Do pretenso racismo do hino rio grandense (ou, por que o combate à opressão deve incluir a interpretação desassombrada dos textos…)


Não pretendo discutir a legitimidade da postura dos vereadores negros do Psol de Porto Alegre em se manterem sentados durante a execução do Hino oficial do Rio Grande do Sul no ato de sua posse, cuja atitude se tornou polêmica a partir da reprimenda de uma vereadora nitidamente fascista.

Mas é preciso, em meio ao festival de questionamentos e elucubrações de natureza política, histórica e sociológica suscitados, em cujo emaranhado polarizado até as raias do desconhecimento histórico e do revisionismo tacanho (há quem pretenda extirpar mais uma estrofe do hino, além da que já o foi em plena vigência da ditadura militar, por haver nela referência a “tiranos”) não intento mergulhar, que se traga alguma sanidade e lógica ao debate, evitando assassinar o português em prol do folclore político e ideológico desusado.

Que se questione conteúdos subliminarmente preconceituosos é muito louvável e absolutamente necessário. Mas, para tanto, é necessário não assassinar a lógica linguística básica e se forçar o sentido de um texto pela construção externa a sua própria estrutura. E, muito menos, ao contextualizá-lo no ambiente histórico e geográfico em que foi parido, induzir sua caracterização a partir de critérios arbitrários e toscos.

Salta aos olhos de qualquer um que examine o conteúdo do hino rio grandense, tachado de racista, com um mínimo de isenção ideológica (isenção esta não entendida como a falsa neutralidade da razão frente ao privilégio e ao preconceito gritante, mas como atitude desarmada da mente pronta a examinar os fatos concretos a partir de si, sem nenhum julgamento prévio – pré-conceito – a  realidade empírica), que os seus pretensamente ofensivos versos (“mas não basta pra ser livre/ser forte, aguerrido e bravo/povo que não tem VIRTUDE/ acaba por ser ESCRAVO”) não se referem a um segmento determinado da sociedade gaúcha ou brasileira existente na época de sua confecção, mas ao conjunto do povo rio grandense que, na visão política idealizada do poeta, posterior aos fatos que retrata (a revolução farroupilha) se encontrava submetido, dominado, escravizado (metaforicamente falando) aos interesses da corte imperial, que lhe seriam contrapostos e prejudiciais. Se troque, numa descontextualização mais próxima de nosso ambiente, o sul da América Latina, Bento Gonçalves por Leonel Brizola ou Fidel Castro e teremos um libelo anti-imperialista e anticapitalista dos brasileiros ou latino-americanos frente ao domínio do grande capital yankee, europeu ou transnacional do século 20 ou 21.

E é notório que a “virtude” a que se refere o texto se identifica, no contexto político interno que o informa, menos à pretensa RETIDÃO MORAL dos “puros” e soberbos “homens de bem” (senhores brancos de propriedades fundiárias, pecuárias e humanas – fazendeiros privilegiados que lideravam o movimento), contraposta a uma suposta devassidão criminosa e anti-ética da ralé (o “povinho”, que na forma de escravo negro ou peão avulso, sem terra, gaudério mestiço de índio e descendentes brancos de europeus ibéricos, sustentava os privilégios dos estancieiros no suplício da faina exercida debaixo do tacão e sem condições dignas de sobrevivência), que tende a justificar historicamente as diversas formas de dominação social desde a Pré-História ao nosso capitalismo pós-moderno virtualizado, do que às qualidades necessárias à manutenção da liberdade deste povo ou nação frente ao avanço de seu opressor, no caso específico os interesses da elite hegemônica representados no governo central do período regencial frente aos da marginalizada elite regional dos estancieiros farrapos. Se transportarmos a ideia para nossos dias, de pretensa igualdade política formal (em que teoricamente a maioria trabalhadora escorchada e dominada detém o mesmo privilégio político de escolher seus representantes no aparato estatal que os antigos eleitores possuidores de renda e propriedades privilegiados que os habilitavam a votar, no regime monárquico), a VIRTUDE a que se refere o hino seria antes a consciência, a capacidade de defender os próprios interesses e necessidades frente ao domínio espúrio e contraposto de outrem, que nós próprios, revolucionários socialistas, libertários e anti-imperialistas defendemos com unhas e dentes.

Não é porque os líderes do movimento eram fazendeiros (estancieiros) proprietários de escravos, que não pretendiam abolir a escravatura, nem porque a liderança militar final compactuou com o inimigo para o genocídio absurdo dos lanceiros negros, que se deve forçar a interpretação dos versos do “Chiquinho da Vovó”, até onde se sabe escritos posteriormente ao fim da Guerra dos Farrapos.

A injúria sub-reptícia da estrofe “maldita” existiria concretamente e teria toda a lógica, além das simples regras linguísticas, se estivéssemos tratando de um hino feito por ou na intenção de líderes dos Estados Confederados da América, cujo grande motivo de sua rebelião era a necessidade de manutenção do Instituto ignóbil da escravidão ameaçado pelo governo central americano sediado em Washington. Na boca destes revoltosos sulistas dos “States”, com certeza, a intenção dos versos de um poema laudatório adotado como hino estadual pelos positivistas republicanos gaúchos ciosos da autonomia regional (no seio dos quais foi parido Getúlio, cujo governo legou aos modernos escravos assalariados brasileiros os direitos trabalhistas básicos, revogados pelo fascismo racista e anti-povo dos nossos dias) seria sim arrogante, racista e condenável, mas não no caso concreto!

Ubirajara Passos

 

Do sol e das nuvens…


Normalmente, eu estaria, e deveria, hoje estar analisando os aspectos políticos da eleição do Jairzinho Capitão do Mato para a Presidência da República, constatando o óbvio: que esta se constituiu na consagração, esperada e apoiada pelos promotores, do golpe de 2016, para continuidade das reformas (como já deixa claro o futuro ministro da Economia, ao afirmar, nesta segunda-feira que a “prioridade do plano econômico do futuro governo será a Reforma Previdenciária) cuja essência se resume a extinguir os últimos direitos trabalhistas, sociais e previdenciários legais garantidos à peonada, bem como a privatização e entrega definitiva do patrimônio nacional nas mãos da classe dominante internacional, sob cujo sádico prazer será sacrificado o rebanho de milhões de trabalhadores, sem direito, agora, sequer a reclamar, debaixo do pior tacão autoritário, intimidatório e repressor.

