Memórias juvenis da contestação à “redentora” (de como se forma uma militante revolucionária)


O texto aqui reproduzido foi-me foi enviado, via whats app, há alguma semanas pela camarada Lúcia Saldanha Caiaffo, companheira de luta sindical e política de longa data, que conheci, na condição de jovem representante de comarca, em 1992, quando ela ocupava o cargo de presidente do Sindjus-RS, escolhida na primeira eleição direta do sindicato, fundado em 1988, no ano anterior.

Desde então formou-se entre nós uma amizade, e parceria na militância política e sindical, que as décadas decorridas não arrefeceram, mantendo aceso e incrementando o entusiasmo. Embora separados por centenas de quilômetros (ela residindo no litoral catarinense e eu na região metropolitana de Porto Alegre), raros são os dias em que não trocamos alguma mensagem e (membros ambos da corrente sindical Luta e Indignação, por mim liderada, no judiciário gaúcho) e seguidamente temo-nos ombreado de forma radical e incansável na luta política e social, metendo o bedelho não somente nas questões específicas da  categoria dos servidores da justiça, mas também no combate ao fascismo circense do bolsonarismo e na luta sem quartel pela revolução profunda de nossa sociedade.

E é, com o maior prazer que publicamos, para deleite dos leitores deste blog extemporâneo e moribundo, as memórias de sua inquieta e inconformada juventude como estudante nos anos de chumbo, no Rio Grande do Sul, cujo entusiasmo os anos não arrefeceram:

Amanhecia o dia 1° de abril de 1964. Morávamos em Santa Maria RS, bem no centro da cidade. Acordamos com um barulho estranho e vimos da janela do ap., um comboio de Urutus, muitos, em fila. Tinha eu 14, quase 15 anos e sem a menor ideia do que estava acontecendo. Cursava a 4° série do Ginásio e fazia parte do Grêmio Estudantil que cuidava apenas dos direitos e das atividades sociais dos alunos.  A primeira informação que tive, foi que os milicos estavam aquartelados e nem sabia o que era isso, estava mais focada no Baile de Debutantes, que seria em outubro próximo. Muito curiosa fui procurar informações.

Uns 2 anos depois disso, já percebendo os horrores da Ditadura, comecei a militar no Movimento Estudantil da cidade.  Sempre ouvindo minha mãe dizer que eu não me ” metesse nisso”, que era perigoso, etc… Mas, como dizia ela, sorrindo: “a Lúcia não tem jeito”. E não tenho, mesmo, até hoje .

Em 66 a família foi morar em Porto Alegre. Aí sim achei meu caminho.  Fui cursar o Ensino Médio na melhor Escola Pública do RS, considerada “Modelo”, ao mesmo tempo que o Don Pedro II do Rio de Janeiro, o Colégio Júlio de Castilhos.

Excelentes Professores tive no Científico. Mas, imediatamente substituída a Direção por gente da confiança dos Ditadores.

É claro que logo entrei no Grêmio Estudantil, chamado na época de Grêmio Literário e submetido à supervisão de uma Professora de direita que inclusive assistia às Reuniões da Diretoria!!!

A Escola era mista mas não “misturada”. No turno da manhã estudavam só as meninas e à tarde os rapazes. Entretanto, nós do Grêmio, tínhamos permissão para entrar a qualquer hora.

Na porta de entrada havia um Guarda desses de Empresa, que trabalhava fardado. No espaço em baixo da escadaria, havia um Barbeiro!! Quando o tal Guarda achava que um dos alunos estava “cabeludo”, levava para cortar o cabelo!!!

Esse foi nosso primeiro embate com a Direção da Escola. Era 1968. Combinamos que as meninas permaneceriam dentro da Escola no intervalo do almoço e os rapazes chegariam antes do horário de início das aulas da tarde.  Lotamos completamente o saguão de entrada e sentamos no chão. Fizemos uma Comissão da Diretoria do Grêmio e fomos ao Diretor.

Evidente que se recusou a nos receber. Com um megafone na mão, informamos aos colegas a decisão do imbecil Diretor. Pelo prédio todo ecoaram nossos gritos. A Besta quadrada botou a cara pra fora da sua sala e voltou pra trás em um segundo, com cara de incredulidade e mudou de ideia: “Vou receber o pessoal do Grêmio”!

Enquanto isso, a galera carregou a maldita cadeira de barbeiro e deixou na Praça Piratini, que é em frente à Escola.

Depois desse fizemos vários outros protestos. Um deles A Revolta da Minissaia.

Cansei de escrever, qualquer dia  conto mais.

Amo essa Escola até hoje!”

Lúcia Saldanha Caiaffo

Um flagrante hilário da ingenuidade matronal


Já vai algum tempo que uma depressão enrustida (destas que se confunde com rabugice ou simples exasperação perante uma realidade cada dia mais disfuncional  e precária em termos financeiros e funcionais) tem me mantido num humor e imaginação tão limitados  que o máximo que permitem além da rotina sonolenta e sem graça de todo dia é um ataque de inconformidade daqueles cujo auge é o proferir de umas tantas frases indignadas e recheadas de palavrões.

