ILUSÕES DA PIÇA


O que não faz uma tarde de tédio? Depois de dormir até o meio-dia, apanhar alguns limões-bergamota no pé e almoçar, pobre solteirão desventurado que não sabe cozinhar, uma lasanha pré-fabricada com pepino, vieram-me à cabeça os versos dramáticos e filosóficos de Francisco Otaviano, poeta romântico carioca nascido em 1825 e morto em 1884, que fizeram o maior sucesso até a geração dos nosso avós (1920, 1930, por aí): “Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem – não foi homem,/ Só passou pela vida – não viveu”.

Como se percebe, o tom é dos maiores sérios e pessimistas possíveis. Mas o poemeto me veio à cabeça justamente na forma de uma paródia cretina, impagável, e nada original (centenas de poetas de buteco, quem sabe algum obscuro escritor do século XIX ou da primeira geração do modernismo brasileiro, e, com certeza, milhares de estudantes da velha guarda devem ter escrito coisa semelhante), que, após o primeiro verso surgido espontaneamente, redigi com as “Ilusões da Vida” em punho, e aqui publico na intenção da edificação moral de nossas crianças e jovens – com as quais tanto se preocupa o ditador fascista Inácio dos nove dedos, que até reviveu, de forma (mal) disfarçada, a velha censura do regime militar, obrigando as emissoras da TV aberta (com exceção dos intervalos comerciais, é claro, que o faturamento da burguesia não é digno de censura) a passar só depois da meia-noite os programas considerados indecentes por meia dúzia de classificadores (os novos censores) auxiliares do zeloso ministro Tarso Genro, a cujos éticos olhares a portaria ministerial recomenda sejam encaminhados os programas antes de sua exibição (a velha censura prévia).

Mas, como dizia Odorico Paraguaçu (protagonista de “O Bem Amado”, de Dias Gomes), deixemos os entretantos e vamos aos finalmentes. Pois este post já está virando panfleto político e a questão da nova censura (que é tão “democrática”, que a função de tesoura não será exercida diretamente pelo executivo, cabendo a honra ao judiciário, a quem os amigos do Inácio encaminharão os “causos”, para punir as emissoras rebeldes, tudo no mais puro espírito da “Constituição-Cidadã”) merece uma crônica a parte. Vamos ao poema:

Ilusões da Piça

Quem passou sua piça em brancas vulvas
E rápido, de gozo, adormeceu;
Quem não sentiu o gosto da cachaça,
Quem brincou com a prima e não fudeu,
Foi esperto só de nome – não foi homem,
Só passou pela foda – não fudeu.

Gravataí, 30 de junho de 2007

Ubirajara Passos

A PUTARIA NÃO É MAIS A MESMA!


Há pouco eu lia a orelha do clássico erótico francês “Anti-Justine”, escrito no final do século XVIII, que adquiri, faz uma semana, em edição de bolso da L&PM (a mais nacional das editoras gaúchas), e dei com o trecho final do comentário ao livro onde consta o seguinte: “Escrito em 1798, Anti-Justine foi publicado pela primeira vez em 1863, em tempos de banalização do sexo e do corpo, é nada mais que atual.” (grifo meu).

Antes que os leitores mais revolucionários e anti-moralistas se engasguem com a cachaça de cabeceira, vou esclarecendo: não tive nenhum ataque de recaída aos meus tempos de piá católico hipócrita (aí pelos quatorze anos), quando batia as mais homéricas punhetas, munido de uma simples revista “Ele-Ela”, e, oficialmente, chegava a professar a virgindade masculina antes do casamento! O fato é que putaria, foda (que sexo é um termo muito “puro”, neutro e tão higiênico quanto uma asséptica luva de dentista), o corpo de uma mulher para mim sempre foi um acontecimento espetacular!

