PROMOÇÃO DE ARREPIAR: TERRENO NO CÉU COM DESCONTO!


Mensagem recebida do pastor Kadu Macedo (mais conhecido no Morro do Coco, em Gravataí, por “Caiu-sim-mermão”), nesta madrugada:

“Convite Especial Para o Sr. Ubirajara Passos
Dia 7 dezembro de 2007
Às 19h
Venha encontrar Jesus!
Missa realizada pelo renomado Pastor Kadu Macedo!
Local: Victor Hugo Ludwig , 35

Igreja do Pentecoste Pentecostal Tabernaculo do Senhor,do Triângulo Circular Cúbico Quadrangular, do Sétimo Dia de Criação da Assembléia de Deus

Irmãoooo!! Você tem um problema? ? ?
Não tema Irmão
Com uma mísera quantia mensal sua vida mudará!
Aleluiaa!!
Pastor Kadu, com os poderes concedidos a ele, irá solucionar todos os seus problemas!
Jesus lhe dará até mesmo a chance de escolher entre um dos 4 planos divinos da salvação imediata.

  1. Promocional Econômico

    Terreno no Céu (mesma rua de São Pedro), proteção contra:encosto , câncer de próstata , raiva , catapora, malária, morte por atropelamento , afogamento (somente em água doce) e um dia de visita no inferno, com direito a uma tarde gratuita no SPA “Recanto de Satanás “

  2. Simples 1

    Terreno no céu (se tiver sorte dá pra ver Jesus de manhã tomando café), proteção contra: tudo do promocional + hepatite C , Sarampo, Caxumba, torcicolo, Distensão Muscular, Coriza Nasal, Hemorróidas, morte por queda livre , afogamento no mar, 8 tipos de câncer, e alguns tipos de doenças hereditárias.

  3. Simples Plus

    Terreno no céu (de esquina, mesma quadra de Jesus e 15min de José e Maria), direito a 1 exorcismo por semana,proteção contra: tudo do Simples 1 + Resfriados, Dor de garganta, 15 tipo de câncer, mal olhado, Aids, melhora sua visão, postura, arcada dentária e muito +.

  4. VIP

    Terreno no Céu (Mesmo condomínio de Deus), Proteção contra 50% das doenças conhecidas pelo homem incluindo impotência sexual, todos os tipos de mortes antes dos 50 anos, incluindo suicídio (devolvemos seu dinheiro se você conseguir) contra chifre, sogra , cerveja quente, e 80% dos jogos do seu time irão passar na TV”

    Sinceramente, prefiro ir a um culto de êxtase místico coletivo na Igreja da Xoxota Universal do Reino do Diabo.

    Ubirajara Passos

 

INÉRCIA ABSOLUTA


O poema que segue me surgiu há pouco, em plena madrugada (são 3h 44 min), como resultado da minha falta de graça dos últimos dias e, apesar de estar sendo publicado no horário abaixo, foi programado neste instante, na página de administração do blog, para só ir ao ar no meio da tarde. Fiquem assim tranqüilos os toscos e autoritários burocratas que bloquearam o acesso a este blog, e a todos do “subsversivo” wordpress, na rede de computadores do judiciário gaúcho. Não a estou usando, como aliás nunca fiz, apesar de suas histéricas suspeitas, para publicar textos no Bira e as Safadezas…

Já os demais leitores, se possível, distraiam-se, mesmo cabisbaixos e ensimesmados atrás de seus gigantescos birôs.

INÉRCIA ABSOLUTA

Só a ridícula e insistente teimosia
Mantém-me vivo, a me arrastar, somente
Uma esperança vã, um vago devaneio
Faz crer que, ossificada e nula,
Da minha mente algo novo ainda surja.

Rastejo, uma absurda gravidade
Me imergindo, mais pesada que a Terra,
No fundo poço plúmbeo da rotina.

Alguns débeis disparates tentam em vão
Inflar as asas e alçar vôo da minha alma,
Mas tão magrelas são e é tão densa
A idiotizante canseira sempre igual

Das horas mortas, dos procedimentos
Velhos e gastos, os embates
De uma vidinnha circunscrita,
A espessa asneira
Do velho teatro bufo do poder

Que os arroubos de idéias mal paridas
Logo perdem força e se transmutam
Numa infeliz caricatura do humano.

Gravataí, 20 de novembro de 2007

Ubirajara Passos

PROTESTO DESCABELADO DO “PERUCA ORIGINAL”


O “amigo do Peruca” (cuja cabeleira de cachos radicais, um verdadeiro “pichaim loiro graúdo mantido por um “permanente”, deu origem ao apelido, que foi amplamente adotado por toda a turma – se tratam uns aos outros, indiscriminadamente, por “Peruca”, embora o primeiro seja, por necessidade de distinção, mencionado como “Peruca Original”) me enviou, na madrugada de domingo para segunda-feira o e-mail que abaixo reproduzo, para não me arriscar a sofrer uma ação indenizatória por parte de tão “impoluto e ilibado” cidadão:

“DESRESPEITO:

Ô Bira, como que tu só me bota no blog o nome por que eu sou conhecido nas favelas do Rio de Janeiro: “Caiu-sim-mermão!??

Além do fato dos moradores de lá dificilmente terem acesso à internet, os meus fãs do resto do mundo nunca conseguirão achar notícias sobre mim, pois, por exemplo, na Colômbia era conhecido como Juan Carlos Abadia Jr., na China como Carlos Kin Chong , na Itália como Giuseppe Carlos Lipari, nos EUA como Alphonsus Carlos Capone, entre outros.

E o mais importante é como sou conhecido popularmente no país em que atualmente resido, que é Pastor Carlos Macedo.”

Mil perdões, ilustre religioso. Não cometerei mais este “nefando” pecado. De hoje em diante, quando me referir a Vossa Senhoria, neste humilde blog, só mencionarei a alcunha forjada pelo traveco admirador do “Peruca” (o bocaberta, não o senhor): “ovelhinha da vovó”.