Há pouco, entretanto, percorrendo as inúmeras mensagens rotineiras do “zap-zap” dei com a mensagem de um amigo que  tem vivido mais ou menos na mesma condição que eu, me dando conta da seguinte  comunicação, em um destes grupos de apoio comunitário e auto-organizado da vigilância, em prol da segurança do logradouro comum em que mora, feita por uma dona de casa da turma: “Pessoal, tem uma cachorrinha preta, acho que é uma pintcher, percorrendo a rua, com um lencinho rosa no pescoço… Acho que está no cio. Os cachorros estão estão atrás dela!”

cachorra da madame


Vinda do nada, em meio à eterna avalanche de desgraças, entre elas as sucessivas enchentes que têm devastado o Rio Grande do Sul em decorrência óbvia das consequências climáticas do aquecimento global, esta postagem teve simplesmente o efeito de correr a vassouradas o ancião reumático e ranzinza que ultimamente me habita e dar plenas asas ao voo de um moleque irreverente e barulhento. Confesso que tive vontade, apesar dos protocolos óbvios de sobriedade moralista, séria e circunspecta que regram o comportamento nesta espécie de grupo, de lhe sugerir que respondesse: “Então tá tudo normal. Que bom pra eles! Deixa a cachorrada ser feliz!”  O primo do ancião, indignado e furioso, revolucionário metido a palmatória paradoxalmente libertária do mundo, que ocupa um nicho em segundo plano entre os arquétipos do meu inconsciente, porém, deu-me um puxão de orelha e impediu-me de concretizar a gaiatice em nome do sofrimento que estas pobres senhoras da classe trabalhadora passam todo dia nas mãos de uma elite sádica, metida a emancipada e sabichona, a qual eu acabaria, involuntariamente, fazendo couro.

Mas a pura verdade é que quase me mijei de rir (literalmente) e só não instei meu camarada a publicar o infame comentário pra evitar maiores encrencas públicas e domésticas.

Afinal, por maior que seja o zelo da comunicante em eventualmente localizar o pobre dono da imprudente  e “ingênua” cachorrinha que pulou a cerca (e saiu por aí, em plena efervescência de seus caninos hormônios de fêmea, se expondo ao violento assédio destes mal-intencionados primos do lobo mau, e possibilitar o seu resgaste  – e da respectiva honra), o texto peca por tamanha e paradoxal ingenuidade que poderia ser atribuído a qualquer protagonista de piada de português.

Se, por outro lado, pretendia  chamar à responsabilidade os proprietárias de tão nefanda e devassa fêmea que, com seu irresistível poder de sedução, saia por aí a lançar os pobres paspalhões caninos na mais barulhenta e infeliz disputa (da qual sairiam somente lanhados e despedaçados pelas recíprocas e agudas agressões), perturbando, com a barulheira insuportável, a tranquilidade dos moradores da infeliz rua, o comentário redundante não teria, igualmente, outra consequência, pela obviedade cretina, que conduzir os donos da cadela a uma raiva maior ainda que a da malta de machos excitados contra a sua autora.

Seja como for, por maior indiferença com que a besteira foi recebida (ninguém se deu ao trabalho de responder a mensagem), pelo menos deu alguns instantes de puro prazer hilário a um pobre  cinquentão entendiado em uma madrugada domingueira.

Ubirajara Passos

Da Índole Sádica da Pornografia Hodierna


Para deleite dos velhos fãs da sacanagem deste blog, vai abaixo publicado mais um sermão na igreja de satanás:

Da Índole Sádica da Pornografia Hodierna

Jamais se viu nada tão próximo da genuína volúpia moleque e sorridente, banhada nas profundezas sacanas do impulso vital livre e espontâneo, voltado voluntariamente à satisfação de um cio sem hora nem lugar, sempre pronto ao exercício sublime do gozo mútuo que nos diferencia de nossos irmãos mamíferos (jungidos aos ciclos reprodutivos da programação genética), identificado com a própria potência saudável da vida em si, como a velha sacanagem cinematográfica, ingênua e implícita nas imagens, mas poderosa na evocação mental sub-reptícia, das pornochanchadas brasileiras do século passado.*

Por mais que reproduzissem, em tom gaiato, digno da mais debochada avacalhação da velha malandragem do terço final do século passado, os preconceitos próprios da velha moral sexual patriarcal, com títulos como “O Super Manso”, as picarescas comédias eróticas da época celebravam o sexo, ou antes a putaria, como a fonte dos mais refinados e alegres prazeres proporcionáveis por nossos corpos, que efetivamente é, passando muito longe do desespero trágico e truculento incorporado pela indústria pornográfica mundial desde os anos 1990, a partir da imposição massiva do receituário sexual yankee, filho típico da rebeldia desusada e imatura à mais repressora moral puritana.

meme-desvistas

Assim é que, com disparates típicos da nação onde um simples seio nu se assimila à mais descarada manifestação da devassidão pecaminosa que haverá de arrastar a humanidade depravada à condenação eterna do inferno, o moderno imaginário da ficção sexual (das cartas de leitores de revistas de mulher pelada ao cinema especializado) se ressente dos esquetes mais sádicos, abobalhados e broxantes, só capazes de inspirar tesão e entusiasmo a punheteiros juvenis recém ingressados na puberdade, destes cuja experiência concreta mais próxima do supremo ato do gozo mútuo foi a prática eventual da zoofilia com a cadela do vizinho, no matinho do subúrbio, o romance sem-vergonha com a vaquinha mimosa  dos velhos matutos ou a barranqueada  de égua da gauchada antiga.

