivos governos petistas, hoje não há a menor dúvida, nem a mais diminuta hesitação possível em garantir a derrota do Messias do Autoritarismo Genocida, digitando-se na urna eletrônica o emblemático número 13 do PT.

Fosse qual fosse o personagem contraposto ao atual Presidente da República e mereceria todo o apoio entusiasmado para garantir que seja decepada a cabeça da monstruosa opressão que sobre nós abateu-se como resultado da hegemonia da peste emocional.

Já não tememos quanto poderá nos desgraçar o futuro, nem precisamos elucubrar sobre os matizes mais diversos das possíveis atrocidades destinadas à massa de trabalhadores miseráveis e diariamente oprimidos pela precariedade de uma vida cada vez mais indigna do sacrifício árduo do trabalho, através do qual se cria o privilégio requintado de nossos sinhozinhos.

Além de todas as barbaridades políticas e sócio-econômicas (como a reforma da previdência que, vinculando a aposentadoria à idade mínima – ainda por cima absurdamente elevada, praticamente a extinguiu, ou a política econômica inflacionária e arrochante dos salários, que transformou ovo ou osso de gado em iguaria refinada no prato da maioria dos brasileiros) já se realizou o crime supremo e indefensável diante do qual é custoso se admitir, sem qualquer perplexidade, que o senhor Jair Messias Bolsonaro ainda continue à frente da presidência da república e disputando sua reeleição.

Cínica e debochadamente realizou-se, sem a menor vacilação, em meio à pandemia que ameaçou a vida humana sobre a Terra, o genocídio conscientemente assumido e premeditado, que conduziu 700 mil brasileiros à cidade dos pés juntos nos braços do coronavírus. Não casualmente, a grande maioria deles pertencente às camadas mais miserabilizadas e indefesas da peonada trabalhadora, que, sem qualquer auxílio econômico que lhe garantisse a possibilidade de permanecer em casa pelo tempo necessário à redução da contaminação e desenvolvimento e aplicação da vacina (como se praticou mesmo nas nações capitalistas mais inveteradas), se viram premidas ao comparecimento diário ao trabalho e ao contágio inevitável e fatal do voraz vírus, que os conduziu à morte agonizante pela falta de ar e falência do organismo (ironizada debochadamente por Bolsonaro em entrevista dedicada a criticar o único ministro que tentou aplicar política sanitária racional e coerente).

matando o drãgão

Bolsonaro não combateu o isolamento social, o uso da máscara de proteção, nem retardou ao máximo possível a aquisição e distribuição da vacina anti-covid por mera incompetência e ignorância. O fez de caso pensado, preocupado na preservação dos lucros do punhado de bilionários nacionais e do grande capital internacional a cujo serviço foi eleito. Mas não o fez com o menor escrúpulo. Porque para ele, assim como para a alta rafuagem mencionada, a horda de trabalhadores consumida pela voracidade do covid-19 não possuía a menor importância e, como ralé, gentinha inútil e destituída de humanidade, não faria qualquer falta, visto que mera ferramenta anônima e substituível na geração dos bens necessários ao mercado.

Enquanto um Zé Ninguém qualquer tombasse, sem a menor chance de sobrevivência, vítima da doença do século, havia pencas de companheiros da mesma condição, esperando ansiosamente à porta dos estabelecimentos por um emprego que lhe garantisse qualquer renda e não haveria porque preocupar-se em resguardar a sobrevivência destes burros de carga bípedes excedentes, criando complicações desnecessárias ao andamento dos negócios e ameaçando a continuidade das atividades econômicas por tão desprezíveis seres, medíocres e indiferenciados como uma massa de vermes.

Era ate útil o morticínio resultante da falta de combate efetivo à pandemia, pois assim poderia se limpar a impoluta e educada sociedade destas criaturas precárias e encrenqueiras, sem qualquer força de vontade e espírito de empreendedorismo, cuja miséria material e mental tendia a torná-los irascíveis e rebeldes à sacrossanta ordem burguesa, empesteando-a com a eventual derivação para o crime, a drogadição, a marginalidade…

Antes que qualquer fanático adepto do Capitão Jair comece a entoar seus histéricos protestos contra o cenário acima descrito, é preciso, é claro, que se diga o óbvio. Não, não tive acesso a nenhum documento secreto, “prova concreta e irrefutável” (como bradaria um tresloucado bolsomínion diante da leitura desta crônica), nem a narrativas privilegiadas de alguma testemunha ocular de reunião na qual se tenha discutido as tais medidas sob os argumentos descritos. Mas nada disto é preciso. Basta examinar-se as atitudes e falas concretas do Messias miliciano, seus puxa-sacos e admiradores, para se constatar os motivos ocultos descritos, diante do cinismo psicopático de quem exigia que não se fizesse isolamento social para não quebrar a economia nacional, afinal o Coronavírus era apenas uma gripezinha. Ou depois, frente às primeiras mortes, com a desfaçatez e frieza própria dos grandes tiranos nazistas e genocidas, respondia solenemente que não era coveiro, quando questionado quanto à inação do governo federal diante do avanço catastrófico do covid, que em capitais como Manaus levava ao enterro em valas comuns, tamanho o número e frequência das mortes, que não permitiam a abertura a tempo e com dignidade dos túmulos necessários.