Ubirajara Passos

SINDJUS-RS REALIZA ASSEMBLÉIA GERAL DIA 23 DE NOVEMBRO


Panfleto do grupo SINDICATO É PRA LUTAR – OPOSIÇÃO, composto por membros da antiga chapa 1, do qual participo:

Sindicato é pra Lutar!
Oposição – construindo a Conlutas
BOLETIM N.º 2 – novembro de 2007

Que campanha salarial é esta?

Quebra da estabilidade,nenhum reajuste até a aprovação dos subsídios (e depois muito menos…), nova reforma previdenciária…muito trabalho e pouco salário…

Faltando um mês para o natal,neste ano o Papai Noel dos trabalhadores da justiça parece ter sido trocado pelo bicho papão ”!Enquanto a nova diretoria do Sindjus- RS aposta na postura mansa “e bem comportada ” e na negociação de bastidores nos gabinetes de desembargadores e deputados,o Presidente do TJ se faz de surdo.
O rombo em nossos bolsos se alarga,as pilhas crescem cada vez mais sobre as mesas! Mas,além de se negar a encaminhar qualquer reajuste, para não melar a aprovação dos subsídios da magistratura (a resposta escrita encaminhada ao sindicato é claríssima), o TJ traz novamente à baila o projeto de quebra da e stabilidade e se empenha numa queda de braço com Yeda para garantir o “orçamento ”. Não para atender às necessidades da população que vai ao Judiciário, nem para nos dar condições de trabalho, mas para pagar os futuros subsídios.
Só a luta muda a vida
Num cenário destes, não há espaço para a diplomacia ”!Ou partimos para a luta,com fortes mobilizações,como massivos atos de rua, e para uma “campanha salarial ”digna do nome,ou seremos soterrados pelo compressor do TJ,de Yeda e de Lula!
A assembléia geral,que a reunião de representantes de agosto decidiu que seria em setembro, foi convocada apenas para 23 de novembro. Isto porque a diretoria auto-suficiente do Sindjus preferiu “acreditar na palavra do Presidente do Tribunal ”(que foi desmentida em parecer à ASJ já em julho,e depois ao próprio Sindjus). Pois a diretoria, mesmo assim,continua insistindo na negociação de cúpulas, num estilo paternalista que simplesmente elimina a participação efetiva da base em
qualquer mobilização e converte o sindicato num manso cachorrinho de madame.E até agora, estranhamente, não deu um pio sobre o subsídios!
Mobilizar é preciso
Assim, só a nossa forte mobilização poderá garantir alguma chance de derrotar a perseguição institucionalizada e garantir um reajuste até o próximo ano. E para isto cada companheiro das diversas comarcas precisa se empenhar, tomar o Sindjus em suas mãos e estruturar uma luta com a força que a situação nos exige.O ano já está praticamente encerrado, mas, se não quisermos “morrer na praia ”, precisamos desde
logo preparar uma grande campanha salarial para março de 2008, partindo para a conscientização de cada companheiro ainda desmobilizado, em cada comarca do Estado!

Companheiro:venha para a Assembléia Geral dia 23 de novembro e faça valer a sua indignação.Pois, muito além da diretoria,o Sindjus somos todos nós!

Assembléia Geral
Dia 23 de novembro,às 13h30,
na Escola Técnica Parobé

•Reposição das perdas
• Calendário da URV e juros/correção
• Reajuste retroativo do auxílio-refeição
• Plano de Carreira
• Não à quebra da estabilidade.
• Contra as reformas da Previdência e Trabalhista do governo Lula

Contra a Reforma da Previdência,o pacote de Yeda e CPMF de Lula

Mesmo não conseguindo consenso no Fórum Nacional da Previdência, e tendo o próprio ministro Marinho admitido que as verdadeiras contas da Seguridade Social apontam para um equilíbrio já em 2008,o governo quer fazer a reforma, aumentando a idade mínima para aposentadoria, entre outros ataques.
Enquanto Lula faz de tudo para eternizar a CPMF, aqui no Estado,Yeda não fica para trás,com seu pacote de impostos e arrocho para o funcionalismo. Na briga entre o TJ e Yeda, não temos nada a ganhar, porque a aprovação do subsídio será também o fim de nossos reajustes salariais.
Enquanto isso,a direção dócil do Sindjus-RS segue a politica oportunista da CUT,que bate na Yeda e poupa o companheiro ”Lula,que aplica o mesmo modelo neoliberal de ataque aos trabalhadores.
É por isso que a Conlutas,junto com outras entidades, foi a Brasília,numa manifestação com 16 mil pessoas. Por isso,também,houve uma greve de setores do funcionalismo, principalmente o CPERS,e muitas manifestações.O Sindjus estava assinando o chamado, mas não discutiu nem informou, muito menos mobilizou a categoria.
Será que,a exemplo de 2003,o Sindjus vai ver o trem passar e não vai lutar junto com a classe trabalhadora para defender nossos direitos históricos? A Conlutas quer seguir o exemplo dos trabalhadores franceses que fi zeram uma paralisação em todo o país em defesa de sua aposentadoria.