Mas, surpreendido pela incessante e trovejante onda de fogos de artifício no início da noite, quando, sem me dar por conta da hora, voltava de um passeio na pracinha próxima com a Isadora (que só fui entender que comemorava a desgraça nacional ao chegar em casa e saber de meu enteado que o resultado final das urnas já fora divulgado e não havia volta), me vi diante do abismo inevitável, que se sabe que poderia aparecer, mas não se quer acreditar esteja a nossa frente quando surge.

Nascido no inverno de 1965, fui criança, adolescente e jovem durante o regime entreguista e ditatorial inaugurado em 1964 e pude presenciar pessoalmente o clima de censura e repressão. Nunca esquecerei de um belo dia, em 1978,  em que me vi surpreendido, ao levantar da parede do quarto de meus pais um quadro do Padre Réus que se encontrava estranhamente afastado no prego que o segurava, e debaixo descobrir um quadro, cuja moldura encerrava um cartaz de campanha de Brizola a governador do Rio Grande do Sul em 1958, que meu pai escondera durante quatorze, por medo da repressão do DOPS. Ao questionar minha mãe sobre o personagem retratado, esta me disse, do alto de sua sabedoria de quem apenas passou pelas primeiras letras e as quatro operações aritméticas: “meu filho, este era um cara que defendia o trabalhador”. Não poderia haver definição mais perfeita e as circunstâncias deixavam claro até para um guri de treze anos as razões porque o quadro fora escondido e a natureza do regime político que forçava o fato. Era uma ditadura que fora estabelecido contra o povo, a grande maioria que sua ingloriamente todo dia para manter o Brasil andando e a quem quer que opusesse a este massacre reservava a tortura, a morte e o desaparecimento.

E hoje pela manhã me vi envolto pelos sentimentos que expressei, quase literalmente, a uma amiga e companheira de militância política e sindical, nas palavras seguintes, ao lhe agradecer uma mensagem pelo dia do abraço, e que dizem todo o possível neste momento.

Estou perplexo e ainda em estado de choque. Apesar de manter a postura radical e revolucionária nos posts do facebook, sinto medo e um imenso nojo.

Sei que, pelo menos nos primeiros tempos, não iremos parar no pau-de-arara, mas temo justamente o que mais me enoja: a reação histérica e furibunda dos fanáticos, muitos próximos, como parentes e colegas, que, diante de nossa menor crítica, só sabem esbravejar (ou se não o fazem nos termos exatos, deixam perfeitamente implícito  o pensamento) como se estivessem vendo o próprio diabo na frente, coisas como “petista imundo, ateu imoral, comunista!”,  e parecem estar dispostos a avançar de porrete sobre nós, no seu ímpeto de caça às bruxas.

Diante de uma das minhas postagens do final da noite, um colega aposentado, destes que me chamava de comunista no início dos anos 1990, em razão de minha liderança sindical, saiu-se, com a autoridade de censura que parece lhe ter sido magicamente concedida pela vitória do louco, com a seguinte pérola, sutilmente intimidatória: “Quando tu vai parar de dizer besteira?”

Temo porque sei que há formas bem mais sutis de nos exterminarem, a nós que defendemos a dignidade e a real decência da peonada trabalhadora, do que a tortura ou a eliminação física. E tenho certeza que será esta horda de fanáticos, bem próximos, o instrumento da delação e da perseguição, que virá através das brechas legais mais obscuras, na forma de ações criminais e procedimentos administrativos disciplinares. O mínimo suspiro indignado emitido por nós (“execráveis vermelhos degenerados dignos de exemplar e feroz punição” na visão destes fanáticos) servirá para detonar o linchamento “legal” que nos azedará a vida.

Mas não sei viver de outra forma que não seja o exercício desbocado e sem freios da liberdade. Apesar do medo, continuarei no pé do autoritarismo e da injustiça e bradarei, eu mesmo, com toda serenidade possível, até que me calem.

Pois, como me dizia a Isadora, na primeira madrugada deste fatídico ano, ao lhe dar a tradicional intimada para ir dormir (frase que anotei em meu caderninho e planejava desde então viesse a ser tema de matéria própria neste blog), parindo espontaneamente e sem saber o seu primeiro poema: “São os nossos sonhos que fazem o sol nascer. Se a gente não dorme o dia não vem. E as nuvens são os nossos pesadelos”!

Ubirajara Passos

 

 

 

 

 

Aos brasileiros que ainda não definiram seu voto nas eleições presidenciais de 28 de outubro:


Conforme a última pesquisa do Instituto Vox Populi, realizada e divulgada neste sábado, a eleição para a presidência da República se encontra  empatada entre Fernando Haddad e o Capitão “do Mato” Jair Messias Bolsonaro!

Caberá a ti, eleitor ainda indeciso, definir os rumos do Brasil, a continuidade do direito de expressão, do direito de manifestação, de luta, do mínimo de direitos trabalhistas e sociais, como décimo terceiro salário, estabilidade do servidor público, aula presencial no ensino fundamental, da própria sobrevivência física de negros, índios, mulheres, gays e militantes da causa popular

OU a entrega do país e de nossas vidas à boçalidade, à violência, à censura brutal e hipócrita, à asquerosa escravidão rediviva, à ignorância inominável e ao extermínio sádico de milhões de brasileiros EM NOME DOS INTERESSES PREDATÓRIOS DE MEIA DÚZIA DE DETENTORES DO GRANDE CAPITAL NACIONAL E INTERNACIONAL.

Nossa sobrevivência como nação com um mínimo de civilidade está nas tuas mãos.