“Se quisesse” o atual governo federal poderia ter lançado mão dos recursos econômicos e administrativos necessários ao combate eficaz da pandemia, numa política sanitária pautada pela prevenção e conhecimento científico. Mas não o fez porque não podia perder a ocasião de fazer uma limpeza útil e necessária, a seu ver, na bagaceirada pobre que empesteia o Brasil cristão operoso e sério. Bastava criar os meios de prover os recursos necessários para viabilizar o isolamento social na fase inicial (o que poderia, tranquilamente, se fazer por uma taxação pífia, que mal arranharia as grandes fortunas) e conduzir seriamente as negociações para aquisição e distribuição a tempo das primeiras vacinas desenvolvidas e a grande maioria das mortes não ocorreria. Sua existência não era inevitável, desde que adotada uma política sanitária humana e coerente.

Cada ente querido de cada família deste país, de norte a sul, que morreu infectado pelo infeliz vírus, foi sacrificado, portanto, desnecessariamente e seu sangue, derramado inutilmente, clama a cada um de nós que façamos pelo voto o que o oportunismo tacanho e elitista das lideranças políticas em geral não o fez pelo caminho legal e lógico do impeachment. O afastamento do monstruoso ser que atende no Palácio do Planalto pelo nome de Jair Messias, ocupando ilegitimamente, como perfeito assassino em série, de punhos brancos e imaculados, mas infecta e venenosa saliva, a Presidência da República. Este não é o seu lugar, mas o assento na cadeira como réu de crime contra a humanidade, na Corte Internacional de Direitos Humanos e a posterior condenação à masmorra na prisão perpétua como punição por suas atrocidades.

Pouco importam, portanto, as virtudes ou precariedades de seu opositor. Nem o maior traidor político pelego ou o mais servil detentor de cargo público neo-liberal privatizador do patrimônio nacional chegam aos pés do crime cometido pelo moderno feitor de escravos Jair Messias Bolsonaro.

Amanhã é a ocasião derradeira. Ou decepamos, com a força do voto, a cabeça monstruosa que comanda o modernoso nazismo brasileiro, ou terá sido enterrada de vez a perspectiva de qualquer resgate mínimo de solidariedade e dignidade humana neste país infestado pela truculência dissimulada e cínica do terrorismo de Estado, que já não se manifesta explicitamente na tortura ou na pancadaria, mas se faz na condução da política social e econômica, tendo por ferramenta incentivadora o poder peçonhento da palavra falso-moralista, intrigueira e distorcedora da realidade, grávida do recalque do sado-masoquismo oculto e (nem tanto) reprimido.

Ubirajara Passos

E a rua, além de desaparecer do mapa, tornou-se um corredor gradeado e inóspito



novo prédio subindo a lomba após o Gensa

Em abril de 2010 (há quase 11 anos, portanto), publiquei neste blog matéria, sob o título A rua que desapareceu do mapa, a respeito da esquecida “Travessa Tiradentes” (rua do centro de Gravataí que havia se transformado num beco cujo traçado já não constava da planta da cidade. Cheguei na época a enviá-la por e-mail para o maior jornal local, o Correio de Gravataí, para ver se surgia interesse pelo assunto e se aprofundava a investigação a respeito, mas nunca recebi qualquer resposta.

O tempo foi passando e eis que um dois ou três anos atrás, já não me lembro ao certo, o antigo casarão em que ainda se encontrava afixada a velha placa da travessa, na época da publicação, foi demolido, se erguendo em seu lugar mais um flanante prédio de apartamentos destes que não cessam de brotar no solo gravataiense desde a instalação da General Motors neste pagos, no princípio do século.

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entre o novo prédio e o do Gensa, a antiga travessa, isolada da calçada por grades

Numa cidade sem memória nem política municipal de preservação de prédios históricos (onde até uma árvore provavelmente centenária, no Parcão – praça Juarez Soares de Vargas- da parada 79, foi simplesmente arrancada para dar lugar a uma nova calçada, junto a um “paradão” de ônibus na Avenida Dorival de Oliveira), eu não esperava, evidentemente, que a placa fosse guardada e recolocada no edifício novo.

Mas o que vi, ao verificar como havia ficado a situação da minha rua “secreta e esquecida” (ia usar o vetusto termo olvidada, mas, antes que alguém me tomasse por tão senil quanto a via pública, resolvi ceder à linguagem mais popular e modernosa), de que ninguém toma conhecimento, simplesmente me deixou estarrecido.


lixo acumulado no interior do corredor

Separada da calçada por uma grade (cuja função de proteção acabou por servir justamente ao depósito irremovivel de todo tipo de lixo), a pobre Travessa Tiradentes é agora um corredor “privado” entre os dois prédios, do qual sequer restou memória concreta da antiga escadaria.