CONLUTAS discute novo tipo de sindicato

Sindicatos estão burocratizados e enfraquecidos: privilégios aos dirigentes, pouco poder para a base.
A acomodação dos sindicatos ao modelo atrelado ao Estado, com dinheiro compulsório da categoria e repasses do Estado (FAT,etc),a pouca participação da base nas decisões e no cotidiano das entidades, tudo isso tem pressionado os diretores sindicais a se afastarem dos interesses da classe trabalhadora. Privilégios,seja trabalhar menos,seja “ajudas de custo ”que elevam os ganhos acima da categoria.Tudo isso vai amaciando as diretorias. Daí surge o carreirismo, a luta encarniçada por continuar liberados, até galgar postos em cargos públicos e estatais, administração de fundos de pensão,etc.
A Conlutas tem feito seminários para discutir a fundo esse modelo que tem criado pelegos. Que degenerou a CUT. E que tem que ser superado em uma entidade como a Conlutas, que luta pela independência em relação aos patrões e ao Estado, e a autonomia em relação aos partidos políticos.
Durante estes seminários houve também a polêmica não menos importante sobre a proposta de fusão com a Intersindical. Alguns setores consideram que a Intersindical cumpre um péssimo papel para classe trabalhadora, no momento que se hospeda dentro da CUT governista e faz de tudo para inviabilizar a formação da Conlutas. Os setores majoritários na Conlutas defendem que a necessidade da classe trabalhadora ter uma única entidade de luta contra a exploração capitalista e os governos, o que teria se comprovado no sucesso de atividades unitárias contra as Reformas. Mas a condição para isso é que a Intersindical rompa de finitivamente os laços que alguns setores ainda tem om a CUT e realize um Congresso de Unificação com a Conlutas,onde a base decida.
Ao mesmo tempo, temos que discutir claramente com os trabalhadores que a luta apenas econômica está destinada o desgaste, pois o sistema capitalista corrói constantemente nossas conquistas. Só com a organização de toda a classe trabalhadora, na luta pela superação desse sistema, e construção de um governo socialista dos trabalhadores, podemos barrar a retirada de nossos direitos. Fazer esse debate na base dos sindicatos e construir novas ferramentas de luta são tarefas urgentes.


Venha construir a Oposição “Sindicato é pra lutar ”

 

Estamos na luta,em nossos locais de trabalho,nas manifestações,participando das reuniões de representantes. A unidade para lutar é nosso objetivo.Infelizmente a direção do Sindjus tem outras prioridades e estamos ameaçados de acumular grandes perdas de nossos direitos. E não há como a base se manifestar, não há reuniões,a assembléia geral já vem tarde.
Por isso, consideramos que o momento de nos organizarmos como oposição não são as eleições. Porque é necessário ter propostas de mobilização, organizar a base e cobrar da diretoria: Mobilização !Democracia !Independência em relação ao TJ !Independência em relação aos parlamentos !Desatrelamento do PT!

Participe! Você está convidado para uma breve reunião que faremos após a assembléia geral, antes da volta às comarcas.

O APAIXONADO E O ASNO


Não, não se trata de dois personagens contrapostos, mas complementares, e cuja identidade comum sou eu próprio.

Tenho sofrido vida a fora, desde os meus doze anos, da terrível mania de me apaixonar pela gata mais linda e inacessível que estiver por perto e já cheguei a curtir anos de encantamento e dissabor romântico por uma colega do ensino fundamental (na época se chamava 1.º grau), sem que jamais a musa manifestasse o menor interesse amoroso a meu respeito e correspondesse por um único instante ao meu alumbramento. Esta, a paixão dos meus treze, quatorze, quinze e todos os anos que se contaram até os trinta, no princípio até foi um simples objeto do meu desejo, mas depois se transformou numa espécie de “deusa”, que, se cedesse ao meu interesse, se veria frustrada frente a um adorador capaz de se jogar aos seus pés, embasbacado com a beleza daquela descendente de italianos – de pele branquíssima, cabelos castanhos e lindos olhos verdes -, mas que talvez não lhe tocasse sequer o dedo mínimo, tímido e enredando numa contradição absurda entre um amor de idealização estética intelectualizada e o puro e simples tesão.

Eu era, adolescente, um verdadeiro “monge” do amor romântico! E graças à minha burrice, cevada num ambiente doméstico patriarcal e estreito, me empenhei em uma idolatria após a outra (ainda que as últimas musas, com o passar dos anos, fossem se tornando mais objetos do desejo reprimido e desenfreado que da idealização mental), até (passando por uma relação equivocada, onde amor e interesse financeiro se complementavam e se espicaçavam mutuamente) me tornar, tecnicamente, o que sou hoje: um quarentão solteiro que, ao invés de celebrar a sua liberdade, trocaria o mundo por um rotineiro e insosso casamento pequeno-burguês. Que, jamais tendo experimentado o amor mútuo entre dois seres, teria orgasmos cósmicos em fazer o rancho aos sábados, aturar crianças gritonas e agitadas, e sofrer a saraivada de críticas de uma jararaca doméstica, a condenar-me os livros e responsabilizar o dinheiro neles gastos (e nas revistas, jornais, CDs, DVDs, no cinema, e etc.) pela pindaíba financeira da família. Ou seja, uma perfeita família trabalhadora tradicional, o retrato do ambiente em que criei-me!

Não fossem os cabarés e as “aproveitadoras” que souberam contemplar o meu romantismo incorrigível mediante um bom ajutório às suas necessidades econômicas, disfarçando o “comércio sexual” no eterno jogo de sedução e rejeição emocional (aquela criatura que transa contigo, te pede um dinheirinho emprestado pra comprar cigarros, dá a entender que está apaixonada e, na primeira besta declaração de amor que o sujeito faz, diz que, apesar da transa, gosta muito de ti, “mas como amigo”), por pouco não me transformei no último “virgem” sobre a face do planeta (ainda que o fato de ter nascido em 30 de agosto não possa ser mudado, nem mesmo pelo ascendente lunar em “escorpião” que me salvou de ser um virgem de signo e de sexo!).

Mas a verdade é que não posso me penitenciar de nunca ter sido amado! Algumas doidas houve, desde a outra colega do 1.º grau que tentou seduzir-me e, diante da rejeição, me xingou aos brados na frente da eterna musa, até a empregada doméstica de uns primos em segundo grau de parentesco que freqüentava a minha casa na época dos meus vinte e poucos anos, quando eu insistia em outra paixão frustrada e inútil, tentando fazer existir o escritório de contabilidade precário que fundei aos dezoito anos e que tive de abandonar, para ter um mínimo de rendimento digno de gente, me tornando funcionário público, lá pelos vinte e quatro.