Não permita que nossas crianças e jovens tenham de passar, como nós passamos nos anos 1960, 1970 e 1980, pela opressão tacanha, insuportável e arrogante de uma ditadura escancaradamente elitista, calcada na mentalidade soberba, no uso cru e no desprezo às multidões de trabalhadores, cuja vida em frangalhos, no trabalho árduo e não recompensado, faz andar o Brasil!

Não podemos retroceder! Como diziam os clássicos versos da versão original do hino farroupilha: “Avante, povo brioso/ Nunca mais retrogradar/ Porque atrás fica o inferno/ Que haverá de nos tragar!”

Ubirajara Passos

 

 

 

 

Bolsonaro: tirania e extermínio a serviço da classe dominante internacional


Nunca tive a menor simpatia pelo PT, não por tê-lo como radical, mas justamente pela excessiva moderação de seu pretenso esquerdismo. O que se pode constatar facilmente desde as primeiras postagens deste blog, no início de 2006. Inúmeras foram as crônicas e comentários ferinos desferidos ao longo de seu governo. No entanto, diante da possibilidade de eleição do ilustre Capitão “do Mato” Jair Bolsonaro para a presidência da República, não há outra hipótese, racional e humana, possível que o voto em Haddad! 

Como diria o velho Brizola, desta vez teremos de engolir não um sapo barbudo, mas um banhado inteiro de batráquios, incluídas as rãs e pererecas de todo tipo.

A eleição de 28 de outubro não se constitui em uma mera disputa entre dois candidatos mais ou menos radicalizados, em polos opostos, mas num verdadeiro plebiscito, cujo resultado favorável ao candidato do PSL acabará por implicar na própria extinção do regime democrático e das mínimas garantias ainda vigentes, como a liberdade de expressão,  os direitos de reunião e de ir e vir.

Não fosse suficiente a assumida, e entusiasticamente assumida, nostalgia do militar da reserva, cuja carreira se deu justamente entre 1973 e 1987, pela Ditadura Militar instaurada em 1964 (ao ponto de defender a tortura e tê-la por insuficiente, os milicos deveriam ter matado uns 30 mil), as recentes declarações de seu candidato a Vice-Presidente (um general explicitamente favorável à “intervenção militar”, ou seja, o golpe de Estado puro e simples), não deixam a menor dúvida quanto à natureza de seu futuro governo, quando, da forma mais descarada possível, prega a substituição da Constituição cidadã de 1988 por uma carta outorgada por notáveis e um “auto-golpe” em 2019 na hipótese do “clima de baderna” torná-lo necessário. O que é mais do que suficiente para não levarmos na conta de mera bravata as suas intenções autoritárias.

Caso eleito, certamente o golpe virá e virá com toda a fúria e retaliação correspondente à sua pregação tresloucada, anti-comunista, homofóbica, machista, e racista, que, infelizmente, não é mera retórica.

Sua monstruosa postura é  mais asquerosa que seus ídolos torturadores, pois não tendo cometido com as próprias mãos os atos admirados, possui um tesão sádico frustrado por fazê-lo que só se satisfará com a imolação de multidões, como os milhões de judeus levados à câmara de gás por Hitler.

É a própria encarnação de tudo o quanto há de mais repulsivo e aterrorizante no Brasil em nossos dias. E a sua tirania não se restringirá, tragicamente, à imposição política incoercível e inquestionável dos mais tresloucados rumos à sociedade brasileira. Mas fatalmente descambará para o morticínio, não só da bandidagem que pretende combater à bala, como na morte concreta de qualquer opositor ou membro de um dos grupos considerados desagradáveis e fora da ordem por seu conservadorismo arcaico e furibundo. Bastará o cidadão ser um militante sindical, ter nascido na condição de  negro, gay, ou ser um índio ocupando área de terras ardentemente cobiçada por um grileiro ou minerador ilegal qualquer, por exemplo, para integrar a lista de candidatos ao extermínio pela força do Estado, ou mesmo dos próprios fiscais de esquina colaboradores do neo-fascismo redivivo.

As dezenas de ataques de seus psicopáticos seguidores a militantes de esquerda,  homossexuais ou simples simpatizantes de Haddad, ocorridos antes e após o primeiro turno, nos comprovam que  o extermínio não somente virá, como já está entre nós e, mais do que uma política de Estado, será a prática sanguinária e costumeira, típica dos regimes fascistas, dos milhares de capitães do mato fanatizados pela pregação intolerante do senhor Jair Messias. Cuja cretinice sádica é tão grande que ainda tem coragem de tripudiar sobre as vítimas de seu programa de extermínio, como mestre Moa do Katendê, dizendo-se irresponsável pelos trágicos crimes de seus “incontroláveis” asseclas – bandidos na pior acepção palavra, muito pior do que o mais cruel e cínico chefão do crime organizado, cuja tara furibunda foi despertada por sua pregação maniqueísta e intolerante

O mais inacreditável, entretanto, é que a maioria de brasileiros que se inclina a enterrar, com seu voto, no próximo dia 28 de outubro, os últimos resquícios de liberdade na “democracia” violada pelo golpe de 2016, grande parte dos quais composta por trabalhadores e membros dos grupos ameaçados, parece não desconhecer nada disto e deixar-se levar pelo ódio e frustração legado pelas mazelas da Era Petista, além do tradicional conservadorismo moralista, profundamente impressionados pela velha e surrada arenga anti-corrupção que  os algozes de Dilma alimentaram fartamente com a Operação Lava-Jato.

Não conseguem enxergar nada além de violência e corrupção, como se uma e outra não fossem o simples resultado crônico de um Estado organizado para manter os privilégios de uma minoria daqui e d’além-mar, gerados no sacrifício de milhões trabalhadores, no país de maior concentração de renda e injustiça social do mundo.

Parecem não compreender que, apesar de repetidas (mesmo com as reprimendas do “mito”) incessantes vezes, as declarações inconvenientes do General Mourão e de Paulo Guedes, candidato a vice-presidente e guru econômico de Bolsonaro, são pura realidade  e espelham suas intenções concretas: a extinção dos direitos a décimo terceiro salário e férias, a ressuscitação do CPMF e uma alíquota única de 20% no imposto de renda, que onera ainda mais os assalariados e alivia a tributação no bolso mais ricos.