Tanto que o simples ato de meter, sem as lambidas, bolinadas e chupadas (e principalmente sem o clima de festa irreverente, bêbada e hilária entre o casal), não tem simplesmente graça nenhuma! É preciso, antes de adentrar com o falo em brasa o porta-jóias de coral de uma mulher, antes de fazer-lhe os louvores cálidos e suaves de uma língua úmida e lábios sacanas, tremer de tesão ante um rostinho lindo, terno e malicioso, e desmaiar de prazer ante o liso de umas coxas roliças, sedosas e inquietas (que são uma festa para as mãos incertas)!

Mas basta assistir um filme pornô brasileiro padrão (destes que copia, com a mais requintada incompetência, o pior do padrão americano – cujas fantasias, em razão do puritanismo disseminado em sua sociedade, são as do mais bronco piá pré-adolescente barranqueador de égua) ou ouvir as narrativas das aventuras de uma gata pequeno-burguesa (nem precisa ser de um destes deslumbrados “boys” metidos a bom) para se dar com a falta de sal, de prazer genuíno e safado, e o mecanicismo (quando não o sado-masoquismo implícito e medíocre) do imaginário sexual do século!

Quanto à putaria mais estrondosa da internet e o discurso sexual da novela das oito da Rede Globo, nem se fale! Nosso tataravós (os pais dos trisavós) eram bem mais lúbricos e criativos! Qualquer dia um guri novato na sacanagem vai achar que trepar é subir num pinheiro e esfolar a piça no seu tronco!

 

Ubirajara Passos

FINALMENTE DIRETORIA DO SINDJUS-RS ACORDA


Após um sono prolongado de dezesseis dias, que já se candidatava a bater o recorde da “Bela Adormecida”, finalmente a nova gestão, cutista, do Sindjus emitiu um grunhido.

Através de “Sindjus Informa”, elaborado e enviado por fax nesta tarde (pois o site continua a expor a vergonhosa página em branco com os dizeres “estamos elaborando um novo site”), a “audaciosa” diretoria do sindicato dá conta, com dois dias de atrasado (quando este blog chamava a atenção para o fato já no domingo à noite), da aprovação do auto-reajuste de 21,22% dos deputados estaduais gaúchos.

Esta é, até agora, a primeira e única ação concreta da diretoria eleita em maio e, como as demais gestões pelegas do PT no sindicato (e de seus colegas do SIMPE), prima pela verborragia e timidez. O informativo se resume a fazer coro a todas as críticas já desferidas contra o reajuste e não dá notícia de qualquer ação concreta.

Qualquer dirigente sindical que se preze teria denunciado o fato antes de sua aprovação e convocado, no mínimo, um ato público da categoria (e dos demais servidores públicos do Estado, pois não estamos isolados no mundo) de repúdio, no centro da capital, com o que seria possível obter a cobertura da mídia e criar a polêmica necessária à possível rejeição do projeto.

Mas, estrategicamente, os nossos diretores, esperaram que a coisa se tornasse fato consumado (e que seus amigos, os parlamentares petistas, tivessem garantido o “aumentinho”), para só então, fazendo de conta que cumprem o dever político como direção sindical, se manifestar a respeito.

Agora é tarde, Sindjus!

 

Ubirajara Passos

“AÇÃO ENTRE AMIGOS”


Para quem foi pego de surpresa com as bravatas do petista Raul Pont na última segunda-feira, colocando-se como o herói do combate ao reajuste automático dos deputados estaduais gaúchos (decorrente da sacanagem federal) de 21,22%, hoje à tarde no plenário, tudo voltou ao seu lugar!

A “miserável” reposição salarial foi aprovada pela unanimidade das bancadas da Assembléia Legislativa.Exatamente a mesma turma que negou aos trabalhadores do Judiciário a “absurda” recomposição de 6,09%, com a qual o Estado “faliaria”!

Mas que ninguém se “apoquente” (como diria um destes pernósticos parlamentares acostumados à diária masturbação verbal e que há uns quinze anos não bota o pé numa favela), pois hoje os tempos são outros… Em março a “radical” direção do Sindjus-RS não tinha representantes no legislativo! Agora a bem comportada e ajuizada executiva empossa no dia dos namorados já tem quem lute “pra somar” na Assembléia: seus amigos de partido, os deputados petistas. É claro que continuamos chupando o dedo ( correndo o risco de acabar sem língua, de tanto uso) e amargando até mesmo as perdas de mais de 40%, sem ver nenhum tostão desde 2004!