Qual grau de excitação genuína é capaz de ser despertado por cenas como a de um afobado touro reprodutor musculoso, de olhos esbugalhados e ar apatetado, se masturbando frente a uma ou mais fêmeas de ar aparvalhado que aguardam, com a boca escancarada e o olhar perdido, que o protagonista acerte a pontaria da esporrada, na atrapalhação mais impagável da cenografia típica? Ou a gritaria artificiosa e desafinada de uma loira padronizada, de cabelos alisados na chapinha e peitos estufados qual balões a ponto de estourar, enquanto o machão cheio de si a barranqueia com a concentração própria de quem pilota uma britadeira, sem emitir o menor pio ou suspiro?

Tais são os exemplos básicos da gélida e raivosa fantasia erótico-psicopática disseminada, desde o fim do século, nas diferentes mídias, sem falar é claro, nas bizarrices mais estapafúrdias, como  madames tentando trepar com cães são bernardo (entediados e contrafeitos), transas de anões com velhos travecos ou outras asneiras do gênero, que as povoam, transformando a velha e boa foda sacana no coito insosso e prenhe dos anseios de um misógino enrustido cujo maior prazer, inconfessado não é o compartilhamento do oceano de sensações vívidas e alegres, nas ondas da mais pura sacanagem, mas o uso do próprio caralho como uma espada a dilacerar ventres submissos.

Se as velhas pornochanchadas dos anos 1970 e 1980 sintetizavam, na sua malícia festeira e irreverente, com a pitada do deboche nacional, séculos ou milênios da mais tesuda, entusiasmada e criativa literatura erótica, o imaginário sexual pasteurizado, produzido e distribuído em massa, com a chancela de uma globalização totalitária que simula a pretensa liberação sexual nas relações compulsórias e coisificadas, nos empurram todo dia, sem apelação, sob o disfarce do mais infeliz e estouvado catálogo erótico, os ideais sádicos filhos do dominador frustrado – que, se encontrando pisoteado sob os pés da ordem burguesa, desrecalca sua impotência frente aos amos, fudendo, de todas as formas, com a vida alheia, especialmente daqueles sobre os quais possui alguma hierarquia. O próprio marquês, revoltado e incontrolável, cuja obra, bem mais imaginosa e refinada, deu nome ao adjetivo que o caracteriza, coraria como uma freirinha frente ao breviário fascista enraivecido que inspira a nossa modernosa ficção sacana.

O gozo está no meio de nós!

Gravataí, 5 de março de 2019*, 5 de dezembro de 2020

Ubirajara Passos

O Brasil de Bolsonaro: gagazice fascistoide e prisão de ventre.


A proibição de uma história em quadrinhos com um beijo gay no Rio de Janeiro, feita com o mais histérico alarde, como se a pobre tira constituísse crime hediondo, inadmissível e imperdoável (terrivelmente mais chocante para os governantes bilsonaristas do que a execução de pais de família num passeio dominical por 80 tiros disparados pelo exército) nada mais é que uma manifestação típica do falso moralismo fascista, gagá e beato que tomou o Brasil.

O único diagnóstico plausível para esta doença nem é mais a peste emocional, mas a DEMÊNCIA SENIL, tão velha quanto os lacaios golpistas auxiliares do grande capital internacional, surgidos com a revoltinha pequeno-burguesa dos oficiais de baixa patente nos anos 1920, definitivamente seduzidos pelo imperialismo do irmão do Norte na Itália em 1944 e engajados profundamente no golpismo cruel e hipócrita nos anos seguintes, até gozarem por todos os buracos em 1964, num estupro político fatal que, mesmo depois da redemocratização formal, veio deformando esta nação, ano após ano, até nos legar esta infeliz reedição, mais bufa e mais cruel, dos fascismos ibero-americanos do século passado.

Salazar, Franco, Videla, Trujillo, Batista, Pinochet, Stroessner, Garrastuzu Médici, são pirralhos balbuciantes e ineptos perto do capitão do mato Jair Bolsonaro!

Aliás, como afirma um corajoso oposicionista a este estado de coisas, em comentário a respeito no facebook, neste Brasil de setembro de 2019, “tivemos fiscais de cu em uma feira literária”.

O que não é nada surpreendente num país dominado por uma elite estacionada na fase psicanalítica anal do desenvolvimento emocional, que se preocupa em reter a merda no cu dia sim, dia não, para plena realização de sua libido infantil primária.

Pelo menos Jânio Quadros, o protótipo político dos presidentes direitosos desequilibrados (“casualmente” elevado à chefia do Executivo federal pela mesma corrente de deflagrou 1964), era psicologicamente deficiente, mas estava mais adiantado: como bom cachaceiro se classificava na segunda fase (anterior à última imatura, a fálica, que a genital corresponde à fase adulta): a oral!

Collor de Mello, o intermediário entre Jânio e Bolsonaro, pertence a uma categoria estranha, desconhecida de Freud (em teoria, pois também tinha um tesão danado pelos grãozinhos brancos) equivalente aos seus anelos intensos pelo pó: A NASAL!