Isto sem falar no que está assumido claramente no programa de governo e nas últimas manifestações do candidato, como a tal “carteira de trabalho verde e amarela” que, aparentemente optativa, como o FGTS, se fará obrigatória, e permitirá aos empregadores o exercício pleno e livre da exploração, sem qualquer garantia legal de direito ou proteção para a peonada. Assim como o fim da unicidade sindical, quebrando a representatividade dos sindicatos, as privatizações generalizadas de empresas estatais e principalmente a intenção explícita de “acabar com os ativismos”. Expressão ambígua e vaga que esconde, sob um lençol curto e transparente, o que está reservado para todos aqueles que, em nome de sua dignidade e condição humana, pretenderem reivindicar e militar por seus direitos sociais, trabalhistas, econômicos e culturais: a repressão pura e simples, sob todas formas possíveis e imagináveis do velho tacão militarista e escravocrata, da censura à tortura e ao cru justiçamento sumário, que certamente não será praticado apenas para os “bandidos” comuns, mas a todos aqueles que se opuserem aos desmandos do novo poder.

Este avalanche de ataques aos trabalhadores e aos interesses nacionais não tem outro objetivo, apesar dos pretextos meramente preconceituosos, moralistas e anti-comunistas, que a defesa e aprofundamento da sanha de lucro  e privilégio da burguesia internacional e seus lacaios brasileiros. Para que os grandes grupos econômicos que infelicitam a vida de meia humanidade em prol do sádico prazer da minoria proprietária possam esfolar o gado humano e as riquezas naturais do Brasil até o tutano dos ossos, garantindo a reforma previdenciária “a moda de Bolsonaro” e o retrocesso a um verdadeiro escravismo nas relações de trabalho, além da entrega descarada do patrimônio nacional, é que o capitão recebeu sua missão totalitária e genocida. Assim o golpe de 2016 não terá sido em vão e os nossos amos poderão gozar tranquilos.

O processo principiou e a única forma de detê-lo, ao menos de impedir que ele se  faça sob o disfarce legal das eleições “democráticas” (pois ninguém se iluda que, derrotado, o golpismo fascista tentará impedir a posse de seu oponente, e, frustrado tal intento, depô-lo posteriormente), por mais amargo que possa parecer o remédio a todos que, como eu, têm sérias restrições ao mero assistencialismo do “socialismo petista”, é o voto em Fernando Haddad, sem qualquer dúvida ou o menor vacilo!

Ubirajara Passos

 

 

 

 

 

 

 

“INTERVENÇÃO MILITAR”: porque temos de combater com todas as forças a pregação deste absurdo?


“INTERVENÇÃO MILITAR!” Este é o brado frequente e cada vez maior que se ouve nas marchas espontâneas em apoio à greve dos camioneiros, bem como nas postangens de facebook e whats app, nas mesas de buteco e nos fuxicos da esquina.

O que pretendem afinal os defensores iludidos ou mal intencionados de tal cretinice?

Entregar nossas vidas nas mãos de um general treinado para comandar homens em morticínio, que passou a vida na caserna a dar ordens peremptórias e receber continências como se fosse um deus, que só sabe impor a velha disciplina da tirania inquestionável em nome do simples cumprimento de ordens? Abdicar da administração comum de nossas vidas que, para o bem ou para mal, só a nos pertence para uma classe de homens treinados para matar em nome do poder, que se julgam acima de tudo e de todos por possuírem legalmente o monopólio do uso da violência armada com armamento pesado contra a agressão externa, não lhes cabendo voltá-la contra o povo do país?

Se algum maluco acha legítimo e pretende, diante da falência do Estado representativo, a entrega do destino coletivo do Brasil a algum “pai tutelar” por que não clama pela entrega do poder a um “ungido e iluminado” proprietário de uma rede mundial de “igrejas” destas cuja enorme renda se sustenta do estelionato religioso sobre o desamparo emocional e econômico de seus fiéis ou às famílias dos maiores acionistas das grandes multinacionais que nos exploram?

Seria tão absurdo e coerente quanto entronizar no Palácio do Planalto novamente a milicada!

A quartelada de 1º de abril de 1964 foi um golpe atroz tramado pelos próprios americanos em conluio com latifundiários, burgueses e lacaios de multinacionais para derrubar um governo que pretendia garantir um mínimo de dignidade ao povo trabalhador. Golpe responsável pelo modelo econômico e a política de mídia e cultura que nos legou o Brasil da violência, da miséria e ignorância que desde então vivemos!

Não existe ditadura soft muito menos milicos comprometidos com os interesses do povo trabalhador.

De resto, a gestão dos interesses nacionais pertence à sociedade em si e não a nenhuma categoria detentora do monopólio do uso da violência.

Não existe tutor legítimo sobre uma sociedade inteira , esteja ou não o Estado formal carcomido.

Nunca é demais lembrar aos iluminados defensores do golpe o conteúdo que (ainda que não plenamente vigente em razão da ditadura informal do sr. Temer)  continua formalmente inscrito e válido no início do primeiro artigo da Constituição Federal:
TODO PODER EMANA DO POVO!

Ubirajara Passos

 

Toby e os prisioneiros


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Esta foto emblemática foi feitas às cegas (o reflexo do sol sobre a tela da câmera digital precária não permitia visualizar nada), às 15 h 33 min de um velho domingo, em 6 de fevereiro de 2011, na subida à direita após a esquina da rua Ibirapuitã com a Av. Dorival de Oliveira em Gravataí, quando retornávamos (eu e seu protagonista) da casa que herdei de meu pai (morto em novembro de 2010), e que venderia em fevereiro de 2013.