Porém, não se cometa a heresia de dizer que os amigos da nova situação sindical (que continua mais muda que padre em confessionário) não são capazes de aprovar um reajuste! Está aí o Raul Pont, que esperneia, vacila, mas não nega fogo: a partir deste mês leva, em cada bolso das fofas calças, mais meio salário, correspondete a um mês inteiro de trabalho, de um funcionário de nível médio da Justiça Estadual! Quanto aos servidores, logo ,logo terão mais um “aumento”… de serviço, tendinite, depressão… até que o Tribunal de Justiça descubra que ainda vigora na legislação brasileira uma coisa chamadada “concurso”!

Ubirajara Passos

DEPUTADOS ESTADUAIS DO RS REAJUSTARÃO SEUS SALÁRIOS EM 22,21%! E AGORA, SINDJUS?


Conforme notícia divulgada na manhã da última sexta-feira pela Globo.com, os deputados da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul deverão aprovar, nesta semana, um reajuste de 21,22% no próprio salário, o que renderá para cada ilustre legislador a bagatela de cerca de mais R$ 2.100,00 no próprio bolso (valor superior ao salário básico líquido que recebe um Oficial Escrevente de entrância intermediária, cujo salário é o médio dos servidores da justiça).

Com a medida, que segundo a notícia constitui consenso entre as bancadas do parlamento gaúcho (incluída a do PT, o mesmo partido que dirige o Sindjus-RS, portanto), os pobres parlamentares terão seus salários aumentados de cerca de R$ 9.500,00 para R$ 11.600,00.

O mais escandoloso, porém, é que estes são os mesmos senhores que mantiveram, por ampla maioria (só as bancadas PT, PSB e PC do B votaram contra, na época) o veto de Yeda Crusius ao mísero reajuste de 6,09% (referente à metade da inflação de 2004!) dos servidores da justiça, sob o argumento da crise financeira e de que a reposição salarial rebentaria os cofres do Estado. E agora queriam dar, conforme a notícia, um aumentinho de 28,5% para a governadora (que, enrubescida a coitadinha, recusou o mimo).

O caso apenas confirma o que estamos carecas de saber há décadas: a peonada tem mais é que remendar os bolsos furados, porque os caras-de-pau que detém o poder de aumentar o próprio salário não podem comer uns quilinhos a menos de caviar! A inflação, no Rio Grande do Sul, é seletiva: quanto maior o salário e mais privilegiado o cargo, maior ela é! Afinal o preço do vinho importado costuma aumentar mais do que o feijão!

Enquanto isto, o Sindjus-RS, SOB NOVA (e destemida) DIREÇÃO, não dá um pio a respeito. O que não é muito estranho, já que seus amigos (os deputados petistas que lhes prestigiaram a posse) vão receber também o aumentinho!

O mais curioso, porém, é que são estes mesmos diretores “mudos” da entidade, que, quando eram oposição, às vésperas da última eleição, tentando desinformar e manipular a consciência da categoria (enquanto a diretoria da época se esfalfava, eu inclusive, mobilizando os servidores interior a fora) disparavam gracinhas como: “Notícia de hoje sobre a nossa reposição salarial. A governadora segue trabalhando para nos deixar mais um ano sem reajuste. O Sindjus nada fala a a respeito, parece não estar interessado no assunto.

Ou: “Temos que ficar atentos ao noticiário e estar no Legislativo no dia da votação do veto, porque esperar pela iniciativa do Sindjus, corremos o risco de não ficar sabendo do dia da sessão. Saudações. Valdir (Coletivo Consciência e Luta)” {e-mail enviado em 16/2/2007, às 09:15 min para toda a categoria}.

E agora, SINDJUS?