O problema é que eu fazia com elas exatamente o que sofria das minhas adoradas: desprezava. E preferia sofrer atrás do impossível que me contentar com o comum e pouco fascinante afeto que andava ao meu lado. É que eu tenho uma mania terrível de amar a encrenca, o grandioso, o inalcançável, e, sobretudo, o imprevisível e mal-comportado. Não foi por acaso que me tornei um anarquista!

Mas houve umas destas minhas pobres adoradoras a que lamentei não ter correspondido. Contando menos quatro anos de idade do que eu, lá pelos meus dezessete, apesar de gordinha, me enlouquecia de tesão com seus seios lindos e fartos, ainda que então não manifestasse o menor interesse explícito e nem tomasse atitudes explícitas de sedução para o meu lado. Me lembro muito bem de um domingo em que, separados por uns três metros de distância, mudos e vestidos, a criatura me excitava tanto que o tesão chegava a doer!

Uma vez ela me disse que uma colega de escola sua, que havia vindo aqui em casa, e eu fiquei “secando” sem a menor reciprocidade, lhe comentara: “como é bonito o fulano” (o que me incendiou a vaidade, piá magro e desengonçado que sempre teve dúvidas sobre si mesmo). Mas jamais imaginei que a admiradora era ela mesma. Até que um dia, eu lá pelos meus dezenove anos, ela com quinze, caminhávamos a beira-mar e a gatinha (que havia emagrecido e se transformado na coisa mais linda e gostosa, e cujos seios moldados pelo vento na camiseta branca continuavam a me enlouquecer) deu a entender que queria me namorar, mas usou uma frase arrevesada e o imbecil do DDA aqui, que – na época – estava louco pra lhe satisfazer a vontade, se fez de bobo e perdeu eternamente a chance! O ideal artificial e intelectualizado da paixão espezinhava um fogo mútuo que poderia se tornado uma grande história!

Uns dez anos depois, ela vinda de um casamento frustrado, eu continuando a colecionar paixões inacessíveis e impossíveis, nos encontramos numa destas festas xaroposas de aniversário de crianças, numa tarde de domingo modorrento. Ela, simplesmente linda (anotei numa agenda, no dia 8 de outubro de 1995 o trecho seguinte, que há algum tempo reencontrei e me lembrou a cena passada logo após: “cintura fina, seios fartos – de minissaia e blusa branca e meias pretas – foi ao corredor do banheiro me cumprimentar, segurei-lhe a mão enquanto lhe beijava o rosto, e a gata me disse: ‘Já ficou rico? Como ficou bonito! Será que eu e o Bira nunca vamos ser normais… nos casar e ter filhos?”). Na época eu alimentava uma poupança rechonchuda (uma conta bancária! não vão supor outra coisa!) que viria a gastar quase toda na boemia nos quatro anos seguintes, e era 4.º vice-presidente do Sinjus-RS. Perdera a ingenuidade romântica, mas continuava tímido, e “fiquei na minha”, ao invés de ceder ao desejo mútuo.

Contentei-me, besta e burro, com a visão mais impressionante que já tive na vida. Eu nunca havia visto o corpo da minha linda amiga mais do que um decote ou uma saia curta permitisse. E, uma meia hora após o nosso encontro fortuito, ela ia saindo da porta da cozinha para o quintal dos fundos, quando um malicioso raio de sol de fim de tarde lhe bateu sobre a pele, tornando a roupa transparente, e eu pude ver, de calcinhas de renda, cinta-liga e seios nus, inteirinha a pele de neve daquela loira descendente de ucranianos e pretensos alemães (na verdade galegos) peladinha e maravilhosa! Foi a primeira e última vez! E hoje, oitenta mulheres após, ainda lamento a oportunidade perdida de não ter vivido com ela o amor natural, fogoso e arrebatador que teria botado no chinelo qualquer paixão “cabeça”, artificiosa, intelectualmente sofisticada e besta, filha do patriarcalismo disfarçado que ainda vige.

Mas chega de divagações chorosas! Já passa da meia-noite (grande coisa!) e amanhã tenho reunião da chapa de oposição do PDT gravataiense pela manhã, e à tarde vou com meu amigo xupaxota conhecer um novo cabaré no centro de Porto Alegre: a Michelle Massagens, na rua Otávio Rocha.

Ubirajara Passos

LULA E A QUEBRA DA ESTABILIDADE DOS SERVIDORES PÚBLICOS


A grande vedete da reforma administrativa do fascista de punhos de renda (o velho companheiro de Lula na pseudo-oposição recrutada nos anos 1970 pela ditadura militar) Dom Fernando Henrique Cardoso foi o estupro do art. 41 da Constituição Federal, que garantia a estabilidade no cargo aos servidores públicos após cumprido o estágio probatório de dois anos, introduzindo-lhe um item que permite demitir servidores estáveis, por falta de desempenho.

Na prática, a medida significa para os trabalhadores do serviço público o mesmo que foi a criação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (o FGTS) para os empregados de empresas privadas, no auge da ditadura militar fascista de 1964, em relação ao já precário direito de estabilidade que a CLT lhes garantia após dez anos de serviço na mesma firma. Como a opção pelo regime do FGTS excluía a possibilidade da estabilidade, a patronada toda passou a só contratar os peões que “optassem” pelo Fundo, extinguindo o instituto que garantia um mínimo de direito ao emprego e combatia a nefasta rotatividade de mão-de-obra, que torna o trabalhador refém da exploração desenfreada da classe dominante e é responsável pelo desemprego crônico que vivemos.