Filho do Dodó (o cachorro mais antigo da família, que aparece junto ao Bernardinho em retrato na matéria Bernardinho (o contestador galã de quatro patas) e eu”, identificado na legenda como “Totó”, doado quando nos mudávamos da casa da Rua Barbosa Filho, no outro lado da quadra onde foi tirada a foto, para a Rua Maringá, na Vila Natal), este ilustre exemplar da malandragem quadrúpede excedeu em muito à irreverência do parceiro canino de seu pai, bem como à rebeldia indômita deste, que (tendo sido sequestrado e mantido preso por uns vizinhos da pá virada, quando morávamos na Rua Jorge Amado, em frente à Ferragem Gaúcha, na Vila Santa Cruz, só foi libertado após nos mudarmos, em fevereiro de 2009) não se deixava prender por cercado nem cancela de qualquer altura ou espécie, além de possuir a mania de trazer suas eventuais namoradas cadelas para  casa, umas delas a Rosquinha, de cuja ninhada nasceu a Branquinha, mãe falecida do nosso cachorro mais velho, atualmente, o Maique.

Me seguia por todo lado, como o faziam os outros dois, e se divertia tremendamente quando cruzávamos, todo dia, a esquina das ruas Nestor de Moura Jardim e Alfredo Emílio Allen, já próximos do Foro, e era “saudado” aos latidos  mais histéricos por uma trupe de uns seis cachorrinhos alvoroçados com a sua presença.

De bela e chamativa estampa, e “charme” irresistível, o rabo a balançar constantemente, numa vivacidade incrível, chegou ao ponto de um dia entrar comigo em plena Padaria (a Miolo do Pão, na Rua Otávio Schemes, próximo da Avenida Dorival de Oliveira), e, ao invés de ser corrido como se esperaria, foi abraçado, acarinhado e apreciado por praticamente todas as gatinhas que atendiam no balcão, entusiasmadas com o “alegre, fofo e lindo cãozinho!”  Pena que nenhuma delas lembrou-se de solicitar ao seu acompanhante humano o número do celular do bicho…

Mas, voltando-se ao assunto desta crônica, a foto que a encabeça, nela O nosso cachorro travesso da época, o Toby, parece gozar esplendidamente seus parceiros de espécie, abichornados atrás das grades do portão! “ (publicação minha no Facebook em 10 de agosto de 2017).

E, literalmente, ilustra, de forma perfeita e acabada, o paradoxo em  que se encontra a humanidade inteira nos seus últimos seis mil anos de existência sobre a face do Planeta Terra.

Encarcerada na pior das prisões, aquela que conta com a participação voluntária e inamovível do próprio prisioneiro, a enorme maioria da espécie se aferra ao sofrimento e desprazer de suas vidas limitadas e oprimidas, como se fossem a própria essência da vida, mirando, de olhos murchos, desconfiados (muito raramente invejosos), e mesmo enraivecidos, os que conseguem escapar à prisão da redução à coisa em nome do prazer alheio abastardado, e usufruir da força vital de expansão e busca do prazer e conforto biológico e mental genuíno de que nos dotou a própria natureza.

E, mesmo se instados, com toda a argumentação racional possível, a romper as grades da cadeia e passar para o lado de cá (o da liberdade, da alegria e busca do movimento, do bem estar digno e vital), as forças internas que os mantém no cárcere são tão intensas que a única reação possível, diante do choque da vitalidade simples e autônoma (exposto como chicoteada à sua face abobalhada), destes corpos vivos transformados em verdadeiros autômatos (ferramentas de carne e osso, apegadas ao trabalho compulsório e às regras limitadoras, sufocantes e geradoras de sofrimento) é a rejeição e, pior ainda, a fiscalização, delação, perseguição e condenação daqueles que tiveram a capacidade e a coragem de romper a biopatia generalizada que envolve nosso mundo desde que meia dúzia de arrogantes metidos a valente impuseram-se, pela força de suas imprecações perante a grande massa, como pretensos amos e senhores da sociedade, organizando , empesteando  e deformando a vida de todos os demais em prol de seus apetites!

Não há tratado, palestra, documentário ou descrição de qualquer natureza capaz de descrever, com a minúcia implícita e viva da fotografia, os matizes da peste emocional, a ossificação dos corpos e emoções que nos habitam desde que o velho patriarcalismo (o domínio do senhor macho “pai” de todos, com poder de vida e morte,  sobre todos os aspectos da vida de seus “familiares”, escravos de mesa e cama, do campo, comprados, capturados ou gerados de seu próprio corpo) nos impôs a disciplina inquestionável e obrigatória, regrando nosso comportamento, e nossos próprios pensamentos e emoções, segundo suas necessidades e perversos apetites.

Aí nasceram todos os tabus e proibições, muitos deles transformados em leis divinas, portanto irrefutáveis e imperativas, pela própria ideologia dominante do Ocidente (o cristianismo), a qualificar e punir como crime imperdoáveis o simples exercício da liberdade, a busca do gozo, do prazer e do bem estar de corpos e mentes na satisfação das mais comezinhas necessidades biológicas e mentais próprias da condição de ser vivo, como o paladar, o sexo, o descanso e o repouso necessários, a liberdade de pensamento e atitude individual etc., enquadrados nos 7 pecados capitais.

E desta teia de imposições, proibições e punições se construíram todas as sociedades posteriores, em que as classes dominantes vem exercendo o velho papel do patriarca, em prol de seus privilégios (que são a versão sádica e impositiva dos “prazeres perversos” proibidos aos peões relegados à vida de sofrimento), contando para tanto com a colaboração da maioria infectada de sua ideologia, que se alimenta da própria raiva em que se transforma a força vital básica ao tentar se expressar num organismo coberto por camadas de rígida couraça imobilizante.

Os cães visivelmente contrafeitos que estão atrás da grade observando o Toby, com ar estupefato, frustrado, até mesmo curioso por achar o caminho da fuga, ou ameaçador, poderiam unir-se e derrubá-la, mas as correntes que os mantêm acomodados são tão fortes, tão bem enterradas no profundo de seus seres, que continuam prisioneiros e se lhes fosse dada a oportunidade da fuga, pela abertura do portão que os retém, permaneceriam no seu interior, ou, em saindo, ao invés de gozar da liberdade, simplesmente saltariam sobre o cachorrinho livre e alegre e o trucidariam a mordidas e patadas, por não suportar a visão da liberdade!