 

Ubirajara Passos

DA MANSIDÃO E O EXERCÍCIO DO DOMÍNIO


Não há imagem mais representativa da meiguice do que um gato siamês ronronando, enroscado no seu colo. Mas lhe dê um forte beliscão e verá do que é capaz a fera em que se transformará a “doçura”! Entretanto, ao menos que tenha se tornado neurótico, devido ao convívio humano, o bichano jamais será visto mordendo ou arranhando alguém sem que tenha sido agredido, esteja em situação de perigo ou caçando a presa de que necessita para se alimentar (e aí, azar é do rato!).

A mais pura das verdades é que a agressividade é uma disposição de espírito plenamente natural e normal, desenvolvida ao longo da evolução natural, justamente com o intuito de preservar nossa vida e integridade física.

Entretanto, vivemos em uma sociedade onde a menor manifestação de desagrado, discordância, crítica e oposição a qualquer coisa ou a outrem são interpretados como um grave crime que deve ser punido com toda severidade. Especialmente se, no caso da agressividade verbal, esta não estiver revestida da hipocrisia sofisticada da linguagem polida (uma coisa é bradar “seu mentiroso” e outra afirmar, suavemente, “o senhor está faltando com a verdade”) e se manifestar na plenitude saudável da espontaneidade (não há coisa mais imperdoável para a ideologia do “bom comportamento” do que um sonoro e explosivo “vai tomar no cu” ou “vai à puta que pariu” – que, coitada não tem nada a ver com o caso).

Basta mesmo que o tom de voz se eleve algumas oitavas, ao defendermos um ponto de vista lógico, com convicção, diante de um interlocutor, para que caiam sobre nós as maiores reprimendas, dignas do mais odiado assassino apontado pela mídia!

O que normalmente é esperado (e está introjetado na mente da grande maioria dominada) é que sejamos mais dóceis e “obedientes” que o gato siamês! Não é por acaso que a ideologia que forjou a mentalidade profunda do Ocidente (o Cristianismo) recomenda nas palavras de seu “fundador” que se ofereça a outra face, caso levemos um tapão no rosto. E menos ainda é casual que, no primeiro livro da Bíblia (o Genêsis), o “pecado original” cometido pelo primeiro homem (cuja culpa teríamos herdado) seja a “desobediência”.

E o que ninguém se dá por conta é que a repressão da agressividade, e o louvor à mansidão, é justamente um dos pilares necessários à dominação dos que desfrutam o produto do suor de nosso trabalho! A primeira condição para que alguém se deixe escravizar, e para que se mantenha, sem qualquer risco, o sistema que permite aos parasitas dominadores uma vida de requintado e permanente ócio, é a disposição de conformismo dos dominados (pois o simples medo ainda resguarda uma possibilidade de reação).

Somente nos transformando em bem “educadas” ovelhas cumpridoras do “dever”, atormentadas pela culpa de qualquer transgressão às regras impostas, e obcecadas com a própria “compostura”, é que nossos donos podem usufruir seus privilégios à custa do rebanho humano, e exercer sua índole sádica sobre nossos lombos! Sem a colaboração do nosso conformismo e do nosso empenho em vigiar e reprimir os companheiros próximos que ousem não submeter-se (“a desobediência”) seria impossível a existência da exploração e da sociedade de classes!

E esse amestramento só se manteve, milênios a fora, na medida em que assimilamos e reproduzimos, geração após geração, a noção de que a agressividade não só é reprovável, mas doentia (o que nos faz padecer o auto-flagelo mental cada vez em que desejamos ser “rebeldes” e “mal-educados” frente aos senhores, seus chefetes, e a ordem vigente).

Quando, na verdade, nos tornamos animais pela metade, enfermos da auto-violentação, da interdição de um mais naturais e benfazejos instintos, sem cuja manifestação permitimos que nos seja impingida o permanente ataque ao nosso ser (mente e organismo) em prol da sacanagem refinada de uns poucos patrões e altos puxa-sacos de todo quilate (os chefes e chefetes pequeno-burgueses encarregados da função de feitores de escravos, delicadamente designada “gerência”).