Se antes era uma via pública que simplesmente havia sido deletada dos esquemas gráficos de localização urbana, mas ainda possuia vida, habitantes e trânsito, agora está convertida definitivamente num momumento visível e irrefutável à desfaçatez, que não se presta sequer de moradia aos mendigos.

Ubirajara Passos

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De um certo pastor de homens…


Não vim ao mundo por obra de outra coisa
Que o acaso sem rédeas que a todos nós comanda
E, insciente, só transporta a ânsia
De prazer puro que anima-nos os corpos.

Senti, no fundo de cada molécula,
A espontânea vibração de vida
Que se elevava junto a outras tantas
No crepitar arisco à rigidez
E, camarada das outras chamas livres,
Unidas na empatia mútua,
Compunham o fogo que ceifava campos
De ervas amargas e intragáveis
Abrindo espaço ao prazer doce e vívido.

Por não saber de sádicos tesões
Que satisfazem-se fustigando os lombos
Dos rebanhos submissos mourejantes,
Eu, cujas mãos sempre proveram-me os dias,
Fui me juntar aos mais simples e oprimidos
Pelo látego da soberba cruenta,
Em cujos corpos a fagulha reprimida
De prazer e liberdade ainda vivia.

Não procurei armar milícias revoltosas,
Porque sabia que a vida livre e digna
Não se garante na imposição
Dos aparatos do obrigatório,
Mas na recusa íntima à obediência
Por cada servo desperto da ilusão
E erigido em soberano de si mesmo.

Foi assim que provi meus companheiros
Da jornada simples e espontânea
Não de espadas, lanças e porretes,
Mas da consciência autodeterminada
Para romper com o servilismo vil
E se negar a continuar rebanho
Sob os pastores da iniquidade.

Foi assim que, sabedor do meu destino,
Não recuei, nem fiz firulas
Aos pés dos poderosos que temiam
A faísca que, soprando em cada
Humilde peão tornado refratário à servidão inglória,
Daria cabo, na fogueira imensa
Das almas livres, à opressão sem nome
E ao butim glamourizado do alheio sofrimento.

Se me furtasse ao compromisso assumido
Seria apenas mais um ruidoso
E narcísico hipócrita infrutífero,
Ou um covarde refletido que, sabendo
Que o rebanho ainda era temeroso,
Se encolheria em uma vidinha confortável.

Não procurei, portanto, algum martírio,
Mas, coerente com a vida que habitava-me,
Desprezei aos que advertiam-me,
Segui o caminho traçado e vi-me entregue,
Impotente e sem defesa,
Ao suplício
Nas garras alarmadas da opressão.

Vila Natal, 23 de dezembro de 2020

Ubirajara Passos

Enquanto bocejamos, a morte escorre sob nossos pés – É URGENTE AFASTAR O VÍRUS BOLSONARO DO PLANALTO!


morte bolsonaro

O equivalente a uma cidade de porte médio inteira (100 mil pessoas) desapareceu do solo do  Brasil, desde março, por conta da política de “omissão” do governo federal e continuamos a viver como se nada estivesse acontecendo, enquanto a mídia dá destaque à canalhice de prefeitos paus mandados do empresariado local. Em Itajaí, o ilustre alcaide quer, agora, literalmente “enrabar” o povo (sem cuspe e com ozônio) para não ter de tomar as medidas sérias de combate ao Covid-19 (isolamento social).

A questão é que a grande massa de infectados e mortos está justamente na classe trabalhadora, não somente entre os que trabalham no contato direto (área da saúde) ou nas atividades essenciais à sobrevivência de todos (como no abastecimento, correios, fornecimento de água e luz), mas um grande contingente se encontra no comércio e indústria, e mesmo na precariedade da economia informal, forçado a abraçar o “Corona”  em razão da sádica sede de lucro dos patrões.

E este povão miserável, de cara amassada, roupas desbotada e sapatos gastos, pouco importa para o topo sofisticado de nossa sociedade, que pode tranquilamente fazer suas caminhadas e exercícios diários nos equipamentos domésticos de ginástica, tomar seu vinho de milhares de reais a garrafa e acompanhar na tela de N polegadas o show da desgraça alheia na banalidade estatística dos boletins.

Enquanto não morrer um figurão da alta sociedade ou da classe política (coisa praticamente impossível, pois os donos do país e seus lacaios de luxo não precisam botar a cara nas ruas na mesma condição da escravaria assalariada), continuará a anestesia midiática que nos envolve.

Na raiz de tudo, se encontra um governo, o único no mundo, que caga e anda para a ralé majoritária, se recusando a utilizar os recursos (arrecadados ou mantidos nas contas dos detentores do grande capital) gerados pelo trabalho suado, sem retorno e à custa da própria vida, da peonada, para salvar as centenas milhares de vidas brasileiras, pisoteadas como formigas pela desfaçatez genocida, que logo se tornarão milhões.

Não há outra saída que a rebelião da grande massa “descartável” que agora já não padece somente a morte em vida de mourejar como gado para o conforto e o luxo sádico dos nossos amos, mas literalmente caminha para a própria extinção física, para gáudio dos feitores de escravo do imperialismo econômico internacional e suas respectivas sinhazinhas e sinhozinhos.