Ubirajara Passos

Julgamento do habeas corpus de Lula assanha a direita e escancara o caráter ditatorial do regime vigente


As declarações do comandante do Exército, General Eduardo Villas Boas, publicadas mo twiter ás vésperas do julgamento do habeas corpus de Lula no Supremo Tribunal Federal, por mais que o Ministro da Defesa tente amenizá-las e (em flagrante contradição com o seu teor) negar a sua natureza intervencionista, não deixam dúvidas.

A afirmação (“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”), ao partir do comandante supremo de uma das três forças armadas, responsável pela integridade do território nacional e manutenção da ordem constitucional, pelo uso da força (cujo monopólio estatal é a garantia do poder político), é bastante grave. E passa muito longe do simples exercício da opinião por qualquer cidadão comum brasileiro, ainda mais quando repercute com apoios explícitos de generais da ativa (o general Paulo Chagas comentou explicitamente: “Caro Comandante, Amigo e líder receba a minha respeitosa e emocionada continência. Tenho a espada ao lado, a sela equipada, o cavalo trabalhado e aguardo suas ordens!!”).

Fica bem claro no conteúdo da mensagem a intenção de “vigilância” do Exército sobre o resultado do julgamento, que, se favorável a Lula, estaria consagrando a “impunidade” na “opinião” do general, bem como a velha e absurda presunção dos militares brasileiros em julgaram-se árbitros da ordem constitucional, acima de tudo e de todos, com poderes para alterar à força os rumos políticos do país, como se o artigo primeiro da Constituição da República possuísse um parágrafo único, secreto (como os decretos de falcatrua e arbítrio da pretérita ditadura admirada pelo Jairzinho Capitão do Mato e seus miquinhos amestrados dos MBLs da vida), que excetuasse a soberania popular, fonte originária e suprema do Estado, na ordem legal formal, em prol dos “pais maiores tutelares da nação, de uniforme camuflado e espada na cintura”, consagrando um poder que ninguém nem nada lhes atribuiu.

A conclusão lógica direta é que parece haver sim a intenção (nada velada) de intimidar a Suprema Corte de Justiça para garantir a prisão e o afastamento do jogo eleitoral justamente do candidato a Presidente da República mais cotado pelas pesquisas!

Não nutro a menor simpatia pelo Inácio, já publiquei neste blog as maiores críticas ao seu governo e à Dilma,  desde 2006, mas a verdade pura e simples é que cada dia fica mais claro que o golpe paraguaio que a depôs, num impeachment falcatrua, não foi nenhuma brincadeirinha e que a quadrilha de usurpadores (que governa contra a vontade da grande maioria, tal é a rejeição popular do Michelzinho, e sem prestar contas a  ninguém, sequer se preocupando em disfarçar sua natureza explicitamente corrupta) NÃO PERMITIRÁ QUE LULA, NEM QUALQUER CANDIDATO CONTRÁRIO ÀS REFORMAS ESCRAVISTAS PARA CUJA CONSECUÇÃO FOI DADO O GOLPE (com a revogação da CLT, já feita, e a extinção prática da aposentadoria pretendida) SE ELEJAM E DESFAÇAM A SACANAGEM SOCIAL PERPETRADA PELA ATUAL DITADURA, SERVIL AOS INTERESSES ESCRAVISTAS CADA VEZ MAIS ÁVIDOS DO GRANDE CAPITAL INTERNACIONAL!

Se ainda vivemos num ambiente de relativa liberdade de expressão e militância (apesar das execuções cada vez mais explícitas, como no recente caso da vereadora carioca do PSOL, Marielli Franco), no momento em que se tornar inviável a manutenção do programa ditatorial neo-liberal de Michelzinho e seus comparsas sem o uso explícito da força e o fechamento concreto do regime político, ninguém tenha dúvidas, agora, de que a “intervenção militar” (leia-se o GOLPE) não se limitará à ação acanhada (mas mesmo assim, violenta e abstrusa) nas favelas cariocas, em nome da crise da segurança pública.  E os tanques estarão na rua, secundados pelos fanáticos da nova extrema direita, prontos para esmagar a ação e a própria opinião de quem quer que tenha o desplante de exigir um mínimo de dignidade para  a sofrida massa de trabalhadores brasileiros, definitivamente alijada de quaisquer direitos legais com a verdadeira revogação da lei áurea praticada na reforma escravista das leis trabalhistas no ano passado.

Neste cenário, as eleições de outubro, ainda que se realizem, são mera formalidade, cujo resultado ninguém poderá garantir venha ser respeitado, caso contrarie a minoria apaniguada do país, ou os próprios interesses financeiras da quadrilha governante, depois do golpe parlamentar de 2016, cujo caráter ditatorial torna-se cada vez mais explícito.

O impasse é tal que somente a Revolução popular e libertária, forjada na vontade e na consciência dos que sustentam, com enorme sacrifício e nenhuma recompensa, os privilégios da  classe dominante e seus lacaios políticos, poderá nos conduzir a outro caminho que não o da perpetuação, mediante o arbítrio mais ominoso, deste sacrifício por outras tantas décadas quanto aquelas decorridas desde o golpe de 1964.

Ubirajara Passos

 

 

 

 

Jair Bolsonaro: a palhaçada que pode se tornar trágica!


Era uma vez um militar de baixa patente. Seu país passava por uma terrível crise econômica e por uma trágica situação política. Os partidos, fossem eles da esquerda, há pouco apeada do poder, fossem da direita, não davam conta dela e a violência campeava sem controle, pelo menos esta era a visão de boa parte das pessoas comuns, de trabalho mal remunerado e padrão de vida aviltado, que viviam a humilhação do poder aquisitivo rebaixado apesar da “seriedade e do empenho com que se dedicavam às suas nobres funções”.