Ubirajara Passos

LEONEL BRIZOLA: o último revolucionário brasileiro


Resultado de imagem para brizola metralhadoraEm 21 de junho de 2004, numa fria noite de inverno, no galpão onde morei com meu pai durante dois anos e meio, na Vila Palmeira, interior de Santo Antônio da Patrulha – RS, eu escrevia em meu diário: “Morreu Leonel Brizola. Foi-se a grande inspiração política e arquetípica da minha vida, de forma totalmente imprevista e dolorosa. Eu que, com certeza, fui desde os meus 14 anos, em 1979, o seu maior e mais incondicional admirador, sempre vi em Brizola a coragem e o entusiasmo radical imbatível e brilhante, a sinceridade incoercível capaz de enfrentar a tudo e a todos em prol da verdade, da libertação e felicidade do nosso povo injustiçado. Morre um homem que jamais curvou a espinha, que teve a coragem de enfrentar, dando a cara a tapa, as maiores incompreensões, em nome de seus ideais de justiça e solidariedade. Tenho quase 40 anos, mas, ‘quando crescer’, quero ser como o Brizola.

Naqueles dias, infelizmente, as limitações financeiras e funcionais de funcionário público fudido me impediram de comparecer ao seu velório em Porto Alegre, no Palácio Piratini (onde, como se vê na foto acima, de metralhadora empunho, o Leonel enfrentou a sanha golpista dos ministros militares fascistas e pró-yankees, e garantiu a posse de João Goulart, o herdeiro político de Getúlio, na presidência da república).

Mas hoje, três anos depois, presto a minha retardária homenagem, justamente numa época em que a minha vida fecha um ciclo. Em 2004, após três anos de ostracismo no sindicalismo, eu me candidatava a vereador pelo PDT (fiz uma votação pífia, mas dei, na campanha feita a pé pelas ruas de Gravataí, o meu recado socialista, revolucionário e anti-fascismo lulista), apoiava, através do Grupo 30 de Novembro, a vitoriosa chapa classista “Sindicato é pra lutar”, e, no final do ano, me elegia Coordenador do Núcleo Regional da Grande Porto Alegre, no Sindjus-RS, me tornando, a partir de então, um dos grandes líderes da gestão sindical que se encerrou no último dia 12. Hoje o PDT, englobado no fisiologismo do fascismo petista, tornou-se uma decepção e a chapa, pela qual fui candidato a diretor da Executiva do Sindjus, foi duramente derrotada na eleição de 14 de maio.

Brizola, assim como o “Che”, foi um revolucionário atípico. Ao contrário do Ernesto, jamais disparou um tiro contra o imperialismo em toda sua vida, embora empunhasse a metralhadora na “campanha da legalidade”, quando, governador do Estado do Rio Grande do Sul, em agosto de 1961, diante do veto dos ministros militares direitistas de Jânio Quadros (que renunciara à presidência da república) à posse do vice-presidente João Goulart, utilizando a institucionalidade do cargo, organizou uma verdadeira revolução popular, impedindo o golpe e garantindo a posse de Jango, que encarnava as esperanças de dignidade e justiça dos trabalhadores brasileiros.

Sua arma, que garantiu uma mobilização popular nacional e transformou Porto Alegre em uma verdadeira praça de guerra, tomada por multidões de centenas de milhares de trabalhadores (aos quais o governo do Estado chegou a distribuir revólveres, para a eventual resistência armada), foi a palavra contundente e destemida, transmitida através do rádio, em uma rede que cobria todo o Brasil e, através das ondas curtas, a América Latina: “A cadeia da Legalidade”.

Dois anos antes, em 1959, e menos de um ano após, em 1962, Brizola utilizaria como fuzil a caneta, desapropriando, e transferindo para o controle do Estado, as multinacionais da energia elétrica, Bond and Share, e da telefonia, International Telegraph and Telephone, respectivamente. O que lhe granjeou a posição de inimigo número um, no Brasil, do imperialismo yankee e de persona non grata no Estados Unidos.