É urgente tomarmos as ruas, não na marcha rumo ao morticínio sem sentido nos locais de trabalho, mas para, no mínimo, derrubar o grande responsável pela tragédia no segundo país mais infectado do mundo e impedir sua absurda continuidade.

Como primeiro passo, cabe engrossar a petição da Frente de Servidores Pró-Impeachment e pela Vida do Judiciário Brasileiro, clicando aqui, assinando e a espalhando pelo máximo de contatos possíveis.

Ubirajara Passos

Do Caráter Moralista do Carnaval


Faz séculos (para ser exato, uns dezessete anos) que este texto está elencado entre os Sermões na Igreja de Satanás sem que jamais tenha conseguido escrevê-lo, embora tenha prometido, nos últimos carnavais de cada ano, desde 2010 pelo menos, fazê-lo sob a inspiração direta dos eventos.

Eis que hoje, em plena Era do Ranço Fascista brasileiro mambembe, não menos sádico e cruel do que o velho nazismo, entretanto, me forcei a fazê-lo e está aí para deleite dos leitores que não tiveram meios ou ânimo para curtir a velha festa de Momo, embora tenha me saído, tão enferrujado me encontro, terrivelmente pedante e artificioso. Boa leitura:

Do Caráter Moralista do Carnaval

Assim como o bordel, com que compartilha a irreverência, o gáudio e a inexistência de um roteiro obrigatório e insosso no exercício do gozo dos corpos e dos copos, o Carnaval é uma festa que não se contrapõe à interdição moralista do prazer e da liberdade costumeiramente impostos ao rebanho imenso da peonada, em prol do deleite sádico e desenfreado de nossos amos, mas justamente, por seu caráter de excepcionalidade aos dias de sisuda e “responsável” dedicação à rotineira faina e aos imperativos graves da vida quotidiana, a confirma.

E, como válvula de escape, compensatória à vida reprimida, impede a derrocada da dominação, que subjuga nossas mentes e corpos, maneados e enrijecidos no curral sem sal e sofrido do cumprimento de deveres e obrigações impostos pelo estelionato ‘ético” dos hipócritas senhores que organizam nosso mundo.

Mas, embora a epifania pagã do cabaré (restrita aos ditames hipócritas de um negócio informalmente integrado à sociedade hierarquizada – a sacanagem explícita no salão não é bem vista, seja por ameaçar o recebimento do “aluguel” do quarto, seja por destoar do bom tom dos “bailes de família”, que mesmo no puteiro deve ser preservado) não tenha dia, e nem hora, para se realizar, os festejos de Momo, no curto espaço de seu ciclo anual de cinco dias, possuem a vantagem da universalidade.

Para encher bem a cara e se lambuzar na putaria, na dança frenética, e se afundar na “loucura divina” até se exaurir na farra amoral e edênica como um jogo de criancinhas; para usar e gozar da imaginação desenfreada, sem roteiros nem limites, e mandar à puta que pariu todas as velhas recomendações das comadres e tias de pudor e compostura, ou mesmo viver por um dia a fantasia de se sentir único e com direito a tratamento respeitoso e digno, não é necessário possuir um tostão além daquele capaz de adquirir um litro de cachaça, nem ter nascido com um envaidecedor pêndulo, irascível e violento como uma onça pintada, pendurado entre as pernas.

E, êxtase supremo, é possível, se berrar aos quatro ventos, e em plena luz do sol, tudo quanto lhe vier aos cornos, num discurso com um mínimo de coerência ou simplesmente aleatório, escangalhando e denegrindo todos os compenetrados, sóbrios e severos grandes chefes, chefetes e capitães-do-mato da modernosa escravidão assalariada, seus grandiloquentes discursos redentores e sagrados manuais de procedimento.

Oriundo das velhas bacanais romanas (celebrações públicas ao deus do vinho e do prazer), diante do recrudescimento totalitário do cristianismo oficialmente altruísta e sofredor, inimigo do corpo e do bem estar (dos deserdados servos e escravos indignos de representar a vontade divina – prerrogativa exclusiva de reis e nobres senhores), elevado ao poder com a decadência do Império, o Carnaval se tornará, a partir da Idade Média, o refúgio provisório e intocável da ralé subordinada ao autoritarismo furibundo dos dominadores (que serão debochados descaradamente nos gestos, vestes, e atitude), tornando-se vítima de sucessivas tentativas de enquadramento, do reconhecimento oficial da Igreja como ritual pré-quaresma à transformação em festival oficialesco excêntrico e exótico, e por isto mesmo inofensivo e inócuo (porque apartado ao espaço físico ou ideal restrito do “desvio”, a moda da loucura levada ao manicômio) para ser mostrado como curiosidade turística ao mundo, promovida pelas prefeituras, das grandes cidades, como o Rio Janeiro, aos rincões interioranos, de países como o Brasil, afora.