O militar era um sujeito medíocre, de mentalidade retrógrada, o típico defensor dos “valores tradicionais da família e da pátria”. Saudoso da glória pretérita, de uma Era de Ouro em que o tacão violento e impositivo dos generais, que ele admirava profundamente, providenciava a ordem e o progresso do Grande Império, tratando de calar e eliminar os perigosos elementos que o ameaçavam, assim como um pai de família severo é capaz das mais resolutas atitudes para a perfeita disciplina e retidão de conduta de sua prole. Ele sofria profundamente com a humilhação a que seu povo se encontrava submetido no presente e via nos elementos depravados, que ameaçavam a perfeita moral familiar do país, tentando inverter e subverter os papéis destinados a homens e mulheres, à pura raça branca e às famílias de berço nobre, destinadas a liderar o país, a raiz profunda das desgraças nacionais. Era necessário enquadrá-los, especialmente a gays, mulheres metidas a macho, membros de raças inferiores, e, sobretudo ao perigo vermelho vindo de fora, e, eliminá-los, mesmo, para que se restabelecesse a ordem da moral dos patriarcas e dos senhores de bem, de reto proceder e abençoada fortuna, e o país voltasse aos tempos dourados de grande império.

Ele sabia que o povo não confiava mais nos grandes políticos, todos eles corruptos, quando não manchados pela peste vermelha, e se colocava como alternativa ao povo, cujo sentimento de revolta raivosa diante da desordem ele comprendia perfeitamente.

Seus discursos e atitudes pareciam absurdos, desmesurados até para os mais conservadores, porém com algum senso de racionalidade. Mas ninguém acreditava nas suas bravatas de extermínio físico da ralé depravada, de repressão bestial e truculenta dos grupos que não costumavam se comportar de acordo com os rígidos ditames da velha moral patriarcal e “familiar” já há décadas um tanto desacreditada.

Algum que outro ativista ou pensador de esquerda vislumbrou a concretude perigosa de tais atitudes e propostas, mas ninguém levou a sério. Eram tão extremadas, beiravam tanto à insanidade, absurdamente violentas e insensatas que não passavam de puro folclore. Eram apenas palhaçadas, destinadas a chamar a atenção e conquistar o poder, o que dificilmente ocorreria. Era um louco inofensivo.

E assim, enquanto as diversas abordagens políticas tradicionais desconsideravam-no, ele foi ganhando a confiança das pessoas comuns, que, acossadas pelo quotidiano de miséria, precariedade e violência, e desamparadas frente ao discurso abobalhado dos políticos “sem atitude”,  passavam a ver, cada vez mais, nas bravatas absurdas, a solução para a “baderna” instaurada. Era preciso um governo forte, decicido e que pusesse fim à orgia que estabelecera-se com um governicho de ladrões, que fazia suas safadezas grossas à revelia do povo, e perigosos elementos subversivos no meio da massa que impediam a ordem de se restabelecer.

Um dia, de tanto espumar e esbravejar, providenciando através de seus discípulos, volta e meia, o corretivo do pau no lombo dos “transviados”, ele chegou ao poder. Era um perigo para a liberdade e os direitos básicos de convivência e civilidade consagrados aos mais simples cidadãos desde a derrocada do velho obscurantismo monárquico e religioso medieval. Mas aqueles que poderiam ter evitado sua ascenção continuavam a não levá-lo a sério. O poder corrompe, o dinheiro distorce e em pouquíssimo tempo o louco tirano seria seduzido por ele e se tornaria simplesmente mais um chefete corrupto e extravagante, igual aos demais. Não havia o que temer. Mesmo potenciais vítimas, como gays riquíssimos e de requintada extração não o temiam, pois se achavam, supunham, blindados por sua fortuna e posição.

Mas o louco não se deteve, cumpriu todas as suas promessas e transformou o país num enorme campo de concentração, economicamente viável e livre de bandidinhos chinelões, mas profundamente infeliz e sobressaltado permanentemente pelo temor do braço impiedoso e forte da nova ordem. Por pouco não fez do próprio mundo, pelo poder do Novo Império restaurado, uma nova prisão, pois mesmo as potências capitalistas tradicionais não haviam acreditado nas suas palhaçadas e demoraram a opor-se-lhe, enquanto ele ía tomando, um a um, os arredores do Império para a nova ordem disciplinadora, rígida, violenta e sublime e edificante, dos homens brancos agraciados pela divindade!

Seu nome, o do excêntrico redentor, não era, casualmente, Jair Bolsonaro, embora, ressalvado o contexto internacional, pudesse sê-lo, havendo um perfeito paralelo na história de ambos. Chamava-se Adolfo Hitler, e foram necessários seis anos de uma renhida guerra total para expulsar ,formal e temporariamente, o nazismo da face da Terra e, por um bom tempo, boa parte da Europa sofreu debaixo das botinas de sua negra tirania.

De sua nefanda história nos restou a advertência que parece estar sendo, mais uma vez, sublimemente desprezada, agora no Brasil: É PRECISO LEVAR A SÉRIO OS PALHAÇOS EXPLICITAMENTE PSICOPATAS E TRATAR DE IMPEDI-LOS, ANTES QUE O SEU INTENTO, APARENTEMENTE CÔMICO, MAS PROFUNDAMENTE ENRAIZADO NA FÚRIA AUTORITÁRIA SUBTERRÂNEA QUE AINDA HABITA O INTERIOR DO INDIVÍDUO MÉDIO, ESTABELEÇA A INFELIZ E IRREMEDIÁVEL TRAGÉDIA!

Ubirajara Passos

 

O que foi realmente a ditadura militar e o que pode significar a chegada de Bolsonaro e suas viúvas saudosistas ao poder


Resumo abaixo, de forma serena e irrefutável, e a partir de trechos de minhas respostas, em meu embate com bolsonaretes e fascistas amestrados de todo tipo, postados na discussão de facebook que originou meu comentário reproduzido na matéria anterior deste blog, o real significado da candidatura do führer Jair Bolsonaro e sua umbilical, e assumida, ligação com a mais nefasta das ditaduras da História do Brasil, responsável pela desgraça definitiva de nosso povo há 53 anos passados.