O fato é que o atual pesadelo brasileiro ultrapassou todas as medidas da imbecilidade medíocre. É o dejeto intestinal tardio da digestão cultural da ditadura militar.

34 anos passados de sua extinção formal, o organismo brasileiro, tomado de prisão de ventre, cagou o Governo Bolsonaro!

Ubirajara Passos

Do Caráter Moralista do Carnaval


Faz séculos (para ser exato, uns dezessete anos) que este texto está elencado entre os Sermões na Igreja de Satanás sem que jamais tenha conseguido escrevê-lo, embora tenha prometido, nos últimos carnavais de cada ano, desde 2010 pelo menos, fazê-lo sob a inspiração direta dos eventos.

Eis que hoje, em plena Era do Ranço Fascista brasileiro mambembe, não menos sádico e cruel do que o velho nazismo, entretanto, me forcei a fazê-lo e está aí para deleite dos leitores que não tiveram meios ou ânimo para curtir a velha festa de Momo, embora tenha me saído, tão enferrujado me encontro, terrivelmente pedante e artificioso. Boa leitura:

Do Caráter Moralista do Carnaval

Assim como o bordel, com que compartilha a irreverência, o gáudio e a inexistência de um roteiro obrigatório e insosso no exercício do gozo dos corpos e dos copos, o Carnaval é uma festa que não se contrapõe à interdição moralista do prazer e da liberdade costumeiramente impostos ao rebanho imenso da peonada, em prol do deleite sádico e desenfreado de nossos amos, mas justamente, por seu caráter de excepcionalidade aos dias de sisuda e “responsável” dedicação à rotineira faina e aos imperativos graves da vida quotidiana, a confirma.

E, como válvula de escape, compensatória à vida reprimida, impede a derrocada da dominação, que subjuga nossas mentes e corpos, maneados e enrijecidos no curral sem sal e sofrido do cumprimento de deveres e obrigações impostos pelo estelionato ‘ético” dos hipócritas senhores que organizam nosso mundo.

Mas, embora a epifania pagã do cabaré (restrita aos ditames hipócritas de um negócio informalmente integrado à sociedade hierarquizada – a sacanagem explícita no salão não é bem vista, seja por ameaçar o recebimento do “aluguel” do quarto, seja por destoar do bom tom dos “bailes de família”, que mesmo no puteiro deve ser preservado) não tenha dia, e nem hora, para se realizar, os festejos de Momo, no curto espaço de seu ciclo anual de cinco dias, possuem a vantagem da universalidade.

Para encher bem a cara e se lambuzar na putaria, na dança frenética, e se afundar na “loucura divina” até se exaurir na farra amoral e edênica como um jogo de criancinhas; para usar e gozar da imaginação desenfreada, sem roteiros nem limites, e mandar à puta que pariu todas as velhas recomendações das comadres e tias de pudor e compostura, ou mesmo viver por um dia a fantasia de se sentir único e com direito a tratamento respeitoso e digno, não é necessário possuir um tostão além daquele capaz de adquirir um litro de cachaça, nem ter nascido com um envaidecedor pêndulo, irascível e violento como uma onça pintada, pendurado entre as pernas.

E, êxtase supremo, é possível, se berrar aos quatro ventos, e em plena luz do sol, tudo quanto lhe vier aos cornos, num discurso com um mínimo de coerência ou simplesmente aleatório, escangalhando e denegrindo todos os compenetrados, sóbrios e severos grandes chefes, chefetes e capitães-do-mato da modernosa escravidão assalariada, seus grandiloquentes discursos redentores e sagrados manuais de procedimento.

Oriundo das velhas bacanais romanas (celebrações públicas ao deus do vinho e do prazer), diante do recrudescimento totalitário do cristianismo oficialmente altruísta e sofredor, inimigo do corpo e do bem estar (dos deserdados servos e escravos indignos de representar a vontade divina – prerrogativa exclusiva de reis e nobres senhores), elevado ao poder com a decadência do Império, o Carnaval se tornará, a partir da Idade Média, o refúgio provisório e intocável da ralé subordinada ao autoritarismo furibundo dos dominadores (que serão debochados descaradamente nos gestos, vestes, e atitude), tornando-se vítima de sucessivas tentativas de enquadramento, do reconhecimento oficial da Igreja como ritual pré-quaresma à transformação em festival oficialesco excêntrico e exótico, e por isto mesmo inofensivo e inócuo (porque apartado ao espaço físico ou ideal restrito do “desvio”, a moda da loucura levada ao manicômio) para ser mostrado como curiosidade turística ao mundo, promovida pelas prefeituras, das grandes cidades, como o Rio Janeiro, aos rincões interioranos, de países como o Brasil, afora.

As suas características anárquicas, no sentido mais profundo do caótico e não organizado, da alma livre das peias de toda rotina e ordenamento obrigatórios (que persistem em permanecer, em meio ao fundo das festividades padronizadas e folclorizadas pela mídia antropofágica, que a tudo engole e reprocessa em seus ruminantes estômagos , para regurgitar numa versão mansa e abobalhada, infensa à rebeldia do moderno gado humano) guardam, entretanto, justamente por sua renitente teimosia,desobediente e mal-educada, as sementes capazes de nos conduzir ao rompimento da opressão mecanicista que se serve até o cerne de nossos seres para o usufruto alheio de meia dúzia dos todo poderosos amos que conduzem-se sobre nossos lombos.