As suas características anárquicas, no sentido mais profundo do caótico e não organizado, da alma livre das peias de toda rotina e ordenamento obrigatórios (que persistem em permanecer, em meio ao fundo das festividades padronizadas e folclorizadas pela mídia antropofágica, que a tudo engole e reprocessa em seus ruminantes estômagos , para regurgitar numa versão mansa e abobalhada, infensa à rebeldia do moderno gado humano) guardam, entretanto, justamente por sua renitente teimosia,desobediente e mal-educada, as sementes capazes de nos conduzir ao rompimento da opressão mecanicista que se serve até o cerne de nossos seres para o usufruto alheio de meia dúzia dos todo poderosos amos que conduzem-se sobre nossos lombos.

Se diante do avanço reacionário e obscurantista do totalitarismo famélico e voraz da ordem burguesa do nosso século já não surte efeito um espírito épico e estoico na luta revolucionária, o que hoje pode nos conduzir, de forma folgazã ainda que renhida, à liberdade é a insurreição gaiata, a desafiar a seca e petrificada ordem diária da rotina, a disposição avessa à gravidade sacrificante, numa rebelião barulhenta e zombeteira, digna de um carnaval, a cada santo dia.

Seja feita a vossa gandaia!

Gravataí, 3 de março de 2019

Ubirajara Passos

Do sol e das nuvens…


Normalmente, eu estaria, e deveria, hoje estar analisando os aspectos políticos da eleição do Jairzinho Capitão do Mato para a Presidência da República, constatando o óbvio: que esta se constituiu na consagração, esperada e apoiada pelos promotores, do golpe de 2016, para continuidade das reformas (como já deixa claro o futuro ministro da Economia, ao afirmar, nesta segunda-feira que a “prioridade do plano econômico do futuro governo será a Reforma Previdenciária) cuja essência se resume a extinguir os últimos direitos trabalhistas, sociais e previdenciários legais garantidos à peonada, bem como a privatização e entrega definitiva do patrimônio nacional nas mãos da classe dominante internacional, sob cujo sádico prazer será sacrificado o rebanho de milhões de trabalhadores, sem direito, agora, sequer a reclamar, debaixo do pior tacão autoritário, intimidatório e repressor.

Mas, surpreendido pela incessante e trovejante onda de fogos de artifício no início da noite, quando, sem me dar por conta da hora, voltava de um passeio na pracinha próxima com a Isadora (que só fui entender que comemorava a desgraça nacional ao chegar em casa e saber de meu enteado que o resultado final das urnas já fora divulgado e não havia volta), me vi diante do abismo inevitável, que se sabe que poderia aparecer, mas não se quer acreditar esteja a nossa frente quando surge.

Nascido no inverno de 1965, fui criança, adolescente e jovem durante o regime entreguista e ditatorial inaugurado em 1964 e pude presenciar pessoalmente o clima de censura e repressão. Nunca esquecerei de um belo dia, em 1978,  em que me vi surpreendido, ao levantar da parede do quarto de meus pais um quadro do Padre Réus que se encontrava estranhamente afastado no prego que o segurava, e debaixo descobrir um quadro, cuja moldura encerrava um cartaz de campanha de Brizola a governador do Rio Grande do Sul em 1958, que meu pai escondera durante quatorze, por medo da repressão do DOPS. Ao questionar minha mãe sobre o personagem retratado, esta me disse, do alto de sua sabedoria de quem apenas passou pelas primeiras letras e as quatro operações aritméticas: “meu filho, este era um cara que defendia o trabalhador”. Não poderia haver definição mais perfeita e as circunstâncias deixavam claro até para um guri de treze anos as razões porque o quadro fora escondido e a natureza do regime político que forçava o fato. Era uma ditadura que fora estabelecido contra o povo, a grande maioria que sua ingloriamente todo dia para manter o Brasil andando e a quem quer que opusesse a este massacre reservava a tortura, a morte e o desaparecimento.

E hoje pela manhã me vi envolto pelos sentimentos que expressei, quase literalmente, a uma amiga e companheira de militância política e sindical, nas palavras seguintes, ao lhe agradecer uma mensagem pelo dia do abraço, e que dizem todo o possível neste momento.

Estou perplexo e ainda em estado de choque. Apesar de manter a postura radical e revolucionária nos posts do facebook, sinto medo e um imenso nojo.

Sei que, pelo menos nos primeiros tempos, não iremos parar no pau-de-arara, mas temo justamente o que mais me enoja: a reação histérica e furibunda dos fanáticos, muitos próximos, como parentes e colegas, que, diante de nossa menor crítica, só sabem esbravejar (ou se não o fazem nos termos exatos, deixam perfeitamente implícito  o pensamento) como se estivessem vendo o próprio diabo na frente, coisas como “petista imundo, ateu imoral, comunista!”,  e parecem estar dispostos a avançar de porrete sobre nós, no seu ímpeto de caça às bruxas.

Diante de uma das minhas postagens do final da noite, um colega aposentado, destes que me chamava de comunista no início dos anos 1990, em razão de minha liderança sindical, saiu-se, com a autoridade de censura que parece lhe ter sido magicamente concedida pela vitória do louco, com a seguinte pérola, sutilmente intimidatória: “Quando tu vai parar de dizer besteira?”