O golpe dos generais gorilas no primeiro de abril de 1964 fez-se contra um governo legítimo, que pretendia implantar reformas básicas que garantissem aos brasileiros viver com um mínimo de dignidade. Que pretendia fazer a reforma agrária, coibir a remessa de lucros (que ceifa as riquezas produzidas no Brasil) das multinacionais às suas matrizes, fazer a reforma urbana, coibindo a exploração imobiliária e possibilitando moradia digna à população, mas foi apeado por traidores do Brasil, aliados ao imperialismo americano, sob o pretexto cretino da “comunização” do país, exatamente o mesmo discurso dos saudosistas do regime agora reunidos em torno do senhor Bolsonaro!

Jango não foi deposto por ser “um corrupto, demagogo, comunista” (conforme o discurso descabelado do reacionarismo lacerdista), mas porque contrariou os latifundiários improdutivos e o capital internacional que nos escraviza, decretando a desapropriação de latifúndios às margens das rodovias federais e regulamentando a lei da remessa de lucros.

Defender a ditadura dos que o depuseram, atitude que é assumida claramente por Jair Bolsonaro e seus díscipulos é, portanto defender os interesses de uma elite internacional, e seus lacaios brasileiros, que são responsáveis pela miséria econômica e existencial do nosso povo. É uma opção logicamente defensável… desde que quem a professa seja um beneficiário de tais interesses, que continuaram plenamente hegemônicos (e não o “comunismo gramsciano” como berram com toda força os fanáticos) no período pós-redemocratização. O discurso da extrema direita, que procura identificar o PT com o “comunismo”, diante da realidade concreta dos fatos, é de uma irracionalidade que beira ao delírio e à paranoia, no mínimo. Assim como o de seus congêneres do período pré-golpe militar que viam “comunistas comedores de criancinha e matadores de velho pra fazer sabão” por todo canto e a qualquer pretexto.

Não é necessário acessar quaisquer fontes estrambóticas (como pretendem que se faça os discípulos de Bolsonaro) para saber que o discurso da “infiltração comunista” fazia parte da tática alarmista de lacerdistas e fascistas associados a CIA e ao grande capital americano para justificar o golpe implantar o regime sanguinário que permitiu a entrega total e final do Brasil nas mãos dos interesses transnacionais.

Assim como não é segredo para ninguém o apoio público de Prestes a Jango, que não fazia parte de nenhum esquema obscuro de intromissão soviética, e muito menos de qualquer conspiração para tomada do poder por seu partido. Já o mesmo não pode se dizer de Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros em relação aos Estados Unidos.

Bolsonaro não é apenas um admirador descarado, mas foi sim colaborador de uma ditadura. Até ontem era membro da agremiação política que a representava e seus pupilos políticos admitem defender o regime autoritário e se confessam explicitamente anti-comunistas. Tudo isto os identifica com as forças que infelicitaram este país em 1964 e os contrapõe claramente aos direitos civis e políticos básicos garantidos a qualquer cidadão mesmo nos regimes abertamente capitalistas, mas liberais, pós-revolução francesa.

Sua chegada ao poder significa, portanto, o retorno expresso da tirania, do arbítrio e do terror promovido pelo próprio Estado contra quem quer que não se submeta aos seus planos.

Isto é suficiente para qualquer pessoa com um mínimo de decência, dignidade e racionalidade, temer e combater Jair Bolsonaro, MBL e seus asseclas, cujo ímpeto incansável, falaz e intrigueiro, procura incessantemente desqualificar a revelação concreta de sua natureza e pendores, explorando a histeria anti-comunista, a insegurança diante da criminalidade alimentada pelo próprio sistema e os pendores autoritários e anti-prazer presentes ainda na estrutura psicológica profunda da grande maioria das pessoas comuns.

Este tipo de manipulação virulenta e insana tem nome: peste emocional.

E não há uivos histéricos, por mais ruidosos e convulsivos que sejam, que possam obscurecer a verdade racional, límpida e serena, quando expostos cruamente à luz do sol.

Ubirajara Passos

 

Quem, é, de fato, Jair Bolsonaro?


Comentário que postei hoje à noite no facebook, em matéria reproduzida pelo presidente estadual do PV do Rio Grande do Sul, ex-vereador de Gravataí,  Márcio Souza, na qual se noticia ter sido ele taxado de bandido por Carlos Bolsonaro (filho do personagem objeto desta crônica) em razão de ter alertado, em palestra na Escola Inácio Montanha, de Porto Alegre, o risco que correm os direitos civis, inclusive das mulheres, com a possível eleição do referido deputado para a Presidência da República:

Bolsonaro era até ontem do partido que sustentou a ditadura militar, homenageou o sanguinário torturador Brilhante Ustra ao votar pelo impeachment de Dilma e defende escancaradamente o autoritarismo nazista praticado pela milicada que derrubou um presidente eleito constitucionalmente, sob o pretexto do mais falso moralismo, para criar o Brasil da miséria e da violência que conhecemos hoje.

Isto é suficiente para temermos radicalmente sua eventual eleição, que representaria a tomada do poder pela peste emocional, furibunda e raivosa que sustentará os privilégios da elite infecunda e entreguista deste país pela via da violência fascista explícita, do amordaçamemto do pensamento e pela tirania da “disciplina” mais conservadora, odiosa, anti-prazer, anti-vida e anti-povo.

É apavorante ver como estas forças fingiam dormir, envergonhadas desde 1985, e agora se assanham como feras em plena luz do dia na defesa da ordem mais irracional e obscurantista possível, pré-revolução francesa e anti-iluminista.

A quem interessar possa, procure e leia “Psicologia de Massas do Fascismo”, do mestre Wilhelm Reich, e entenderá toda a extensão da projeção política da raiva furiosa gerada pelos organismos humanos reprimidos e encouraçados na velha repressão sexual instaurada há seis mil anos pela sociedade patriarcal, onde o senhor do lar tinha direito de propriedade, vida e morte sobre todos os membros da “família”, de esposa e filhos a servos e escravos!

 

Ubirajara Passos