Embora formado no estilo matreiro da política gaúcha e brasileira dos anos cinqüenta, o que o levou muitas vezes a cometer equívocos como apoiar o direitoso Ciro Gomes para presidente da república em 2002, Brizola encarnava, com sua verve simples, direta e radical, o que havia de mais próximo do povo comum na política brasileira. E revolucionários de bravata como Hugo Chaves são simples gatinhos angorás perto desta fera. Leonel Brizola não foi nenhum teórico socialista formal e profundo como Lênin, Marx ou o anarquista Kropotkin, mas possuía na sua forma de agir e falar a sabedoria profunda e viva do povo simples – filho de pequenos agricultores que foi – e, embora formado na Faculdade de Engenharia, jamais pensou ou agiu com o elitismo superior e hermético dos doutores.

Sua profunda identificação com o povo trabalhador, de que era oriundo, fez-lhe, em muitos momentos, principalmente na última década, a única e teimosa voz a criticar profundamente a injusta e autoritária sociedade em que vivemos, a reivindicar, concretamente, uma vida real, digna de gente e não de vira-latas, para a grande massa anônima dos brasileiros que rala todo dia, enriquecendo com o seu suor a afetada burguesia local e seus sócios imperialistas internacionais!

Quem mais, senão Brizola, teria a coragem de defender, às ante-vésperas do golpe que derrubou Jango e criou o Brasil da miséria absoluta que hoje conhecemos, no comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro, a eleição de uma Assembléia Constituinte popular, que fizesse as reformas de base capazes de iniciar a libertação do trabalhador brasileiro, como a reforma agrária, contra um Congresso Nacional de parlamentares conservadores e capachos do grande capital multinacional?

Ou de defender a renúncia do Presidente da República civil títere do regime militar, no início da redemocratização formal (1985-1989), o poeta de meia-tigela José Sarney, durante todo seu mandato? Ou pregar a renúncia e o fuzilamento do irmão siamês neo-liberal de Lula, Dom Fernando Henrique I e único, em 1999, num dos tantos momentos em que sua atitude, muito mais do que a de um simples social-democrata ou socialista radical, o aproximava de um verdadeiro anarquista!

Brizola foi um tanto personalista e centralizador na condução do PDT (embora, ao contrário das críticas pequeno-burguesas geralmente aceitas, tenha acertado ao se livrar de lideranças partidárias como Cesar Maia e Garotinho, que, mais do que lhe fazer sombra, representavam a demagogia aburguesada, o que acabou por se revelar nas suas trajetórias, após deixar o partido). Mas mesmo seus defeitos não foram mesquinhos, porém dignos das grandes personalidades. Daqueles que têm profundamente enraizada em si a certeza de seus ideais, que sentem correr no sangue a energia revolucionária. E não cansam, teimosamente, até o último suspiro, de combater por um mundo digno da nossa condição de animais conscientes, racionais, sensíveis e criativos, que têm direito a ser algo mais do que uma ferramenta estéril e muda nas mãos insossas, infecundas e sádicas de milionários burgueses, alimentando suas vidas ocas, cheias do brilho artificial dos festins insanos.

Ubirajara Passos

 

BAR NAVAL


Por mais que tente me animar, hoje é uma daquelas noites em que a chatice emburrecedora nos toma completamente e só nos resta reproduzir as besteiras de sempre.

Assim, procurando entre os poemas que não fazem parte do impublicado livro “Paixões, Asneiras e Tristezas”, o único que encontrei em condições de publicar neste blog foi o “Bar Naval”. Que foi escrito no próprio estabelecimento, em uma tarde de porre enlouquecida com minha companheira de trabalho, pândega e luta sindical , Gilmara, em homenagem ao pequeno bar do Mercado Público de Porto Alegre, onde já tomei vários pifões e muito viajei em elocubrações filosóficas, políticas e etílicas, principalmente com o companheiro Jorge Dantas (que, aliás, foi quem me mostrou o lado boêmio do Mercado Público). Além, é claro, das longas conversas com a companheira Carin, quando voltávamos, nos sábados de manhã, de um curso de inglês que paguei inteiro, mas acabei freqüentando somente umas quatro aulas (a Carin foi a umas duas…)