Se diante do avanço reacionário e obscurantista do totalitarismo famélico e voraz da ordem burguesa do nosso século já não surte efeito um espírito épico e estoico na luta revolucionária, o que hoje pode nos conduzir, de forma folgazã ainda que renhida, à liberdade é a insurreição gaiata, a desafiar a seca e petrificada ordem diária da rotina, a disposição avessa à gravidade sacrificante, numa rebelião barulhenta e zombeteira, digna de um carnaval, a cada santo dia.

Seja feita a vossa gandaia!

Gravataí, 3 de março de 2019

Ubirajara Passos

“Surubinha de leve” apenas explicita o sadismo do funk em geral


Ao contrário do estardalhaço politicamente correto (entenda-se vigilância infantiloide e totalitária) que levou à retirada do catálogo do Spotfy, o exame completo da letra do estrondoso sucesso do fanqueiro Diguinho permite concluir que a música não faz a menor apologia ao estupro, nem  à prática criminosa alguma.

Se ao invés de se deter no desaventurado refrão (Taca a bebida/Depois taca a pica/E abandona na rua), prestar-se a devida atenção ao contexto das demais estrofes (Pode vim sem dinheiro/Mas traz uma piranha, aí!/Brota e convoca as puta), o máximo que se poderá constatar, é uma incitação ao estelionato (a gurizada vai convocar as profissionais do amor para uma festinha, gozar do seu serviço e depois mandá-las port’afora, com um ponta-pé na bunda, e nenhum mísero tostão de pagamento), ou quando muito à celebração da prática da zoofilia com vorazes peixes carnívoros!

O texto da estrofe intercalada entre a convocação e o desenlace da orgia (Mais tarde tem fervo/Hoje vai rolar suruba/Só uma surubinha de leve/Surubinha de leve/Com essas filha da puta) deixa bem claro tratar-se de uma suruba destas que muito velhote metido a playboy detentor de mandato parlamentar costuma fazer em Brasília, na qual as meninas participarão espontaneamente, bebendo e gozando dos prazeres carnais previstos, sem receber, entretanto (e aí é que repousa a malícia da gurizada da favela carioca) a devida retribuição monetária. 

Conforme matéria de O Globo recentemente publicada, duas advogadas especialistas na matéria criminal invocada teriam afirmado categoricamente que seria necessário bem mais do que as meras alusões a trago, sexo e abandono para caracterizar o estupro, que consiste na prática forçada de sexo, mediante violência ou grave ameaça, e não fica expresso que o ato de “tacar a bebida” consistiria em fazer a mulherada ficar inconsciente para usufruir de seu corpo.

Polêmicas a parte, a verdade pura e simples é que 99% das letras de funk no Brasil primam, desde o boom inicial do ritmo, no início dos anos 2000, com a banda Bonde do Tigrão, pelo mais medíocre sadismo (vide os versos de Prisioneira,  onde a gata é advertida  que seus únicos direitos são os de “sentar, de quicar, de rebolar”, e, fora isto, o “de ficar caladinha”) abordando as relações sexuais (diferentemente da velha sacanagem bem-humorada e gaiata, de duplo ou mais ou menos explícito sentido, das marchinhas clássicas, como “A Perereca da Vizinha”) sob a ótica do machão prepotente,  que vê e usa a mulher como uma simples coisa, a moda do barranqueador de égua que submete a fêmea no ato  maneando-lhe as patas (quem for dos pagos sulinos entenderá perfeitamente do que estou falando).

E é muito admirável, de causar arrepios nos pentelhos, mesmo, ter sido necessário uma peça tão explícita para, após duas boas décadas de exaltação glamourizadora e massificada (a ponto de se tocar impune e entusiasticamente nas mais comezinhas festas infantis de aniversário, até mesmo nas mais pudicas casas de família) do imaginário musical erótico mais sem graça, misógino e machista,  alguém se dar conta e trazer a baila (ainda que de forma equivocada) a essência ideológica do funk brasileiro, onde a mulher é vista como coisa, nada mais que um objeto de prazer, sem direito necessário a ele.

Mas daí a se partir para a censura, com a proibição ou retirada da canção (e suas congêneres), entretanto, é se banhar nas mesmas águas da peste emocional que, da impotência orgástica (resultado do prazer reprimido por séculos de patriarcalismo ainda vigente, sob o disfarce da liberação dos costumes) à consequente intolerância moralista e totalitária tipicamente fascista, pretende controlar nossos mínimos gestos, privados ou em público, sob os auspícios da falsa moral disciplinadora, robotizante e anti-prazer da pior espécie (digna das velhas beatas rançosas, reeditadas sob a forma de histéricos e alvoroçados rapazes do MBL) ou do aparentemente inocente e comportado discurso politicamente correto de uma infeliz esquerda cor de rosa e tributária do Estado burguês. Tudo para garantir que continuemos a marchar dentro das bitolas e não desviemos por um segundo o olhar para os lados, o que pode acarretar a derrocada da escravidão assalariada e o fim dos privilégios dos amos que nos submetem a uma vida de cachorro, devidamente regrada pela ética da obediência cega e o pretexto  do bom senso.