 

O que não foi dito, entretanto, quando da da Reforma Administrativa de 1998, é que as normas anteriores já previam a possibilidade de afastamento, mediante processo administrativo e sentença judicial transitada em julgado, dos servidores corruptos, descumpridores da lei ou “vagabundos” (se é possível existir tal personagem na precariedade e falta de recursos humanos e materiais que assola os serviço públicos Brasil a fora). E a possibilidade pura e simples de demissão sob o pretexto da “falta de desempenho” (conceito que é filho da exploratória ideologia da qualidade) tira toda e qualquer garantia de independência dos servidores frente às pressões do cabo eleitoral nomeado para cargo em comissão, secretário ou chefe de executivo de plantão, bem como de seus respectivos apaniguados e aliados de grupos econômicos privados. Basta que o funcionário contrarie a vontade destes senhores, no exercício de suas funções e, sem garantia de estabilidade, está na rua. o que significa a total entrega da administração pública aos humores e interesses dos partidos e grupelhos falcatruas instalados momentaneamente no poder! Pois, como ninguém se arriscará a contrariá-los, e ter a cabeça cortada, sua vontade será defintivamente incontestável. No Poder Judiciário, que não possui função de deliberação ou execução política, mas é o guardião do cumprimento das normas legais, inclusive em relação aos governantes, a coisa se torna trágica.

A tal “perda do cargo por falta de desempenho”, entretanto, ainda não se tornou realidade concreta, na medida em que precisa ser regulamentada por Lei complementar à Constituição, cujo Projeto foi encaminhado pela Presidência da República ao Congresso Nacional, ainda em 1998, e se encontrava paralisado desde 2003. Até voltar a andar a passos largos em julho deste ano, já se encontrando com parecer favorável das comissões de constituição e justiça e de administração e serviço público da Câmara dos Deputados, desde outubro.

Fato que foi superficialmente denunciado pela diretoria do Sindjus-RS, desde então, sem mencionar, porém, que – sendo projeto de autoria do Poder Executivo – o PLP 248/1998 não representa apenas a vontade de Fernando Henrique, mas do próprio Inácio!

Lula, se quisesse, poderia simplesmente ter retirado do parlamento o nefasto projeto-de-lei complementar, mas deixando-o tramitar, convenientemente permite o ataque completo à proteção legal dos trabalhadores públicos (ao mesmo tempo em que prepara a revogação das leis trabalhistas para os peões da iniciativa privada), se escondendo atrás do fantasma de Dom Fernando Henrique (que é o bode expiatório nas falas da diretoria pelega e petista e cutista do Sindjus).

Esta é umas das graves contradições do governo pseudo-socialista, e fascista, do Inácio. Ao invés de estender o direito de estabilidade aos trabalhadores em geral (o que seria o mínimo de garantia frente à arbitrariedade patronal e ao desemprego avassalador), se prepara para receber de presente dos deputados e senadores a implantação do regime da degola e do terror legalizados para os trabalhadores do serviço público.Sob os aplausos de Bush, multinacionais e seus capachos brasileiros.

Ubirajara Passos

XOXOTA ELÉTRICA OU BUCETA LUMINOSA?


Alguém pode achar que, com o título deste post, estou exagerando de vez e, na falta completa de criatividade, pretendo aumentar na marra as estatísticas do blog.

Confesso que a minha vaidade ergueu-se e cresceu até quase tocar o céu quando as visitas ao Bira e as Safadezas… chegaram próximo de setecentas ao dia, justamente com a publicação da Buceta Transgênica, e experimentei inéditos e impossíveis orgasmos múltiplos… emocionais. O que, para qualquer escrevinhador metido a intelectual é fantástico, muito embora não traga nenhuma vantagem financeira (que é a motivação de 90% da humanidade para fazer qualquer coisa, qualquer dia nego vai estar cobrando até pra espirrar) nem sexual (mais do meu agrado, mas, como boa parte das mulheres são umas puritanas em termos de linguagem, por mais devassas que possam ser na hora da trepada, tudo que consegui foi apavorar as dondocas pequeno-burguesas que eventualmente se aventuraram neste site),

É bem verdade, também, que a combinação de DDA (em fase de exaustão mental) e depressão não favorecem nem um pouco a originalidade e, não tendo ânimo para enfrentar questões mais complexas, acabo por pegar o primeiro mote engraçado que por acaso descubro navegando na internet ou lendo.

Mas o fato é que aparece, já há muitos dias, nas estatísticas dos termos de busca que as criaturas digitam nos googles da vida, acabando por acessar este blog, a expressão “lâmpada buceta”. O que, evidentemente, me atiçou a curiosidade a ponto dela por-se a uivar babando para a lua (a esta altua o leitor deve estar imaginando se apelidei meu pau de “vaidade” e possuo alguma cadela chamada “curiosidade, mas não se preocupe: são apenas metáforas ridículas para botar algum molho nesta insonsa crônica).

Vejam bem: qual será a relação entre lâmpada e buceta? De cara imaginei uma checheca carregada de eletricidade, soltando faíscas de tanto tesão, numa amperagem capaz de derreter o caralho do coitado que vier a penetrá-la, a ponto de ser capaz de acender uma lâmpada, devidamente acoplada. O que não seria tão original depois que já se viu muita “buceta fumando” (que é, aliás, outra frase freqüente nas estatísticas de visitação ao blog).

Mas a coisa pode ser mais filosófica e profunda, além de menos avançada tecnologicamente. Pode ser que o “gajo” que digitou o termo estivesse apenas em busca da buceta esotérica, capaz de levá-lo à verdadeira luz transcendental da vida e o do universo, pela simples contemplação ou pelo transe tântrico heterodoxo (que terminaria num gozo cósmico após umas quarenta e oito horas de foda).

É claro que também há as hipóteses mais banais e pouco criativas. Como um ginecologista a busca de alguma lanterninha com câmera para espionar o interior da perereca ou um pobre e modorrento devasso punheteiro querendo assitir um vídeo-clipe em que a gostosa leva um choque de prazer ao esfregar a xana numa enorme lâmpada fluorescente.

Seja como for (para encerrar este texto, que já está me cansando), resta a conclusão mais óbvia e piegas, mas, talvez menos lembrada. Não é exatamente o hippie essênio pré-anarquista de nome Jesus Cristo (ainda que ele o tenha afirmado) a “luz da vida”, mas a humilde e cálida buceta! Através dela penetramos ainda como uma de nossas partes formadoras (o corredor cocainado que atende por espermatozóide e só desiste da maratona após encontrar, e se fundir, com o óvulo) e (salvo hipótese de cesariana) é através dela que saímos do paraíso uterino para a vida, e é nesta ocasião que quase todo mundo vê a luz no fim do túnel.

