PERUCA DERRAPANTE NAS CURVAS DE GLORINHA


Depois da famosa “tourada” de bunda (cuja notícia neste blog lhe rendeu a repreensão do seu colega de cartório mais macho – que estava menos preocupado com a opção sexual do bocaberta do que com o pretenso escândalo público da sua divulgação, que, segundo ele, poderia compremeter a moral do setor…) o Peruca resolveu tomar jeito na vida e, no intuito de se transformar no perfeito machão padrão latino-americano, partiu, aproveitando o sol ardente e escaldante do fim de semana, para uma aventura heterossexual na praia.

Acompanhado do pastor Kadu Macedo, do Franja (mais conhecido por “Gildo Pirâmide”, ou “Pastor Dinastia”) e do “Camarguinho-chama-o-hugo” (o mais novo membro da turma, especializado em movimentos descoordenados, enrolação de língua e decoração orgânico-animal de jardins – show que apresenta, inexoravelmente, após a segunda lata de Skol), o desmiolado e radical estagiário, recém-chegado a Tramandaí, deu com aquela kombi velha a berrar pelas ruas o anúncio da chegada do fantástico Cirque du Chuléil”. E não teve dúvida: não havia lugar melhor para arranjar uma namorada daquelas bem gostosas e taradas, que trepam com o trapezista, fogem com o palhaço e o chifram com o cuspidor de fogo (cuja única desvantagem é chamuscar os pentelhos da checheca no ato de “chupar manga”).

O maior espetáculo da terra andava a mil e a canalha de estagiários, ocupadíssima. Por três vezes Kadu e Franja tiveram de deter o bocaberta à força, que queria invadir o picadeiro para agarrar o “engolidor” de espadas, e o “Camarguinho-chama-o-hugo” teve de ameaçar com seus dotes artísticos para impedi-lo de dançar um funk com a mulher-gorila. Até que, num intervalo, zanzando pelas barraquinhas de “Capeta”, o nosso herói trompou, olhar esbugalhado e a baba a inundar a areia, de tamanho susto, com aquela fantástica beldade!

A “linda donzela” era assistente da “mulher-barbada” (dizem as más línguas que eventual substituta) e atendia pelo mavioso nome de “Schuvaca Horripilis”. A que fazia, ingratamente, jus e, não fosse sua declarada ascendência afro-norueguesa (“papai veio das gélidas montanhas da Escandinávia e mamãe da luxuriante floresta do Congo”, berrava a esganiçada ao ser apresentada à turma), bem poderia ser prima de um gaudério lobisomem.

Bem que tentaram chamar o doido à realidade, mas o Peruca, calejado de tanto se estrepar com as aparências deliciosas das “falsas” mulheres e se azarar a cada decisão sexual politicamente correta, incorporou um burro brabo, resolveu enfrentar aquela cruza do Zé Bonitinho com o King Kong e se jogou de cabeça, pau e boca na “descaração” chucra e relinchante com a devassa selvagem, apelidada pelos colegas do “palco de lona” como “Moby Dick das Coxilhas”.

A “meiga e delicada” criatura (junto da qual era impossível se entediar e era garantia certa de “fortes emoções”), na primeira trepada, quebrou o lastro superior do beliche e projetou-se trailer abaixo, furando o assoalho do veículo e caindo sobre um formigueiro, o Peruca por baixo, a “arder em fogo”… com as picadas das saúvas. Mas se tornara o dodói do abobalhado e nem lhe oferecendo uma rodada de 20 cachorros-quentes de graça seus companheiros conseguiram dissuadi-lo do tórrido romance. Por fim se conformaram: ao menos o qüera estabanado havia novamente se tornado “um homem” e estava honrando a coisa balançante que trazia entre as pernas!

A coisa foi tão séria que o Peruca convenceu sua “alma gêmea” (que, se não relinchava como ele, rugia que era uma maravilha!) a largar o circo e irem viver juntos sob o mesmo teto em Gravataí. E o casal ia risonho estrada a fora, goró na cabeça, a mão esquerda do Peruca no volante, a direita a percorrer as “acentuadas” curvas da “fofinha” amante, quando a intrépida guria resolveu lhe agarrar, com as duas “frágeis” mãozinhas o “câmbio” de couro, e, ao tentar lhe engatar uma “terceira”, o fez saltar no banco e rodopiar o carro nas curvas caprichosas da Glorinha (não a rapariga, mas a bucólica cidade emancipada de Gravataí há dezenove anos, que se situa na “estrada velha da praia”, a oeste da velha Santo Antônio da Patrulha).

Depois de capotar na ribanceira e girar de pata pro ar um meia dúzia de vezes (só se salvando graças ao “air bag” de carne e osso que o acompanhava), o Peruca agora só pilota um par de tênis. Mas jura, com a boca escancarada e sacudindo bravamente a cabeça, pra quem quiser ouvir, que, apesar do prejuízo automobilístico, está muito feliz e tem em casa a maior e mais potente máquina da cidade.

Ubirajara Passos