Temo porque sei que há formas bem mais sutis de nos exterminarem, a nós que defendemos a dignidade e a real decência da peonada trabalhadora, do que a tortura ou a eliminação física. E tenho certeza que será esta horda de fanáticos, bem próximos, o instrumento da delação e da perseguição, que virá através das brechas legais mais obscuras, na forma de ações criminais e procedimentos administrativos disciplinares. O mínimo suspiro indignado emitido por nós (“execráveis vermelhos degenerados dignos de exemplar e feroz punição” na visão destes fanáticos) servirá para detonar o linchamento “legal” que nos azedará a vida.

Mas não sei viver de outra forma que não seja o exercício desbocado e sem freios da liberdade. Apesar do medo, continuarei no pé do autoritarismo e da injustiça e bradarei, eu mesmo, com toda serenidade possível, até que me calem.

Pois, como me dizia a Isadora, na primeira madrugada deste fatídico ano, ao lhe dar a tradicional intimada para ir dormir (frase que anotei em meu caderninho e planejava desde então viesse a ser tema de matéria própria neste blog), parindo espontaneamente e sem saber o seu primeiro poema: “São os nossos sonhos que fazem o sol nascer. Se a gente não dorme o dia não vem. E as nuvens são os nossos pesadelos”!

Ubirajara Passos

 

 

 

 

 

Aos brasileiros que ainda não definiram seu voto nas eleições presidenciais de 28 de outubro:


Conforme a última pesquisa do Instituto Vox Populi, realizada e divulgada neste sábado, a eleição para a presidência da República se encontra  empatada entre Fernando Haddad e o Capitão “do Mato” Jair Messias Bolsonaro!

Caberá a ti, eleitor ainda indeciso, definir os rumos do Brasil, a continuidade do direito de expressão, do direito de manifestação, de luta, do mínimo de direitos trabalhistas e sociais, como décimo terceiro salário, estabilidade do servidor público, aula presencial no ensino fundamental, da própria sobrevivência física de negros, índios, mulheres, gays e militantes da causa popular

OU a entrega do país e de nossas vidas à boçalidade, à violência, à censura brutal e hipócrita, à asquerosa escravidão rediviva, à ignorância inominável e ao extermínio sádico de milhões de brasileiros EM NOME DOS INTERESSES PREDATÓRIOS DE MEIA DÚZIA DE DETENTORES DO GRANDE CAPITAL NACIONAL E INTERNACIONAL.

Nossa sobrevivência como nação com um mínimo de civilidade está nas tuas mãos.

Não permita que nossas crianças e jovens tenham de passar, como nós passamos nos anos 1960, 1970 e 1980, pela opressão tacanha, insuportável e arrogante de uma ditadura escancaradamente elitista, calcada na mentalidade soberba, no uso cru e no desprezo às multidões de trabalhadores, cuja vida em frangalhos, no trabalho árduo e não recompensado, faz andar o Brasil!

Não podemos retroceder! Como diziam os clássicos versos da versão original do hino farroupilha: “Avante, povo brioso/ Nunca mais retrogradar/ Porque atrás fica o inferno/ Que haverá de nos tragar!”

Ubirajara Passos

 

 

 

 

Bolsonaro: tirania e extermínio a serviço da classe dominante internacional


Nunca tive a menor simpatia pelo PT, não por tê-lo como radical, mas justamente pela excessiva moderação de seu pretenso esquerdismo. O que se pode constatar facilmente desde as primeiras postagens deste blog, no início de 2006. Inúmeras foram as crônicas e comentários ferinos desferidos ao longo de seu governo. No entanto, diante da possibilidade de eleição do ilustre Capitão “do Mato” Jair Bolsonaro para a presidência da República, não há outra hipótese, racional e humana, possível que o voto em Haddad! 

Como diria o velho Brizola, desta vez teremos de engolir não um sapo barbudo, mas um banhado inteiro de batráquios, incluídas as rãs e pererecas de todo tipo.

A eleição de 28 de outubro não se constitui em uma mera disputa entre dois candidatos mais ou menos radicalizados, em polos opostos, mas num verdadeiro plebiscito, cujo resultado favorável ao candidato do PSL acabará por implicar na própria extinção do regime democrático e das mínimas garantias ainda vigentes, como a liberdade de expressão,  os direitos de reunião e de ir e vir.

Não fosse suficiente a assumida, e entusiasticamente assumida, nostalgia do militar da reserva, cuja carreira se deu justamente entre 1973 e 1987, pela Ditadura Militar instaurada em 1964 (ao ponto de defender a tortura e tê-la por insuficiente, os milicos deveriam ter matado uns 30 mil), as recentes declarações de seu candidato a Vice-Presidente (um general explicitamente favorável à “intervenção militar”, ou seja, o golpe de Estado puro e simples), não deixam a menor dúvida quanto à natureza de seu futuro governo, quando, da forma mais descarada possível, prega a substituição da Constituição cidadã de 1988 por uma carta outorgada por notáveis e um “auto-golpe” em 2019 na hipótese do “clima de baderna” torná-lo necessário. O que é mais do que suficiente para não levarmos na conta de mera bravata as suas intenções autoritárias.