O texto foi escrito, a moda dos velhos sambistas e poetas populares (Lupicínio Rodrigues, por exemplo, tinha sua mesa e cadeira fixas no Bar Naval), em um guardanapo de papel e afixado no mural que toma toda a parede oposta ao balcão, repleto de poemas do mais antigo garçom, o “Paulo Naval”, bem como dos textos e poemas dos mais diversos freqüentadores que nele se alimentaram ou tomaram sua birita nos últimos anos (há fotos e recortes de jornal de figuras que vão de Leonel Brizola a Olívio Dutra, até hoje um assíduo freguês, e ao companheiro Moah – o jornalista mais genial e pirado que já conheci).

Mas, infelizmente, o meu pequeno panegírico ao centenário bar não esquentou banco e foi retirado da parede. De qualquer forma, resgatado da minha própria gaveta, aí vai publicado o meu louvor ao mais antigo e típico buteco da capital gaúcha. E, antes que me esqueça, fica aqui o registro: a primeira vez que botei o pé (e levei o copo à boca) no Bar Naval foi com o companheiro Carlos Augusto (o Carlão da crônica “O Vinho do Carlão”, publicada neste blog). Se não o menciono, o colega de judiciário e ex-marinheiro é capaz de ter um ataque lá em Garibaldi (comarca onde atualmente trabalha, e reside – casualmente em frente a uma cooperativa vinícola).

Bar Naval
(ou da “Navalha”?)

Quando a noite da vida nos invade,
Quando o escritório, a fábrica enlouquece-nos,
Quando a chatice patronal nos submete
É no “Naval” que a vida se refaz!

Quanto “exu”ou fantasma de outras eras
Se manifesta na hora do buteco!
Aqui se bebe, aqui se goza,
Aqui se vai
Ao paraíso pândego dos livres!

Porto Alegre, 7 de outubro de 2005

Ubirajara Passos

PELEGADA PETISTA ESTÁ DIRIGINDO O SINDJUS… NÃO SE SABE PARA ONDE!


Decorrida quase uma semana da posse da nova diretoria do Sindju(ris) – escrevo na madrugada da terça-feira seguinte à da cerimônia e, quem sabe, no início da manhã tenhamos um bombástica notícia – esta turma já demonstrou à categoria para que veio: NADA!

Além de retirar do site da entidade as páginas sobre assédio moral, a CoordenAção, o departamento de saúde do sindicato e a reforma estatutária (que, por regionalizar e colocar a direção sobre controle da base, foi obviamente apagada da tela), não se sabe, até o momento, quais são os infalíveis planos da petezada pelega para arrancar o plano de carreira, a recuperação imediata das perdas salariais posteriores a 2003, a realização de concursos que preencham os mais de 1.700 cargos vagos que submetem os servidores da justiça estadual a um quotidiano de massacre físico e psicológico e outras questões que só nos dividem… dos privilégios da magistratura e da gestão “chocante” da paulista Yeda Crusius.

Embora convocada, no site do sindicato, uma reunião do Conselho Geral (para a qual não foram foram convidados os coordenadores dos núcleos regionais – cujo mandato só se extingue em dezembro -, quem sabe por não pertencerem à chapa “vitoriosa”?) com o intuito de planejar e organizar (?) a gestão, até agora a SOMA dos novos diretores eleitos em prol dos servidores da justiça é ZERO!

É, no mínimo, de estranhar que uma chapa capaz de realizar uma campanha eleitoral tão ORGANIZADA que cobriu as menores e mais distantes comarcas do Estado (para o que muito colaboraram os R$ 50.000,00 da CUT e o empenho dos adeptos fascistas do Palácio do Planalto… e da justiça) já não tivesse PLANOS concretos , coerentes, maduros e capazes de SOMAR os esforços de todos, vitoriosos, derrotados e indiferentes em torno às nossas necessidades prementes!