Ubirajara Passos

O Mestre Pancius de Goró e Línguas


A total falta de saco me impediu de escrever, hoje, qualquer texto teórico ou as pauladas, necessárias e adiadas, sobre o projeto federal de quebra da estabilidade dos servidores públicos e a cretinice da diretoria pelega do Sindjus-RS frente ao autoritarismo do Tribunal de Justiça – que, aliás, bloqueou o acesso dos servidores, no local de trabalho, a este blog, – o que se constitui em censura, por óbvias razões políticas – e, estranhamente, a sites listados no “blogroll” sem nenhuma relação com as questões da instituição, como o Blog d’Arkan Simaan (ilustre físico libanês radicado no Brasil desde os dois anos de idade – ou seja, brasileiro nascido no Líbano -, professor universitário, com livros publicados, na França desde os anos 1970!). Parece que seu passado revolucionário, em decorrência do qual, durante a ditadura gorila de 1964, teve de se exilar na Europa, se tornou algo explosivo e inadmissível para a justiça gaúcha… a partir do momento em que viu seu nome associado – por mera listagem no “Bira e as Safadezas…” – ao pobre “subversivo” que sou! (e, ao que parece, cometi um crime não previsto na “Constituição Cidadã” de 1988, e rechaçado pela Declaração dos Direitos Humanos da ONU: o crime de opinião!)

Mas, questões políticas a parte, somente a inspiração da “fada verde” possibilitou-me escrever mais um capítulo da fábula Erótilia, que vai a seguir transcrito:

 

O Mestre Pancius de Goró e Línguas

A gorducha criatura rodopiava enlouquecida (parecia um buda cocainado) e, quando viu o “noviço” desperto, se pôs a bater palmas e gritar entusiasmado:

– Queres fuder? Queres fuder? Queres fuder? Queres fuder? Queres fuder?…

– Zeloso mestre, que história é esta? Com vosso mantra estás é a me fuder a paciência! Podeis dizer-me onde me encontro? E o que é da minha túnica?

– Vamos fazer uma festa? Vamos fazer uma festa? Vamos fazer uma festa?

– Só se for com vossa genitora, guru ensandecido! (Epicuro começava a irritar-se e mal continha a xaroposa formalidade de neófito dogmático)

Pancius estacou de chofre, e com os olhos esbugalhados, encarou o discípulo, resfolegando como um touro, negaceando a cabeça como um doido furioso e, à vista do piá, que correu aos tropeços para trás de uma coluna granítica, quase se cagando, num gesto brusco levou a mão ao bolso e sacou de um bornal de vinho!

Vamos chamar umas putas? – E, entornando vinho pela barba grisalha, começou a berrar aos quatro ventos, enquanto dançava saltitando:

-Buuuundaaaaaaaaaaaaaaa!Tetinha,tetinha,tetinha!Buuuundaaaaaaaaaaaaaaaa!!!…

Dançarinas semi-nuas (vestidas apenas com um tapa-sexo) de todas as “pelagens” (loiras, ruivas, morenas, negras e amarelas) despencaram de trás das árvores, saltitando ao som de flauta, e se puseram a rodar com o pirado monge ao centro, que se atirava sôfrego aos seus seios e, entre uma mamada e outra, enquanto apalpava as doces fêmeas, disparava:

– Buuundaaaaaaaaaaaaaa!!! Tetinha, tetinha, tetinha!!!

Epicuro, entusiasmado, empertigou-se, e já ia metendo a mão em uma tigresa negra, as outras lhe apalpando o “cetro” enorme com gritinhos de que “coisinha lindinha e fofinha!”, quando foi detido por dois enormes guardas com cara de mongóis, pelados e de falo em riste, que lhe suspenderam pelos braços, enquanto Pancius dispensava as raparigas.

– Podeis lançá-lo ao solo agora! – E Epicuro, num tombo estrondoso, esparramou-se no chão, erguendo-se com dificuldade, enquanto os gigantes se afastavam e o gordo mestre, descobrindo o capuz, se apresentava:

– Sou Pancius, teu instrutor nos primeiros passos para a iniciação à nossa crença. Comigo aprenderás, estabanado “noviço”, as artes do goró e das línguas…  do nosso idioma ao bom uso que faz o teu degustador órgão do paladar na doce xana de uma fêmea da espécie humana! Antes de qualquer prática mística, terás de apreender os mistérios do teu corpo e da tua mente, e antes de usares a dura vara digna do futuro Príapo, terás de aprender como propiciar ao rubro coral mulheril o que muitas vezes não consegue o teu “cajado”, usando a mole e escamosa “cobra” que te roça o céu da boca!

– Excusai-me, mestre, sou um mancebo ignorante de mulheres e sério amante da sabedoria, e até há pouco nunca hei visto semelhantes maravilhas! Mas creio que ao calor de vossa excitante música libertei-me de minhas amarras racionalistas e xaroposas e junto a vós hei recebido a luz! Deixai voltar as linda pombas-rolas da verdade e vos demonstrarei o quanto já me inclino a aprofundar-me nos insondáveis e intensos mistérios da Deusa!

– Ouvi-me, ó imberbe e estouvado noviço! Fostes achado junto à Cascata Plenilúnica, com metro e meio de língua para fora, a babar-se e interferir no equilíbrio da montanha. Nossos guardas vos trouxeram através de um túnel incógnito, a que só tereis permissão de percorrer de volta quando estiverdes devidamente liberto de vossas justificações conscientes. A deusa e seus segredos estão mergulhados no mais profundo da espontaneidade e só após, pelo cansaço da atenção que julga, teres perdido todo cálculo mental pré-meditado, podereis atingir o âmago da energia que é vossa essência e a mãe do movimento de todos os seres! Mas para isto é necessário aprender paciência! Não desejar, nem tomar decisões pensadas e pesadas, mas agir por pura inércia e inspiração sensível. Antes de provardes dos prazeres do supremo gozo e da transmutação recíproca é necessário o desapego e o mergulho na torrente sem encilhas do universo! Assim, te dou a primeira lição do vosso aprendizado: Vamos tomar um goró! Vamos tomar um goró! Vamos tomar um goró! Vamos tomar um goóóóóóóóóóóó!!!