Caso eleito, certamente o golpe virá e virá com toda a fúria e retaliação correspondente à sua pregação tresloucada, anti-comunista, homofóbica, machista, e racista, que, infelizmente, não é mera retórica.

Sua monstruosa postura é  mais asquerosa que seus ídolos torturadores, pois não tendo cometido com as próprias mãos os atos admirados, possui um tesão sádico frustrado por fazê-lo que só se satisfará com a imolação de multidões, como os milhões de judeus levados à câmara de gás por Hitler.

É a própria encarnação de tudo o quanto há de mais repulsivo e aterrorizante no Brasil em nossos dias. E a sua tirania não se restringirá, tragicamente, à imposição política incoercível e inquestionável dos mais tresloucados rumos à sociedade brasileira. Mas fatalmente descambará para o morticínio, não só da bandidagem que pretende combater à bala, como na morte concreta de qualquer opositor ou membro de um dos grupos considerados desagradáveis e fora da ordem por seu conservadorismo arcaico e furibundo. Bastará o cidadão ser um militante sindical, ter nascido na condição de  negro, gay, ou ser um índio ocupando área de terras ardentemente cobiçada por um grileiro ou minerador ilegal qualquer, por exemplo, para integrar a lista de candidatos ao extermínio pela força do Estado, ou mesmo dos próprios fiscais de esquina colaboradores do neo-fascismo redivivo.

As dezenas de ataques de seus psicopáticos seguidores a militantes de esquerda,  homossexuais ou simples simpatizantes de Haddad, ocorridos antes e após o primeiro turno, nos comprovam que  o extermínio não somente virá, como já está entre nós e, mais do que uma política de Estado, será a prática sanguinária e costumeira, típica dos regimes fascistas, dos milhares de capitães do mato fanatizados pela pregação intolerante do senhor Jair Messias. Cuja cretinice sádica é tão grande que ainda tem coragem de tripudiar sobre as vítimas de seu programa de extermínio, como mestre Moa do Katendê, dizendo-se irresponsável pelos trágicos crimes de seus “incontroláveis” asseclas – bandidos na pior acepção palavra, muito pior do que o mais cruel e cínico chefão do crime organizado, cuja tara furibunda foi despertada por sua pregação maniqueísta e intolerante

O mais inacreditável, entretanto, é que a maioria de brasileiros que se inclina a enterrar, com seu voto, no próximo dia 28 de outubro, os últimos resquícios de liberdade na “democracia” violada pelo golpe de 2016, grande parte dos quais composta por trabalhadores e membros dos grupos ameaçados, parece não desconhecer nada disto e deixar-se levar pelo ódio e frustração legado pelas mazelas da Era Petista, além do tradicional conservadorismo moralista, profundamente impressionados pela velha e surrada arenga anti-corrupção que  os algozes de Dilma alimentaram fartamente com a Operação Lava-Jato.

Não conseguem enxergar nada além de violência e corrupção, como se uma e outra não fossem o simples resultado crônico de um Estado organizado para manter os privilégios de uma minoria daqui e d’além-mar, gerados no sacrifício de milhões trabalhadores, no país de maior concentração de renda e injustiça social do mundo.

Parecem não compreender que, apesar de repetidas (mesmo com as reprimendas do “mito”) incessantes vezes, as declarações inconvenientes do General Mourão e de Paulo Guedes, candidato a vice-presidente e guru econômico de Bolsonaro, são pura realidade  e espelham suas intenções concretas: a extinção dos direitos a décimo terceiro salário e férias, a ressuscitação do CPMF e uma alíquota única de 20% no imposto de renda, que onera ainda mais os assalariados e alivia a tributação no bolso mais ricos.

Isto sem falar no que está assumido claramente no programa de governo e nas últimas manifestações do candidato, como a tal “carteira de trabalho verde e amarela” que, aparentemente optativa, como o FGTS, se fará obrigatória, e permitirá aos empregadores o exercício pleno e livre da exploração, sem qualquer garantia legal de direito ou proteção para a peonada. Assim como o fim da unicidade sindical, quebrando a representatividade dos sindicatos, as privatizações generalizadas de empresas estatais e principalmente a intenção explícita de “acabar com os ativismos”. Expressão ambígua e vaga que esconde, sob um lençol curto e transparente, o que está reservado para todos aqueles que, em nome de sua dignidade e condição humana, pretenderem reivindicar e militar por seus direitos sociais, trabalhistas, econômicos e culturais: a repressão pura e simples, sob todas formas possíveis e imagináveis do velho tacão militarista e escravocrata, da censura à tortura e ao cru justiçamento sumário, que certamente não será praticado apenas para os “bandidos” comuns, mas a todos aqueles que se opuserem aos desmandos do novo poder.