Todo este ímpeto em demonizar, e proibir a expressão, o que é mais grave, tudo quanto possa escapar aos ditames  ingênuos típicos do Joãozinho do Passo Certo, logo no início de um ano de eleições presidenciais, que serão pautadas pela disputa espúria e entusiasmada entre os representantes mambembes aparentemente inofensivos da extrema direita raivosa rediviva (leia-se Jair Bolsonaro) e os apóstolos de uma esquerda cor-de-rosa defensora de uma ética distorcida e policialesca pretensamente defensora das minorias oprimidas, é no mínimo preocupante, para não dizer apavorante.

Ubirajara Passos

 

 

O indiferente


O sujeito seria um buda, não fosse um desleixado completo, nem estagiário de repartição brasileira  falida do presente século.

Despreocupado com a vida, nada o abalava, ao ponto de dormir em pleno expediente (fora flagrado pelos colegas uma vez no corredor de um arquivo e outra em pleno setor, em transe “meditativo” bastante barulhento em frente ao computador). Mesmo a repreensão mais cabeluda da chefia, com direito a uma chuva de impropérios e involuntária cusparada, não lhe causava a menor reação.

Quem quer que pretendesse demovê-lo de seu satori cínico estava fadado a enfartar, surtar a ponto de sair correndo pelado e gritando como doido ou simplesmente ir parar no manicômio.

Podiam tentar lhe romper a inação com todas as afirmações e sustos mais abstrusos, desde o tradicional “a casa está pegando fogo”, “olha a cobra aí no teu pé”, até o “vi tua namorada se arretando com um negão ali na esquina agora mesmo” , ou destratá-lo com todas as ofensas possíveis e imagináveis que a máxima reação era um dar de ombros acompanhado de um esgar característico.

A única coisa que lhe entusiasmava e o fazia abandonar a imobilidade de múmia do Egito era uma vocação bastante incomum e, diriam os membros do MBL, terrivelmente repreensível! O rapaz era dado a escrever contos pornográficos dos mais sádicos e cretinos. E inspiração não lhe faltava. Qualquer velha perneta ou coleguinha tonta e desenxavida era o suficiente para viajar zilhões de quilômetros na sua imaginação pérfida e bolar as mais enlouquecidas situações, de fazer corar Restif de La Bretone, Apolinaire e o próprio Marquês de Sade.

E foi justamente uma lambisgoiazinha destas que um dia deu com galante texto do mancebo sobre a mesa e, caindo na gargalhada mais estrepitosa, ía chamando a atenção de todos, quando o iluminado Diógenes juvenil, saltou-lhe como um doido furibundo, não conseguindo reaver a peça, pois a lépida moçoila se escapou de um salto e pôs-se, insolente, na pose mais arrogante de quem tem nas mãos a vida alheia.

O nosso famoso cínico explodia em desespero e prometeu de tudo para que lhe entregasse o comprometedor papelzinho. Daria até o salário inteirinho nas mãos dela. Faria todo o serviço, o dela e o dele (que não fazia mesmo) com a maior agilidade e maestria, podia botar-lhe uma coleira ao pescoço e levá-lo a passear em praça pública com a bunda de fora, pintada de vermelho, e cara de palhaço (tinha realmente uma imaginação bizarra!), mas lhe entregasse o conto!

A sirigaita, entretanto, ouviu cada proposta e rogo feito aos gritos, no meio de intensa choradeira (quase se caga e mija de tão apavorado), fê-lo prometer mais trezentas cretinices, até casar com ela, e, ao fim respondeu dando de ombros e com um sarcástico muxoxo.

Ubirajara Passos

 

 

Desafio da perereca verde


Para aquela gurizada que anda num tédio medonho, cansou do facebook e dos youtubers teens aveadados de sempre, e não sabe o que fazer para espanar a poeira do cérebro (e de outras partes bem mais interessantes do corpo humano, especialmente em sua idade) o Bira e as Safadezas… resolveu lançar este desafio, que envolve realmente tarefas perigosas e terrivelmente mortais nos dias que vivemos:

1) Com aquela caneta tinteiro Parker caríssima do teu pai, escreva “FODA-SE” na palma da mão, fotografe e envie para aquela tia histérica que não sai dos bailões no fim de semana, mas faz questão de espionar e delatar as “putinhas” do bairro e é fã irremediável de Jair Bolsonaro. Não esqueça de jogar fora o refil da caneta, substituí-lo pelo de  uma canetinha hidrocor e recolocá-la cuidadosamente na escravinha do velho;

2) Assista filmes pornô americanos, com o volume a toda altura, na sala de estar, às 4 h 20 min da tarde, quando sua mãe estiver fofoqueando com as amigas ao pé de um chazinho com bolacha d’água. Mas não pode ser qualquer filme, tem de ser algo bem sádico e exagerado nas gritarias de pretenso gozo;

3) Com todo cuidado para não feri-la, a velocidade necessária para escalar o muro do quintal e escapar à pauleira, se muna de uma tesoura enorme, daquelas velhas tesouras de parteira, e dê três cortes grandes na franja daquela sua irmã periguete;