E, fazendo-o sentar-se na relva, Pancius serviu-se, e ao iniciado, do tinto líquido, até desmaiarem ambos de tanta beberagem, e mergulharem nos misteriosos caminhos do princípio eterno e inominado de tudo!

Ubirajara Passos

O CRIME “SUJO” DA FODA E OS PECADOS CAPITAISimag


Meu amigo xupaxota comenta, hoje, em seu site, a monstruosidade da condenação do sexo praticado sem vistas à procriação – ou seja, não como uma obrigação penosa, como carregar pedras de construção sobre as costas em nome do conforto de um patrão cretino e em troca de alguns míseros reais, mas por puro prazer e contentamento.

E aponta a contradição entre o prazer proibido da trepada e o deleite admitido e incontestado do paladar, que, estando também vinculado a uma função natural (a alimentação necessária à sobrevivência do indivíduo, enquanto a procriação sexual permite a sobrevivência da espécie), não é condenado pelo imaginário dominante quando exercido em vista do puro e simples gozo físico que nos propicia (ainda que a cartilha do bom escravo ou servo, forjada no final da antiguidade européia para garantia da domesticidade da classe dominada – o Cristianismo – também tenha elencado a “gula” entre suas proibições, até ser “flexibilizada” em razão dos hábitos dos novos senhores, os burgueses).

Subjacente nos hábitos de pudor da vestimenta e no horror aos palavrões ou “palavras sujas”, assim como na rejeição à sexualidade “desregrada” e à “infidelidade” entre membros de um casal, especialmente a das mulheres (ainda que uma leitora bastante “educada e polida” tenha afirmado, em comentário, há uma semana, que ninguém mais acredita na culpabilização do sexo, pois, segundo ela, estamos no século XX – sic), a “puríssima” verdade é que a condenação da foda se deve ao fato da coisa envolver “gente” de carne e osso e o contato necessário entre duas pessoas. Se só fosse possível se alimentar a dois ou mais, através da troca mútua de fluídos e energias, o ato de comer estaria, igualmente, cercado das mais diversas interdições e regramentos.

É que, em uma sociedade fundamentada no “uso” cru da maioria dos indivíduos como ferramenta ou gado para possibilitar a vadiagem requintada e o prazer (no mais das vezes sádico e doentio) de uns poucos dominadores – sob cuja prioridade estão estruturadas as nossas vidas, o contato humano livre, imediato (físico) e isento de “justificativas” e protocolos regulamentadores e, o que é pior, mutuamente prazeroso, é uma verdadeira ameaça “subversiva” a sua sobrevivência.

Quem fode sem objetivos necessários, nem regramentos além do prazer recíproco (o que exclui o “estupro”, o sadismo e a cópula “obrigatória” do casamento compulsório, que nada mais é que a escravidão socialmente aceita, inclusive sexual, da fêmea pelo macho) só pode fazê-lo em situação de plena liberdade e igualdade entre os fodedores e admite, e busca como direito, e regra de vida, o próprio deleite, saúde e bem-estar.

Se, além da simples trepada, adotar tal comportamento nas demais relações com seus semelhantes, simplesmente derrocará o domínio verticalizado e assimétrico dos nossos “donos” sobre a multidão de párias – a que não se reconhece outra prerrogativa além de trabalhar em proveito dos dominadores. Só em vista de tal missão é que se admite atender às necessidades biológicas (sobrevivência do escravo e reprodução do rebanho) e culturais (treinamento intelectual e prático destinado ao cumprimento do “dever” do trabalho e atendimento dos prazeres substitutivos ligados ao consumo e à reputação e à “celebridade”) necessárias à continuidade da existência como ferramenta a serviço dos privilegiados.

Não foi por acaso que a ideologia domesticadora vigente na servidão feudal ocidental (a religião católica) classificou como “pecados” imperdoáveis (atos “repugnantes” – dignos de “nojo”, condenáveis e responsáveis pela “danação de seus praticantes) justamente os hábitos mais saudáveis, próximos do bem-estar dos indivíduos, e nefastos aos interesses de nobres, reis, clérigos e todo tipo de exploradores. A famosa lista dos “pecados capitais” é nada mais que o rol das proibições ao exercício legítimo da própria condição humana de cada um, imperiosa à coisificação que propicia o ócio e o luxo dos opressores:

  • Gula: peão deve comer o mínimo para se manter em pé e trabalhar. Além deste limite será necessário alimento, e meios de aquisição, que diminuirão o butim (o produto da usurpação do produto do trabalho alheio) do seu amo ou patrão.

  • Luxúria: todo bom animal de carga deve passar, se possível, a maioria absoluta de seu tempo desperto trabalhando para prover a vida ociosa e despreocupada de seu dono. E, para “gerar” ou reproduzir as crias necessárias à continuidade do serviço, basta colocar em contato óvulo e espermatozóide. Donde o gozo (especialmente da paridadeira encarregada de gestar e cuidar da cria até estar apta ao trabalho) é algo supérfluo e perigoso, reservado ao dono do rebanho (que para poder fuder à vontade conta com o gado humano que oprime). Ninguém se espante, se no avanço fascista que vive o mundo, a foda vier a ser proibida, no futuro, se tornando obrigatória a geração de filhos via inseminação artificial ou clonagem.

  • Avareza: guardar riqueza é prioridade dos senhores. Peão que pretenda, e consiga, fazê-lo pode ameaçar o privilégio de seu dono, além de deixar de ser escravo.

  • Ira: a condição número um para a escravização é a mansidão e a propensão do dominado à obediência. O exercício da agressividade põe em cheque o domínio e é privilégio de quem manda, pois touro furioso, que não se transforma em boi (pela castração) e não aceita a canga, não serve de nada para o dono.