Este avalanche de ataques aos trabalhadores e aos interesses nacionais não tem outro objetivo, apesar dos pretextos meramente preconceituosos, moralistas e anti-comunistas, que a defesa e aprofundamento da sanha de lucro  e privilégio da burguesia internacional e seus lacaios brasileiros. Para que os grandes grupos econômicos que infelicitam a vida de meia humanidade em prol do sádico prazer da minoria proprietária possam esfolar o gado humano e as riquezas naturais do Brasil até o tutano dos ossos, garantindo a reforma previdenciária “a moda de Bolsonaro” e o retrocesso a um verdadeiro escravismo nas relações de trabalho, além da entrega descarada do patrimônio nacional, é que o capitão recebeu sua missão totalitária e genocida. Assim o golpe de 2016 não terá sido em vão e os nossos amos poderão gozar tranquilos.

O processo principiou e a única forma de detê-lo, ao menos de impedir que ele se  faça sob o disfarce legal das eleições “democráticas” (pois ninguém se iluda que, derrotado, o golpismo fascista tentará impedir a posse de seu oponente, e, frustrado tal intento, depô-lo posteriormente), por mais amargo que possa parecer o remédio a todos que, como eu, têm sérias restrições ao mero assistencialismo do “socialismo petista”, é o voto em Fernando Haddad, sem qualquer dúvida ou o menor vacilo!

Ubirajara Passos

 

 

 

 

 

 

 

Clamor aos quartéis: ingenuidade ou pendor autoritário?


Pode parecer contraproducente e rançoso que, ao invés de aprofundar a análise do momento social do Brasil e tentar influenciar (dentro da enorme limitação de possibilidades de um mero blog libertário lido por meia dúzia, cujo alcance é pífio mesmo que seja na discussão teórica) a rebelião profunda e necessária ao estado de coisas a que chegamos nestes país desde o golpe paraguaio de 2016, insistamos em rebater o ruído das viúvas da farda verde-oliva, mas este é tão insistente que se faz necessário ir ao fundo da sua natureza.

Diante dos clamores enfurecidos e apaixonados pela “INTERVENÇÃO MILITAR” no Brasil é bom que se diga que, ao contrário do que muito gente pensa, não são mera manifestação infantil de desamparo, nem decepção com a podridão ética generalizada da classe política atual.

Quem apoia a milicada, salvo casos de extremo desespero (o que explica, mas não justifica a atitude) ou obtusidade mental crônica, na verdade tem pendores autoritários. São aquelas pessoas que acreditam que tudo deve ser organizado verticalmente, de uma grande empresa à própria família, que acreditam na educação dos filhos debaixo do pau e da carranca, que vêem crime e devassidão por todo o lado e não admitem a possibilidade do bicho humano viver senão debaixo da repressão e da “disciplina” autoritária!

Esta doença biopática tem nome e foi diagnosticada há uns bons oitenta anos pelo discípulo dissidente de Freud WILHELM REICH: chama-se PESTE EMOCIONAL e sua expressão política é o FASCISMO!

A liberdade importa necessariamente em consciência da realidade e responsabilidade pela própria vida.

O povo brasileiro, ao contrário do que propala a mídia sacana, se mata diariamente trabalhando de sol a sol e sua desgraça não advém do exercício da liberdade, mas do fato de ter toda sua vida organizada pela vontade de uns poucos, que usufruem dos privilégios mais inimagináveis, através de seu sacrifício, inclusive os políticos corruptos.

Não foi o exercício da liberdade (que para muitos “não tem nada de positivo, só serviu para a juventude consumir drogas e resultou em caos e corrupção”), o decidir segundo seus pendores e necessidades a própria vida, que nos colocou  na desgraça vigente, pois ele praticamente não existe numa sociedade como a nossa.

A corrupção não é resultado do regime democrático, mas pelo contrário, de uma ordem organizada verticalmente, onde a maioria dos políticos ocupam seus cargos não apenas no proveito próprio, mas na defesa dos interesses do grande capital nacional e internacional, que deles precisa para legalizar e aprofundar o massacre exploratório a que a maioria vive exposta.

As drogas são produzidas e jogadas no meio da sociedade por estes mesmos detentores do poder econômico, seu negócio é o mais rentoso no mundo depois da venda de armas e colabora para a inconsciência e prisão mental que mantém o moderno escravismo.

A solução, portanto, está em assumirmos o nosso próprio destino, em corrermos toda esta politicada e, ao invés de sair correndo atrás de um pai iluminado e todo poderoso, nos auto-organizarmos em cada unidade de trabalho, em cada bairro e cidade, Estado e na nação.

É preciso que o povo trabalhador se faça o protagonista de sua própria vida. Se este processo for deflagrado, se assumirmos esta responsabilidade, as lideranças naturalmente surgirão, e se estivermos atentos, poderemos podá-los na primeira manifestação de autoritarismo ou corrupção.

Não se combate o desvio da democracia com ditaduras, mas com o aprofundamento radical da democracia, concreta e efetiva, alicerçada no debate deliberação e comprometimento livre e determinado do conjunto dos indivíduos, do grande rebanho de trabalhadores moídos diariamente no escravismo assalariado, muito além do formalismo do Estado representativo falido que nos foi legado justamente pela cultura e hábitos de procedimento (principalmente os privilégios aristocráticos insanos de parlamentares, políticos e altos agentes públicos em geral) que nos foram legados pelos anos infelizes de regime militar!

Ubirajara Passos