4) Desenhe, com todos os detalhes, sem se esquecer dos pentelhos, a “perereca da vizinha” e envie por carta registrada com aviso de recebimento para aquele teu colega gay;

5) Se tu estás pronto pra te transformar numa perereca verde, escreva um enorme ponto de interrogação na testa, com o melhor batom da tua mãe. Caso contrário, arranje o vídeo integral do interrogatório do Lula e castigue-se assistindo sem parar, no fim de semana inteirinho;

6) Tarefa em código: escreva o nome dos doze namoradinhos da tua prima”virgem” em código morse e entregue pra tua vó decifrar. Não se esqueça de fazer constar da lista do que se trata e fornecer, no verso, o alfabeto dos traços e pontinhos para a perfeita decifração da velha;

7) Escreva “foram 40” na palma da mão, tire uma foto e envie para aquele teu colega abestalhado que te enche o saco na dúvida sobre quantos caras a namorada teve antes dele;

8) Escreva no teu perfil do facebook “dá-me  a tua perereca?” e envie para todas as amigas da tua irmã;

9) Arranje uma máscara de capeta, com guampa e tudo, tridente, capa preta; vista camiseta, calça, meias e sapatos vermelhos, tome um porre dos bons e entre aos gritos numa sessão da Igreja Universal;

10) Às 4 h 20 min da tarde, suba num telhado bem alto, numa esquina de intenso tráfego de pedestres, mostre a bunda pintada de vermelho e declame a plenos pulmões o poema “cu de gaúcho” de Jayme Caetano Braun;

11) Desenhe um caralho na mão com o rímel da tua vó, surrupie o celular da irmã, fotografe e envie para o “zap-zap” da tua tia solteirona;

12) Assista pornochanchadas brasileiras dos anos 1970/1980 e documentários sobre alienígenas todas as manhãs. Mas não o faça sozinho: encha o saco de quem estiver por casa pra te acompanhar;

13) Ouça todos os funks do “Emicê Qué Vinho” todas as noites, a todo volume, a semana inteira;

14) Corte a franja do poodle da tua irmãzinha;

15) Afane, fure com uma agulha bem fininha e recoloque de volta na carteira as camisinhas daquele teu amigo metido a garanhão;

PERERECA

16) Faça algo “doloroso”: coloque leite num copo de vodka e tome todinho num só gole;

17) Procure o telhado mais alto, de preferência na hora do almoço, no centro da cidade, e jogue de lá cópias coloridas de notas de cinquenta nos transeuntes;

18) Suba na passarela de uma elevada, numa rua movimentada, e jogue buchinhas de papel na careca dos engravatados que passarem lá embaixo;

19) Suba num poste, mostre a bunda pintada de vermelho e cante, com um megafone, “A perereca da vizinha”;

20) Se faça amigo do irmãozinho coroinha do seu melhor amigo, o convença  de que quer se converter, ganhe a sua confiança, dê um jeito de ele lhe dar acesso à sacristia, coloque maconha na pira de incenso e vá assistir à missa na igreja dele;

21) Crie um perfil falso de uma loira gostosíssima, solicite amizade daquele amigo tarado do teu pai, marque um encontro com ele no boteco do Tonho, dê uns pilas pra um servente de obra e mande ele no lugar da loira;

22) Pendure as calcinhas fio dental da tua irmã na antena de TV no telhado, em dia de festa de família, e chame a atenção da tua tia solteirona e beata;

23) Outra tarefa em código: no aniversário daquele camarada metido a encher a cara e disputar pega com seu chevete velho na saída do bailão, dê como presente o código de trânsito;

24) Tarefa “secreta”: conte pra todas as gatinhas da escola que o colega de vocês metido a garanhão ainda é virgem e peça segredo pra todo mundo;

25) Vá a uma reunião de um comitê de admiradores de Jair Bolsonaro e doe a cada participante um exemplar encadernado em capa dura e couro da Declaração Universal dos Direitos Humanos;

26) Chame a sua namorada, reúna a família e os amigos e marque a data do casamento;

27) Acorde às 4 h 20 min da manhã, recheie a carteira (pode ser de papel picado se, obviamente, não tiver dinheiro), coloque sua melhor roupa de festa e vá esperar o ônibus linha municipal na parada mais próxima da vila;

28) Vá a um velório e não pare de falar e rir o tempo todo;

29) Faça um voto de castidade, outro de que realmente não vai beber mais nenhuma gota de álcool… e tente cumprir!

30-49) Pare de vagabundear, arranje um estágio numa repartição pública qualquer,  com a remuneração de um salário mínimo, levante cedo, vá trabalhar todo dia de manhã, e tente pagar as contas de sua família;

50) Acesse os links abaixo, compre meu novo livro “Três Doidos Perdidos na Tríplice Fronteira”, copie um trecho da página 60 e mande por comentário para este blog:

https://www.amazon.com.br/dp/B0727VNKG3

https://www.clubedeautores.com.br/book/233674–QUATRO_DOIDOS_PERDIDOS_NA_TRIPLICE_FRONTEIRA__e_outras_viagens#.WRnbNo7F8jQ.