  • Inveja e Vaidade: quem valoriza a si próprio não se submete a outrem. Auto-afirmação e rejeição à submissão são veneno para o ‘bom trabalhador”, humilde e modesto, que deve saber seu lugar e não almejar o que está reservado ao seu amo.

  • Preguiça: é o supremo crime. Quem nasceu com o destino de ferramenta ou máquina destinada a servir, como coisa, a outrem não pode se negar ao trabalho e se fazer “inútil”, sem nenhum emprego (uma faca enferrejuda e sem fio não tem “serventia” e é um desperdício do precioso ferro, por exemplo). Afinal o servo ou trabalhador existe justamente para mourejar em lugar do dono e possibilitar que este desfrute, com toda maestria, criatividade e brilho, a própria preguiça.

    Para garantir o cumprimento destes preceitos vinha a ameaça imaginária: quem os descumprisse padeceria pela eternidade nas chamas do inferno! E somente teriam direito ao prêmio do paraíso após a morte os cristãos virtuosos, ou seja, aqueles que se submetessem à uma vida de fome (contraponto da gula), castidade (uma vez que servos e mulheres são considerados objetos ao serviço de seus senhores feudais e domésticos, não devem ter tesão e iniciativa sexual próprios para não se furtarem aos direitos de exclusividade do dono), conformada miséria (que é conseqüência da prioridade econômica do amo e se faz aceitar pela chantagem de que a riqueza conduz ao inferno), mansidão (que é o contrário da rebeldia à situação de dominado), humildade e gratidão (para que não desafie o direito natural do “amo” a usá-lo, pela posição dada por Deus – os próprios reis governam pela vontade divina – e admite viver em andrajos e sem nenhum conforto), e ativa dedicação ao trabalho obrigatório (sem o qual os privilégios materiais do dominador não existem).

    O mais incrível é, passados um milênio e meio, tais preceitos continuam a determinar a psicologia e o comportamento da classe trabalhadora e, por terem sido forjados para a manutenção da sociedade autoritária e verticalizada, se adaptam perfeitamente às necessidades da moderna escravidão assalariada (o capitalismo) e ao supremo gozo dos novos senhores (os burgueses), que mais do que em fortunas impossíveis de serem gastas em uma dezena de gerações, têm o supremo prazer em humilhar, pisar e torturar multidões de seres humanos sob suas patas.

    Ubirajara Passos

PANEGÍRICO A SANTA BUNDA


Por incrível que pareça (o que no meu caso não é tão incomum), passei o feriadão no maior tédio, com exceção do dia de finados, em que, repetindo episódio já ocorrido em uma sexta-feira santa, fui transar com a minha gata preferida.

Ontem, pretendia ir à Feira do Livro de Porto Alegre, mas recebi visita: nada mais que a dona Preguiça. E assim, só saí de casa para ir ao Carrefour, recentemente inaugurado em Gravataí, onde acabei comprando a minha primeira garrafa de absinto, o “Lautrec”, que experimentei à noite. E não é preciso dizer que me apaixonei pela “fada verde” ao primeiro gole. Mas isto é outra história.

O fato é que, há dias sem nenhuma inspiração para escrever nada, após dormir até o meio-dia, e ler o blog da minha amiga “K.” – o Incompletudes -, não sei como, baixou em mim (gaúcho dos quatro costados) um estranho santo nordestino, o caboclo repentista do cordel (vai ver é efeito retardado do absinto), e acabei por parir o poema abaixo. Divirtam-se, se for possível:

PANEGÍRICO A SANTA BUNDA

Traseiro rima com travesseiro –
E, ainda que aconchegante,
Recostar nele a cabeça
É um desperdício solene
E um desprezo completo
À sua irmã menor,
Dita cabeça de baixo!

Nádegas me lembram águas
(Não baleias entre algas!),
As nadadoras gostosas
De qualquer uma olimpíada,
Mas, lhes tirando o “assento”,
A coisa vai pras adegas
E só resta do porre o orgasmo .

Já os “glúteos” mais parecem
Coisa de glutonaria,
Rabo de gorda ou engulhos
De tarado embriagado,
Com má cachaça, perante
O lombo de uma matrona.

A verdade pura e simples
É que no luso idioma
Não há termo mais perfeito
Para as carnes que revestem
O trecho final da coluna
Vertebral da humana espécie
Do que a quente e boa bunda!

Os sinônimos são insossos,
A bunda é bem mais profunda!
Não há como pronunciá-la
Sem se encher bem a boca
Como quem degusta, sôfrego,
Um excitante bombom,
Ou chupa uma doce manga!

Bunda não tem quebra-língua,
Até gago diz direto,
E tem um som explosivo
E ao mesmo tempo envolvente,
Que é o gozo do idioma!

Bunda com funda não há
Como confundir, embora
Tanto usado seja o adágio.

Na verdade a bunda afunda
Todo humano desespero
Sob um mar de entusiasmo
E ao êxtase aprofunda,
Quando arrebitada e bela –
Seja alva como a estrela,
Ou da cor da madrugada,

Boêmia pele morena
Que, rebolando ao batuque,
Na cadência dos tambores,
Revirou com as cabeças
Da velha portuguesada
E pintou um Brasil tisnado!

Se nádega é palavra fria
Da gélida Europa,
Bunda esquenta o sangue e cria
Um mundo de sensações…
Com a bunda não há tesões
Que, extintos, não se revolvam
E tragam à vida defuntos!

Na própria Bíblia está
Muito mal contada a história.
Pode até ter sido o Cristo
Que chamou do túmulo Lázaro,
Mandando-o erguer-se e andar,

Porém, o pobre cadáver
Só ressuscitou, afoito,
Porque, além do Nazareno,
Na sua frente avistou
Com dengo se remexendo
A bunda da Madalena!

Gravataí, 4 de novembro de 2007

Ubirajara Passos