É ridículo, mas além da “pluralidade” de um partido só, noticiada no site, na ocasião da posse, se renova nos últimos dias a decepção dos ingênuos que esperavam pelo menos uma audienciazinha, regada a muito café, com o Presidente do TJ para discutir o calendário decenal de pagamento da URV atrasada!

 

Ubirajara Passos

 

“Bira and the Safadezas…”


Eu estava, agora à tarde, verificando as estatísticas do blog, quando dei, entre os links consultados que levaram o leitor até ele, com uma tradução do Google para o inglês dos textos “O Traveco Violentooo” (que é traduzido simplesmente por TRAVECO VIOLENTOOO!), “Encontratam o Dedo do Inácio!” (THEY HAD FOUND THE FINGER OF INÁCIO), “A Gata Menor de Trinta” (The Good-looking Thirty Minor) e “O Diabo do Valdir” (The Devil of the Valdir), e me diverti às pampas com as deficiências do tradutor automático do site.

Expressões como “the figures more lerdas and bocabertas“, one bustiê whose seios blew up”, “caralho of pajé“, “IN THE CU OF THE BRAZILIAN PEOPLE!”, “who ordered to puta that fru-frus of “left” caricata“, “as cervejinhas in boteco of all night”, “was seen personally esculhambado“, “simpatizo with the witchcraft” e “old gagá and brocha eater of criancinhas!”, são simplesmente hilárias. Com excessão de “caralho” que, realmente, não está dicionarizado, mas cuja frase soa tão estranha quanto “it turned a ”porra-insane person” (no lugar de porra-louca) e “it is confirmed, the “German” is gay!” (está confirmado: o Alemão é gay!).

Mas a mais cretina de todas é a tradução de “reinas” por “born in the kingdom” (nascidos no reino, ou, em português castiço, reinol – natural do reino) e “Crônicas reinentas” por “Reinentas chronicles”. Além do meu nome, que figura como “Ubirajara Steps” .

Para governo dos ilustres yankees, britânicos, e quaisquer outros indivíduos de fala inglesa que andaram visitando este humilde blog (além, é claro, dos brasileiros não sulistas desavisados), “reina” não é o equivalente de renóis, nem do espanhol reinas (rainhas, derivado do latim: regina). Mas o substantivo (não dicionarizado) que designa o ato de reinar, que no Rio Grande do Sul (conforme o próprio dicionário Aurélio reconhece) significa “estar no cio” ou “alvoroçado” (inquieto de ânimo, sobressaltado, adoidado, amalucado – conforme o referido dicionário).

Aqui, nos pagos do extremo sul do Brasil se costuma dizer (assim como nos Açores , de onde veio boa parte da população gaúcha), portanto, que o sujeito que anda encolerizado, a moda de “doido furioso”, está reinando (assim como ficam as cadelas, vacas ou éguas no cio, que rechaçam a mordidas, guampeadas e coices furibundos os machos que não são do seu agrado, e que andam correndo campo, na maior agitação, seguidas por seus candidatos a fodedor).

Conseqüentemente o ato de “reinar” é a reina (de que deriva o adjetivo, não constante do glossário oficial do português, “reinento”, o cara que está reinando). Assim, os textos elencados por mim como reinas são desabafos, queixumes e ataques verbais de quem está desconforme consigo mesmo (um neurótico) ou furioso com a vida e cirunstâncias, próprias ou alheias, e o estado do mundo em geral.

Curioso, porém, é que, discutindo o assunto com meu amigo Valdir Bergmann (o “the German is gay” da tradução inglesa – ver a narrativa O Diabo do Valdir), este chegou à conclusão de que há uma ligação etmológica, perdida nos confins da Idade Média, entre a “reina” gaúcha e açoriana e os atos do “rei”. Afinal este, quando exercia toda sua fúria ensandecida sobre o povo (mandando chicotear ou executar em público os que fossem do seu desagrado – ou mesmo, incendiando uma cidade inteira como Roma , no caso do retardado enlouquecido conhecido como Nero), estava fazendo, nada mais, nada menos, o que era próprio da sua condição de rei, ou seja, reinando!

Ubirajara Passos