Na madrugada de sexta-feira passada pari, quase em transe (o que não faz uma música clássica da FM Cultura de Porto Alegre e uma dose de conhaque?), o poema abaixo, que me saiu em perfeito heptassílabo (sem qualquer planejamento). Como achei-o “ajeitadinho”, resolvi publicá-lo neste blog.
Desabafo de um “Peão-Padrão” ante o domínio.
Quero viver, não permitem,
Quero morrer, me proíbem.
Sou uma máquina a serviço
Da vontade dos meus donos,
Tantos são que os desconheço
(De tantas formas me oprimem,
Não sei se são acionistas
De uma multinacional,
Se “autoridade”, eleitores,
Ou simplesmente matronas,
Donas de casa oprimidas,
Que oprimem pra aliviar-se
Das maneias que lhes prendem).
Não tenho prazer nenhum.
Só o tédio e o sobressalto
Movimentam minha vida:
A ameaça, a cada instante,
De desemprego ou castigo,
Da fome que bate à porta
E se dribla na cachaça.
Me esfolam vivo, me engolem,
Me cospem e me vomitam,
Me trituram nos moinhos
Que movo com os meus braços,
Me usam pra produzir
O prazer abastardado
De um punhado de malditos,
Que c’oa vida que me roubam
Entesouram propriedades,
Poderes e arrogâncias,
E satisfazem, na orgia
Do sadismo “revoltado”,
Seu vazio de mentes mortas,
Sua falta de sentido,
Sua alma oca e sem graça!
Estas “múmias” que se odeiam,
Que condenam-me a cachaça,
Que têm horror à gandaia,
Só gozam me torturando.
Suas ocas vidas, podres
Do “recalque” do poder,
Do orgulho de esfolar
E expor aos esfolados
O chique dos seus “dourados”,
Precisam da minha alma,
Do meu corpo, do meu ser
Pra produzir o seu tédio
Regado em champanhe fino,
Pulverizado na coca,
Que, tresloucados, lhes dá,
Por algumas horas “brilho”
Para o oco de suas almas.
Necessitam que eu seja
Uma peça sem vontade,
Desgastada a cada dia,
Pra fabricar a moeda
Com que compram corpos frios,
“Panteras” belas e lúbricas,
Sem nenhuma emoção,
Que compartem amargura
E anseio de torturar.
Não querem que eu seja gente,
Mas não deixam-me virar
Alma penada sequer.
Sou seu brinquedo odiado,
Sou o gado que carrega
O fardo da sua tara
E, sem direito a nada,
Vive no limbo amargando
O trabalho e o cansaço
Pra que a “reina” dos patrões
Seja “fina” e “colunável”.
Gravataí, 18 de novembro de 2006
Ubirajara Passos
Gaúcho, Peão de Estância
Terça, 09/06/2009 – 01:50 — Carol Carolina
9login Gaúcho, Peão de Estância.
O Peão ao levantar-se
Dá logo uma espiadinha
E vê ao longo do campo
A geada bem branquinha.
É o efeito da friagem
Que causa a geada
Cobrindo tudo de gêlo
Ao longo da madrugada.
E o Peão veste seu pala
Para enfrentar o frio
Que por vêzes é tão intenso
Congelando a água do rio.
Depois encilha o cavalo
E sai para a lida campeira.
Se despede de sua Chinóca
Que lhe abana da porteira.
Parte junto com seu cusco
Seu amigo e companheiro
Que é fiel não lhe abandona
Sempre perto o dia inteiro.
A tardinha a Chinóca
Se arruma toda bonita
Coloca flor no cabelo
E põe seu vestido de chita.
E vai esperar a volta
Do seu Peão muito amado
Que ao chegar dá-lhe um beijo
Na beira do alambrado.
Depois lá dentro de casa
Ficam em volta do fogão
Conversam, comentam causos
Sorvendo um chimarrão.
Tenho orgulho em ser Gaúcha
E honrar a tradição
Trago meu Rio Grande no peito
Ao lado do coração.
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