Muito leitor sarcástico e gozador, senão intelectualóide e amargurado, deve estar pensando que o título deste texto, pela seu tamanho quilométrico, deve ser maior que o próprio. Entretanto, umas trinta e seis horas depois de escrevê-lo, ainda meio bêbado, a bordo de uma tartaruga que atende pelo nome de Viação Ouro e Prata, não encontrei outro melhor para o soneto “heterodoxo” que segue:
Auto-Definição de um Bêbado Megalomaníaco em Viagem de Ônibus (iniciada à meia-noite) entre Porto Alegre e Santa Rosa:
Eu venho da noite profunda das eras
Que o tempo escondeu entre névoas eternas.
Eu venho do azul quase negro gravado
No fogo confuso das lutas inglórias.
Eu venho da curva onde o vento perdeu-se.
Venho do oculto pulsante sem nome,
Da força infinita que vibra, tão ínfima,
Desde o velho “sempre”.
Venho do escuro, do nada, do pouco,
Do velho, o esquecido, do sem importância.
Sou o canto do beco sem rumo onde o Diabo
Nem perdeu as botas, porque não as tinha,
E deixou à brisa, flanando, sem cor,
O rastro rasgado de um pensamento.
Rio Grande do Sul, 21 de fevereiro de 2009
Ubirajara Passos