Ubirajara Passos

Um e-mail das Arábias


Era a milésima vez que recebia por e-mail aquelas versões “internacionais” do golpe do bilhete, do tipo “tenho uma grana enorme que não posso aplicar em meus país conflagrado no Oriente Médio e sei que o senhor pode me dar dicas de investimento em seu país”.

Mas, agora, a coisa era completamente diferente. Viera em português. É bem verdade que num português sofrível, capaz de injuriar o próprio Inácio dos Nove Dedos (e sua sucessora, a “presidenta” aclamadora de mandiocas – na qual a mídia e o aparato institucional da direita explícita andam ultimamente querendo enfiar de vez a mencionada raiz) ou mesmo o patrício de mais estropiado sotaque emigrado do Líbano ou da Palestina. O texto dizia o seguinte: 

“Respondi Urgente Para Investomento!!!
Lamento se meu e-mail incomodá-lo, eu decidi entrar em contato com você, porque eu sinto que você vai me entender melhor ..Estou realmente precisando de sua ajuda,    pois requer uma resposta urgente de você. Por favor, esta é uma mensagem pessoal para você, eu preciso de algumas directivas de você para investir algum dinheiro ou de capital no seu país, EU e meu marido era industrial e um membro do conselho de empresários de petróleo síria em Damasco, Síria. Devido a matanças,decapitações bombardeios e conflito crise guerra em Síria que milhares de civis relatados fugindo como batalha por Aleppo, Síria,intensifica à medida que a guerra se intensifica a partir de hoje, eu não posso investir o dinheiro aqui na Síria isso é quando eu entrar em contato com você E ver como podemos parceria no negócio e intensificar complexo multinacional.
Responder-me explicar melhor para voce nesta e-mail: aishaalrashid1@qq.com

Sra.Aisha Al.Rashid

Por breves e imbecis instantes, o nosso herói quase caiu na asneira de levar a sério a coisa e responder a mensagem da forma como solicitada, já sonhando com a fortuna que poderia abarcar com o tesouro do milionário árabe. Ficou imaginando a imensa e infinda farra que faria num harém particular, contratando as mais gostosas e safadas “odaliscas” dos mais chiques (e também dos mais fuleiros, desde que tivesse aquele rostinho sem-vergonha e aquela malícia ronronante que põe qualquer leão furioso desvairado mansinho como gato de madame) da capital, na qual poderia acabar, literalmente, morrendo de trago e gozo.

Mas, antes que as mãos digitassem apressadamente o que seu cérebro de asno ditava, o zé pelintra que o acompanhava soprou-lhe ao ouvido a tremenda encrenca em que ia se metendo e, ao invés de simplesmente deletar o e-mail, como fizera com os outros tantos, resolveu se divertir e devolveu a tentativa da golpe da maneira mais sacana que encontrou:

“Não se preocupe. Você enviou este e-mail para a pessoa certa. Eu e meu amigo baiano, dr. Luisinho Sugacheca, não temos um único puto na carteira, mas conhecemos todas as putas de Porto Alegre, capital do Sul do Brasil, onde prolifera o negócio mais rentável deste país: a putaria. E moro justamente  na cidade periférica da Região Metropolitana daonde provém a maior parte destas putas!
Podemos, tranquilamente, investir os petrodólares de seu marido num FANTÁSTICO PUTEIRO GIGANTE, com direito a 2 torres gêmeas de 14 andares, cada qual destinado a shows e práticas públicas e privadas de boquete, streap-tease, sessenta-e-nove, sexo anal, vaginal, oral, nasal, umbilical, espanhola, ucraniana e polaca, sexo bizarro com cães, vacas, ovelhas, camelos, gordas, velhas, ciganas e mães de santo em pleno transe da pomba gira kadija al-sacanidi, bem como diversos gays de barba grisalha e com um dedo a menos na mão esquerda (perdido no cu do povo brasileiro), especializados em fuder nações e continentes inteiros como o Brasil e a América Latina.
Para construirmos esta mega instalação e contratarmos os profissionais e a logística adequada necessitamos tão somente da módica quantia de 24 trilhões de euros!

Favor enviar esta grana para a Caixa Beneficente das Putas e Gays do Brasil, agência 024, conta 694324 – titularidade da senhora Dilma-Ahma-Mandyioca-Emmet Abanananopovo.

Aguardamos com muita ansiedade e entusiasmo a sua resposta.

Assinado: Salym Al-Assad-Ocudosviga-Ristasimeim-Becys”

Pelo que se sabe, até hoje, passados uns 3 meses, muito embora nosso amigo, contra os próprios hábitos, acorde de madrugada e salte da cama como um cabrito embrigado para conferir em seu computador, até hoje não recebeu a minima resposta.

Ubirajara Passos

A todos os amantes, neste dia


O amor é uma energia que ultrapassa o desejo. É a comunhão dos seres na totalidade, muito além de simpatias casuais. 

E quando corpos comungam com amor  há uma elevação do ser bem maior do que o prazer individual. Os amantes não são objetos, mas metades da mesma ternura, unidos na intensidade do amor.

Comungando ou não, e mesmo rejeitado, pisado e escarnecido, este é um sentimento verdadeiro que jamais se extingue.

Gravataí, 12 de junho de 2014

Ubirajara Passos